Política
Publicado em 27/05/2019, às 06h12 Eliezer Santos*
Bolsonaro começa a semana com fôlego renovado. Tem na mesa o saldo das mobilizações nas ruas a seu favor, mas ainda não sabe os efeitos práticos disso na relação espinhosa com o Congresso.
A pressão popular para aprovação das reformas chegará ao parlamento contaminada pelo tom radical que emissários do PSL injetam na militância e pode provocar reação contrária.
Ironicamente, boa parte da turma que reclama que o fisiologismo não deixa Bolsonaro governar, está aliançada regionalmente com partidos do Centrão.
Aqui em Salvador, líderes do PSL tentaram blindar o prefeito e presidente nacional do Democratas, ACM Neto, dos ataques de uma ala bolsonariana. Houve até acusação de que os tais barraram a circulação de um trio elétrico de um grupo que estava com a mira em Neto. Eles negam que tenham operado nesse sentido.
Na primeira prova de fogo, o PSL dividiu-se internamente, apontou armas para grupos que foram aliados na campanha eleitoral, como MBL e Vem Pra Rua, e mostrou avidez pelo protagonismo na direita, tal como fez erroneamente o PT no campo progressista nos últimos anos - em especial na insistente candidatura de Lula em 2018.
De qualquer sorte, as manifestações trouxeram duas alegrias a Bolsonaro: a primeira pelo afago público de súditos depois de semanas turbulentas; e a segunda, talvez a mais importante, porque os atos reconduziram o mito ao seu habitat natural - o do confronto.
Já deu para notar que fôlego dele na presidência depende, entre outros percalços, da projeção de um inimigo ao qual ele possa atribuir ato conspiratório contra o desenvolvimento da nação. Assim, mantém o agito e despista sua inabilidade para desenrolar cenários complexos - coisas rotineiras ao exercício presidencial.
Em terreno livre, Bolsonaro empaca.
Sem o petismo no horizonte, o movimento se concentrou numa batalha sangrenta entre setores do polo governista e simpatizantes. Destaque para o escárnio feito contra os presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre (ambos do DEM), acusados de orquestrar a velha política e tocar agendas paralelas ao pensamento Bolsonaro.
As consequências disso estarão nas cenas dos próximos capítulos.
Resguardadas as gigantescas proporções, os conservadores estão - tal qual faz a oposição - girando em torno da mesma montanha esperando enxergar paisagens diferentes.
O fiapo na garganta da democracia é que as ruas precisam ser respeitadas e consideradas, mesmo quando submetem discussões fundamentais a simpatias e averssões aos ídolos, quer estejam eles em Brasília ou Curitiba.
*Eliezer Santos é jornalista e escritor
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