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Culpado ou inocente, o Bolsonaro de 2018 acabou

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Leia o artigo do jornalista Henrique Brinco  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 13/05/2020, às 17h33   Henrique Brinco


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Aquela roupagem de "outsider" que Jair Bolsonaro vestiu na campanha eleitoral de 2018 não existe mais. Envolto em escândalos que vão desde uma suposta interferência na Polícia Federal e até mesmo uma falsa assinatura no Diário Oficial da União, o presidente da República viu a própria popularidade minguar desde as demissões do ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, e também do ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.

Sem partido, Bolsonaro vem perdendo apoio político e já afugentou os principais formadores de opinião que deram credibilidade ao governo nos últimos dois anos. Além disso, afrontou o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal (STF), a ciência e toda a grande mídia.

A pesquisa da XP Investimentos do final de abril mostra que 42% das pessoas avaliavam governo de Bolsonaro como "ruim ou péssimo". 24% das pessoas avaliaram de forma "regular", dando um total de 66% de insatisfação. Apenas 31% das pessoas avaliaram o mandato como "ótimo ou bom" e 3% não opinaram. O levantamento foi feito logo após a saída do ex-juiz e, desde então, os números tendem a ser piores com o avanço da pandemia do novo coronavírus e com a escalada sem freios do dólar.

As redes sociais, sempre determinantes para as ações do presidente, também apontam uma mudança na direção dos ventos. Dados da consultoria Bites, que começou a acompanhar as publicações de Bolsonaro no Twitter, Instagram, Facebook e YouTube desde 1º de setembro de 2017, apontam que, após a saída de Moro, o presidente começou a perder seguidores pela 1ª vez desde setembro de 2018. Nem mesmo os disparos do "Gabinete do Ódio" estão segurando a onda.

As acusações de interferência na PF são robustas e o Procurador-Geral da República, Augusto Aras (ele é baiano, inclusive), inevitavelmente deverá apresentar denúncia ao STF. O ministro Celso de Mello, por sua vez, terá que submeter para a Câmara Federal a decisão de abrir ou não um processo por crime comum. São necessários 342 votos dos deputados. 

Para garantir esse número num cenário de impopularidade crescente, Bolsonaro se verá obrigado a dividir o governo com o "centrão", abandonando as promessas de campanha contra o fisiologismo na política. E ele já está fazendo isso. O mensaleiro Roberto Jefferson, por exemplo, repentinamente, virou um dos principais apoiadores do Palácio do Planalto. O presidente está sem saída.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), também possui uma infinidade de pedidos de impeachment contra o adversário em sua mesa. O instrumento, no entanto, é um processo muito mais político do que jurídico. Ele não vai acatar nenhum deles sem conseguir os 342 votos necessários. Se o impeachment fosse rejeitado em Plenário, Bolsonaro governaria ainda mais forte e com a chancela dos parlamentares, tal como aconteceu com Michel Temer.

A divulgação do conteúdo do vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril, quando se ouviu ataques contra o STF e até mesmo a defesa da prisão de governadores e prefeitos pode acelerar esse processo de desgaste. O "centrão" só vai abandonar o barco quando não vislumbrar mais as benesses do governo.

Inocente ou culpado, com processo ou sem processo, Bolsonaro tende a ficar refém dos mesmos atores que roeram o Estado Brasileiro nas últimas décadas. Voltará atuar como o antigo deputado do baixo clero que permaneceu durante 27 anos no Congresso Nacional.

*Henrique Brinco é repórter de política do BNews e do jornal Tribuna da Bahia, tendo passado pelos principais portais de notícias do estado.

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