Política
Publicado em 28/04/2016, às 12h44 Aparecido Silva (Twitter: @CydoSylva)
Um projeto de lei na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba) prevê a adição de fécula de mandioca ao pão, mas não tem aprovação entre os profissionais da panificação. A proposta já esteve em discussão em 2012, quando foi apresentada pelo então deputado estadual Mário Negromonte Júnior (PP), mas não foi digerida na Casa. Agora, a matéria reapareceu com a autoria do deputado Eduardo Salles, também do PP. Na manhã dessa quinta-feira (28), uma sessão especial foi realizada na Alba para debater o assunto e o parlamentar aproveitou para explicar sua proposta a agricultores, pesquisadores, técnicos agrícolas, engenheiros agrônomos, comerciantes e panificadores.
Apesar de o deputado afirmar ter reunido apoio de profissionais do setor de panificação, o presidente do Sindicato da Indústria de Panificação e Confeitaria da Cidade de Salvador (Sindipan) não encontra viabilidade no projeto do parlamentar. Florence Rodrigues explicou, em entrevista ao Bocão News, os pontos que tornam a proposta inviável. “É um projeto polêmico e que não agrada a ninguém. Não agrada ao consumidor e não agrada à panificação. Pelo projeto, só é permitido usar 10%, mas não fica muito bom, porque não tem glúten. E mais, a fécula da mandioca é mais cara do que a farinha de trigo, porque é um produto sazonal. Tem época que não se produz a mandioca por causa da seca”, explicou Rodrigues.
Outro ponto levantado pelo presidente do sindicato é a dificuldade que os moinhos terão para incorporar a fécula da mandioca à farinha de trigo. “Os moinhos não têm como introduzir fécula, porque é um processo muito complicado”, ressalta. Um gerente de um moinho consultado pela reportagem reforçou a tese do representante do Sindipan. Sem querer se identificar, o profissional que trabalha há dez anos na Bahia no setor de moinhos diz que as empresas enfrentariam um elevado grau de dificuldade para adaptar as estruturas necessárias para o processo de adição do nutriente à farinha de trigo. “É uma proposta inviável, tanto para a indústria, como para o padeiro que compra a farinha. Os moinhos teriam que mudar sua indústria, que é destinada a um tipo de processamento, para adequar à produção”, explicou.
As críticas ao projeto seguem a mesma linha das feitas em 2012 pelo próprio Sindipan, na época representado por Mário Augusto Pithon, e pelo Sindicato da Indústria de Trigo, Milho, Mandioca, Massas Alimentícias e de Biscoitos do Estado da Bahia (Sinditrigo).
Na época, Mário Pithon argumentou que as possíveis vantagens apontadas não se sustentam, já que o Brasil é grande importador de fécula de mandioca. “Este projeto é o mesmo que foi apresentado em Brasília [na Câmara dos Deputados] em 2001 e traz os mesmos erros ao desconhecer as possibilidades de mercado”, frisou. “Além disso, do ponto de vista nutritivo, enquanto a fécula de mandioca tem 1% de proteína, a farinha de trigo tem 7%, ou seja, 600% a mais, e a redução prejudicaria a qualidade da alimentação da população mais carente”, ressaltou Pithon.