O Viaduto é 16 de maio: Registrar para não esquecer!

Neste 16 de maio de 2021 completa-se 20 anos de um dia que ficou marcado na memória de todos que lutaram, e ainda lutam, contra a censura, contra o autoritarismo e pela democracia em Salvador. Foi uma data, inclusive, que todos os veículos de imprensa noticiaram e acompanharam de forma responsável e profissional os fatos que a antecederam e a sucederam.

Naquele dia, em 2001, quem esteve em meio as mais de oito mil pessoas que pediam a cassação do então senador ACM, acusado de violar painel do Senado, viu de forma translúcida em território soteropolitano a ação de um governo nos moldes da ditadura militar.

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Éramos muitos e diversos em passeata na direção da casa do político, no bairro da Graça. Estávamos ali, entre sindicalistas, movimentos sociais, estudantes, professores e setores da sociedade civil, exercendo nossa liberdade de expressão. Era um basta à perseguição aos movimentos estudantis, sociais e aos sindicatos. Um basta à opressão, censura, falta de transparência, denúncias de corrupção, tentativas de silenciamento e ameaças oriundas do carlismo e de seus aliados.

Essa batalha foi vitoriosa, pois culminou com a renúncia do então senador no dia 30 de maio do mesmo ano. Mas para isto acontecer, sentimos no corpo a violência da força policial, sua truculência e ilegalidade naquele 16 de maio: bombas de gás lacrimogêneo, sprays de pimenta, espancamentos, cavalaria e tropa de choque. Vimos ali que o autoritarismo estava disposto a nos violentar para nos calar, mesmo nossa passeata sendo pacífica e objetivando mais democracia.

Todo esse cenário violento aconteceu no viaduto Nelson Sampaio, onde fomos surpreendidos pela Tropa de Choque. Nos arredores da Faculdade de Direito, que contrariando a Constituição Federal, foi invadida pela polícia militar, com parte de suas dependências destruídas, deixando estilhaços para todos os lados. Um verdadeiro estado de sítio que deixou marcas.  

No meu primeiro mandato como vereadora, em 2009, apresentei um projeto de indicação (71/2009) para que o viaduto passasse a se chamar “Viaduto 16 de maio”. O projeto foi aprovado pela Câmara à época, mas até hoje esta luta histórica na cidade de Salvador não teve seu devido reconhecimento.  Nomear oficialmente o  viaduto como ‘16 de Maio’ é reconhecer a luta contra o autoritarismo, contra uma sociedade elitista carregada de resquícios da escravidão, e pela democracia.

Passadas duas décadas, vivenciamos a nível nacional um ambiente político e social onde predomina o discurso de ódio, o autoritarismo, a negação da ciência, promovidos pelo governo federal e seus aliados. Garantir que nossa busca pela democracia seja reconhecida e esteja nos anais da história é um compromisso com as futuras gerações. Marcar e registrar para que nunca mais se repita: Salvador merece.

* Marta Rodrigues é vereadora pelo PT e presidente da Comissão de Direitos Humanos e Democracia da Câmara de Salvador