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O que o corte de produção da OPEP representa para o mercado do petróleo

Imagem  O que o corte de produção da OPEP representa para o mercado do petróleo
Bnews - Divulgação

Publicado em 31/12/2019, às 17h45   Lucas Valladares*


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Desde dezembro de 2016, com a intenção de amenizar o excesso de oferta e estabilizar o preço do barril de petróleo, a Arábia Saudita articula acordos com países membros da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e também não-membros, incluindo a Rússia. De lá pra cá, esses acordos já foram revisitados e suas metas redefinidas várias vezes, pois surtiram o efeito desejado no mercado internacional, mesmo com um poder de mercado inferior do que a OPEP já teve anteriormente.

Na concepção desses acordos, um dos receios era com o não cumprimento dos limites máximos de produção acordados. Entretanto, apenas 8 dos 21 países participantes não reduziram sua produção aos níveis estipulados no mês de novembro, e esses 8 também representam uma parcela pequena do total produzido. A aderência dos países da OPEP aos níves estipulados esteve excepcionalmente alta durante todo o ano de 2019, sendo que a falha em aplicar os cortes nos patamares acordados veio, principalmente, da Rússia e do Cazaquistão. 

Os russos, responsáveis por mais da metade da redução entre os países não-OPEP, atingiram suas metas em apenas 3 meses ao longo do ano, porém sua aderência deve melhorar, já que a partir de 2020 poderá retirar a produção de condensados (produção residual de petróleo derivada da extração de gás natural) dos cálculos de conformidade. Isso significa que a Rússia pode administrar seu setor de gás sem medo de impactar seriamente o setor petrolífero, ou desperdiçar condensados para manter-se dentro do que foi negociado com a Arábia Saudita.

Ainda assim, outra renovação desse acordo ocorreu no começo de dezembro (para serem efetivados no 1º trimestre de 2020) e inclui países que representam 40% da oferta de petróleo bruto do mundo. O total do corte produtivo estipulado para janeiro ficou na faixa de 1,7 milhões de barris por dia (17,2% da oferta mundial total), com a Arábia Saudita indicando que pode frear a produção em mais 400.000 mil barris por dia, caso os outros países cumpram com suas reduções.

Essa diminuição produtiva tem efeito benéfico (já que eleva o preço do barril) para países exportadores, os quais dependem da receita derivada da venda de petróleo para satisfazer suas obrigações fiscais. O preço do petróleo Brent, tomado como referência internacional, subiu quase 15%, em relação ao seu ponto mais baixo neste trimestre, para quase $66 dólares o barril.

Todos esses fatores surtem efeito, também, na exportação de petróleo brasileira. Com a torneira de grandes países exportadores mais apertada, aparece a oportunidade para o Brasil, potencialmente, ocupar cada vez mais esse mercado com o excedente de petróleo bruto produzido nacionalmente, que já gira entorno de 200 mil barris por dia. Isso depende, em grande parte, do interesse nacional em assumir esse papel para competir no mercado internacional, que por sua vez, necessita do hábil uso de poder político para traçar um caminho que contorne os inevitáveis dilemas geopolíticos que aparecerem.

Um certo otimismo com relação às tensões da guerra comercial entre Washington e Pequim também ajudaram a elevar os preços. Enquanto a OPEP espera um mercado mais apertado no próximo ano com um pequeno déficit, a aliança formada pela Arábia Saudita ainda luta contra a produção não-convencional de petróleo norte-americano, que vem atingindo níveis recordes, com aproximadamente 8 milhões de barris por dia (mb/d), e 12,3 mb/d de produção total. Por isso a Agência Internacional de Energia ainda prevê um mercado com excesso de oferta no primeiro trimestre de 2020.

Em suma, esse cenário mostra que o mercado enxerga a possibilidade de grandes choques na precificação apenas se os países participantes do acordo, liderado pelos sauditas, não cumprirem com suas metas. Essa não aderência pode surgir a partir de uma necessidade de arrecadação para equilibrar as contas nacionais desses países. Fora isso, atrelada a perspectiva saudita de estabilidade do mercado ser mais importante que a elevação do preço, a expectativa é que o barril permaneça na faixa de $65 dólares.


* Lucas Valladares é pesquisador do Núcleo de Estudos Conjunturais (NEC) da Faculdade de Economia da UFBA. Graduando em Economia pela Faculdade de Economia da UFBA

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