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Terceira via é pouco provável que vingue na Bahia, mas...

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Enquanto Wagner, que tem mostrado precisar da “muleta Lula” para avançar nas casas do tabuleiro, sonha com este horizonte de Lula contra Bolsonaro, ACM Neto tenta evitar este pesadelo  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 09/06/2021, às 07h40   Rodrigo Daniel Silva


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Que o ministro da Cidadania, João Roma, quer ser candidato a governador da Bahia no próximo ano, pouca gente duvida disto hoje. Como bem observou Elio Gaspari, certa feita, quando um político não quer entrar na roda eleitoral faz como o general americano William Sherman: "Nunca fui e nunca serei candidato a presidente; se for indicado, recusarei a candidatura; e mesmo que venha a ser eleito por unanimidade, não assumirei o cargo".

Ou faz como ACM Neto quando é especulado para ser vice de Bolsonaro. “Não serei vice de ninguém”, garante. Ou faz como Jaques Wagner quando foi cotado para ser candidato a prefeito de Salvador em 2020. “Esqueçam!”, sentenciou ele, ao ser questionado. Roma não adota esta postura. Pelo contrário, Roma inflama mais a chama da especulação. “Não dá para desprezar a última pesquisa”, disse, ao se referir ao levantamento que o apontou com 15% das intenções de votos.

“Mas teria Roma alguma chance eleitoral?”, questiona o leitor. Se olharmos em retrospecto, diríamos que não. Os últimos três nomes que tentaram ser uma terceira via na Bahia fracassaram. O caso mais recente é de Lídice da Mata. Candidata pelo PSB ao Palácio de Ondina em 2014, saiu das urnas com 6,62%. Quatro anos antes, Geddel Vieira Lima, que havia acabado de deixar o ministério de Lula, amargou um terceiro lugar com 15% dos votos. Em 1994, Jutahy Magalhães Júnior também tentou ser uma terceira via, porém, não conseguiu nem 15% dos sufrágios válidos.

“Mas, desta vez, a terceira via teria o apoio do presidente da República, diferente dos casos de Lídice, Geddel e Jutahy”, rebate o leitor. É verdade. É verdade também que Roma tem mostrado habilidade no uso da máquina federal para viabilizar sua candidatura. No meio político, muitos dizem que outros nomes bolsonaristas cotados para a disputa não teriam o mesmo desempenho na pesquisa. Mas só um cataclismo eleitoral faria um candidato de Bolsonaro a governador na Bahia ter 50% dos votos mais um para vencer o pleito. Só um eleitor, com a fé de Abraão, para acreditar nesta possibilidade. Levantamentos mostram que 60% dos baianos rejeitam o governo Bolsonaro. Salvador – principal colégio eleitoral – é a capital onde o chefe do Planalto tem a menor aprovação.

No entanto, uma eventual candidatura de Roma parece ter três consequências no cenário eleitoral baiano. A primeira é ocorrer uma nacionalização ainda maior da eleição da Bahia. A segunda é retirar votos de ACM Neto. A consulta eleitoral demonstra que o núcleo duro de apoio a Bolsonaro migrou para Roma. Estes eleitores votavam em Neto para barrar uma vitória do PT. Agora, o democrata virou uma segunda opção dos bolsonaristas. Neto fez duas movimentações recentes que parecem tentativas de recuperar este eleitorado: 1) salvar o mandato de Capitão Alden e 2) “permitir” que o prefeito Bruno Reis se reunisse e gravasse um vídeo com Bolsonaro.

O PT é o principal incentivador hoje da candidatura de Roma para impedir uma vitória no primeiro turno do democrata E aí temos uma terceira e última consequência que é empurrar o pleito para o segundo turno, que não ocorre na Bahia desde 1994. O que pode colocar ACM Neto na enrascada de ter que decidir entre apoiar Lula ou Bolsonaro, se, de fato, este panorama nacional se concretizar. Se optar por Bolsonaro para ser um contraponto a Wagner, correrá o risco de perder o eleitor moderado.

Enquanto Wagner, que tem mostrado precisar da “muleta Lula” para avançar nas casas do tabuleiro, sonha com este horizonte de Lula contra Bolsonaro, ACM Neto tenta evitar este pesadelo.  

* Rodrigo Daniel é jornalista, repórter da Tribuna da Bahia e mestrando de Comunicação e Política pela UFBA. 

** Artigo publicado simultaneamente no jornal Tribuna da Bahia 

Classificação Indicativa: Livre

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