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"Está na hora de o PT presidir a Assembleia Legislativa", enfatiza Anunciação

Imagem "Está na hora de o PT presidir a Assembleia Legislativa", enfatiza Anunciação
Em entrevista ao BNews, o dirigente petista fala sobre as estratégias do partido para o pleito de outubro e não economiza críticas ao prefeito ACM Neto  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 25/08/2018, às 06h55   Aparecido Silva


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Nas eleições de outubro, o eleitorado baiano elegerá, dentre outros representantes, os seus deputados estaduais. Das urnas, sairá, também, o futuro presidente da Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA), Casa que o PT nunca administrou desde que foi fundado em 1980. Em entrevista ao BNews, o presidente do partido na Bahia, Everaldo Anunciação, afirmou que este é o momento de a legenda comandar o Legislativo estadual. 

No bate-papo, Anunciação não economizou ataques ao prefeito ACM Neto (DEM), principal líder da oposição atualmente. O dirigente admitiu, também que aliados dentro do governo Rui Costa (PT) demonstram insatisfação com o tamanho que o PSD, do senador Otto Alencar, está tomando no grupo. 

A entrevista com Everaldo Anunciação é a segunda da série feita pelo BNews com presidentes de partidos que estão com candidatos concorrendo a cargos majoritários nestas eleições.

O petista evita tratar como fácil a eleição deste ano, em que o governador Rui Costa tentará a reeleição e desponta como favorito nas pesquisas de intenções de votos.

Confira a entrevista:

BNews - Essa será a primeira eleição presidencial com mudanças na lei eleitoral. O fim do financiamento privado é uma das principais alterações. O partido tem encontrado dificuldade em gerir suas candidaturas com recursos do fundo partidário e do fundo de financiamento? 

Everaldo Anunciação - Veja bem. É uma eleição diferenciada. Não temos tradição, no Brasil de fazermos eleição nestes moldes de financiamento público, tempo de campanha reduzido, uma série de aparatos que sai de cena como carros de som, placas. Para nós do PT, há um ganho. É tirar a figura privada empresarial das eleições. Isso demonstrou ser um mal para a política. Você tinha empresários financiando campanha e depois exigindo que a prefeitura ou o governo do estado e até o governo federal ficasse a serviço deles. Quer dizer, criando um processo em que público, que deveria servir aos interesses da população, passa a atender o interesse particular. A gente vê muitas cenas pelo Brasil de empresários que financiaram prefeitos e na hora do transporte escolar, como a gente tem visto, é de péssima qualidade. A figura do financiamento público, ainda que seja um elemento novo para a sociedade também, acho que é um ganho. É preferível que a sociedade pague uma campanha e possa cobrar ética dos seus candidatos do que ter um empresário ditando as ordens. A gente do PT, que tinha uma tradição histórica de trabalhar nas campanhas, de estar fazendo os cacarecos, tendo a participação da militância, acho que retoma... é educativo para o PT, para a sociedade, e estamos apostando nisso. Essa campanha tem um elemento importante, pois o ser humano vai ter que ser o centro. Ou seja, o recurso humano na campanha, que alguns chama de cabos eleitorais e a gente chama de militantes, vão ter um papel. E isso fará a diferença no PT, porque o partido tem um exército de pessoas comprometidas com o social, com a solidariedade, com a democracia. Esse exército em campo acho que dá a estabilidade para Lula estar em primeiro lugar, de Rui estar liderando as pesquisas, todos associados a um projeto para o país.

BNews - No cenário baiano, pesquisas mostram que Rui Costa seria reeleito no segundo turno. Há o entendimento de que essa eleição para Rui Costa será de vitória fácil diante da conjuntura da oposição, que não tem o prefeito ACM Neto concorrendo ao governo?

Everaldo Anunciação - Não. Não tem eleição fácil. Todas as eleições têm suas características e suas dificuldades. Como falei há pouco desse diferencial, a gestão de Rui seguida da gestão de Wagner é uma demonstração de que a Bahia encontrou seu caminho. O caminho do exercício da democracia. Assim como também encontrou o caminho da boa gestão, do recurso público servindo a quem interessa. Não é qualquer coisa o país estar vivendo um grande desemprego e você ter um governo que investe na juventude e gera emprego. Você tem uma grande crise na saúde, Salvador hoje é a pior capital brasileira na atenção básica de saúde. No estado, você tem toda essa proliferação de policlínicas, de ampliação de hospitais, de maternidades, você tem programas que terminam criando essa condição. Rui fez com que o prefeito recuasse. Aliás, uma coisa ruim para a política. Porque quando um líder abandona o grupo, é sinal de que a política não é uma coisa coletiva. São os interesses individuais acima dos interesses coletivos. Acho que isso é ruim para a política. Claro que isso cria uma disputa mais favorável para Rui Costa, porque os nomes colocados ai não têm uma história de políticas para o estado. São candidaturas regionalizadas, como o ex-prefeito de Feira de Santana, que fica naquele raio de intervenção. Mas acho que o mérito maior que vejo nisso é que a sociedade cansou da política da Arena, que passou a PFL, que passou a DEM, do PSDB, do PMDB. Então, não estou discutindo somente a questão da corrupção, que a sociedade conseguiu generalizar apesar de ter diferenças. A sociedade cansou dessas políticas de alguém que pensa para fazer patrimônio, de construir redes de televisão, para construir propriedade privada no exercício da coisa pública. Então, acho que o DEM, o PSDB, o PMDB cansaram a esperança do povo. O povo acho que está querendo dar uma oportunidade ao PT que corrija seus erros, mas que enquanto projeto político é aquele com o qual se identifica. Isso cria um ambiente bom para a chapa e para a unidade dos partidos da base aliada, que vem desde Wagner se consolidando. Isso vai criando uma estrutura para você ter uma caminhada mais tranquila. 


BNews - O fato de ACM Neto não ter entrado na disputa fez com que o PT mudasse sua estratégia em algum momento para a eleição?

Everaldo Anunciação - Tenho dito, e é comum na política, que a gente não escolhe adversário. Nós tínhamos a decisão de Rui Costa e João Leão irem para a reeleição. A nós, não cabia definir quem seria o candidato. Esperávamos que fosse ele por tudo isso, por que era uma disputa que cria essa característica nacional. Ele é um jovem de ideias velhas que está associado ao governo Temer. Ele tem prática de, no exercício da política, fazer alianças mesmo que prejudique o seu povo. Como foi o caso de se aliar e botar os deputados federais dele para votar a favor da continuidade do governo Temer, em contrapartida que fosse bloqueado o dinheiro para construção de estradas e cuidar da saúde do povo baiano. Era interessante a gente ter essa disputa, ver o que que o povo da Bahia tem a dizer. Já está dizendo de uma forma antecipada, mas não escolhemos. Porque também se a gente transformar a política em coisas pessoais, na personagem, fica difícil falar em futuro. Ele e Zé Ronaldo representam a mesma coisa, um mesmo projeto, pensam iguais sobre um país que sirva a uma minoria. Foi historicamente assim, eles faziam um país para cuidar deles e das pessoas próximas a eles. E não muda na personagem, seja Zé Ronaldo ou ACM Neto, ou Bruno Reis. São do mesmo pensamento. Como nós somos um mesmo pensamento, Lula é o mesmo pensamento de Haddad, que é mesmo pensamento de Gleisi Hoffmmann, que é o mesmo de Rui Costa. Essa concepção está dentro da gente. É com isso que a gente vai disputar. Não se pode trazer a política para a raiva com questões pessoais. Nós vamos decidir agora o futuro de um país e do estado. Não estamos discutindo quem é mais bonito ou quem fala melhor. O debate é que estes difíceis recursos públicos que são arrecadados, como podem servir para retirar essa meninada que está na rua, nas sinaleiras. Se você andar na Bahia hoje, você vê, em todas as cidades de 10 mil ou 20 mil habitantes, ou de mais de um milhão, como Salvador, como cresceu o número de jovens usando crack sem perspectiva de emprego, a quantidade de pessoas que estão sem habitação sem o programa Minha Casa Minha Vida. A quantidade de jovens que abandonaram o ensino público porque o Fies teve os recursos reduzidos. É esse debate que a gente tem que fazer. Essa é a construção. Infelizmente, a televisão que estimula a participação sobre país que você quer não abre a perspectiva de ouvir as pessoas de uma forma clara e democrática. Eu penso que o candidato é claro que tem peso, não podemos jogar também na lata do lixo uma cultura popular que se referencia na personalidade. Mas para nós do PT, não é a figura que vai disputar, mas o projeto. Nós queremos derrotar o projeto que o DEM representa para a sociedade brasileira.

BNews - O PT trabalha com a possibilidade de fazer quantos deputados federais e estaduais?

Everaldo Anunciação - Nós montamos a estratégia assim, da experiência de Jaques Wagner para cá, fizemos a maioria de deputados estaduais e federais. A Bahia tem 39 vagas para federais e 63 para estaduais. Desde 2006, a base aliada faz a maioria. Então, o primeiro objetivo é este. A maioria é para no Congresso Nacional você defender os interesses do seu governo. Não pode ter lá deputados que queiram votar a reforma da previdência, a reforma trabalhista, vender a Petrobras, a Eletrobras, pois estas são experiências negativas. Na Assembleia, também. Para dar lastro ao governo Rui Costa em ele sendo reeleito. Agora, é óbvio que cada partido quer garantir uma bancada maior. O PT tem sido o partido que mais elege federais e mais elege estaduais. Em 2014, elegemos oito federais e 11 estaduais. Estamos querendo manter isso. E não somente o PT, acho que é justo que os partidos da base aliada mantenham seu tamanho. Como acho que a oposição vai decrescer, vai diminuir, acho que não teremos disputa entre nós, mas brigando pelos votos de lá, daqueles deputados que votaram contra o povo. Acho que a gente tem que tomar as vagas deles. Tomar, não no sentido pejorativo nem autoritário, mas é direito. Se o povo não os quer, estas vagas têm que vir para a gente.

BNews - O processo de formação da chapa de Rui Costa culminou na exclusão de Lídice da Mata da majoritária. Ela mesma diz que foi excluída e que o PT atendeu a pleitos do PSD. O partido se sente, de alguma forma, em dívida com Lídice pela atuação que teve, por exemplo, em defesa de Dilma e de Lula?

Everaldo Anunciação - Assim, antes de tudo, nós no PT temos um respeito extraordinário por Lídice da Mata. É uma das poucas mulheres da política brasileira que tem retidão na sua vida e que tem compromisso com a maioria da população. Eu diria até que Lídice é filiada ao PSB, mas tem um sangue que circula nas veias dela que tem tudo a ver com o projeto que o PT defende. Eu tenho algumas observações, porque as eleições passam e as pessoas esquecem. Por exemplo, em 2010, na reeleição de Wagner, com as duas vagas, o primeiro nome que o PT defendeu foi o de Lídice para senadora. Nós não pleiteávamos a vaga, que depois passou a ser de Walter Pinheiro. Defendíamos que para governar era possível fazermos uma aliança e dividir com o centro, fazer uma aliança de centro à esquerda. A esquerda era Lídice, nós abrimos mão de ser um nome do PT, tínhamos e temos quadro desde 2010 que poderiam ser, mas nós optamos por Lídice. A segunda vaga nós propomos a César Borges, que foi mal influenciado na decisão e perdeu, por isso Pinheiro entra. Então, o PT não tem essa ambição de querer todos os espaços ou de ter uma ideia de excluir alguém. Nós incluímos ela em 2010 e nos excluímos para construir a unidade. O que aconteceu agora, é a política. Ela não é feita apenas das intenções das pessoas, há um conjunto de elementos para se juntar. E a gente não pode negar o crescimento do PSD na política baiana. Acho que aquilo Wagner pensou em 2010 de recolocar Otto na política, colocá-lo como vice e depois senador, ele mostrou competente e capacidade d eorganizar o seu partido no estado. Isso o credenciou para fazer o pleito. Obvio que muita gente da esquerda tinha essa relação com Lídice, mas a gente não pode negar a fidelidade do PSD e do PP com o PT em momentos importantes para nós. Olhe na hora do impeachment, a Bahia foi o único estado em que a base aliada toda se manifestou contra o impeachment. O PSD foi lá e avalizou isso. O PP avalizou isso. O PR e o PDT da Bahia avalizaram. A gente não pode ter ingratidão com quem foi tão grato a nós em um momento crítico em que se dizia se o prefeito da capital iria disputar a eleição do estado, ou não, contra nós, e ele tentou por diversas vezes cooptar estes partidos, eles disseram não a ele. Disseram sim a Rui Costa. A gente não pode, porque segundo dizem as eleições ficaram mais fácil, impor a eles a condição de ter dois candidatos da esquerda ao Senado, mesmo eles tendo demonstrado essa fidelidade. Acho que Lídice será uma extraordinária deputada e continuará dando sua valorosa contribuição na Câmara dos Deputados. 

BNews - O tamanho do PSD dentro do governo Rui incomoda o PT ou algum do grupo? 

Everaldo Anunciação - Eu não vou ser hipócrita, eu ouço pessoas preocupadas com isso. Para mim, é uma concepção atrasada. Porque a disputa hoje não é se você tem mais ou menos tão somente. Esse mais vai fazer efeito se ele for capaz de hegemonizar, se for capaz de ganhar mentes e corações. O PT já teve 90 prefeitos, reduzimos para 40. Quando disputamos as eleições de 2016, a aprovação do PT caiu, e agora com 40 nós crescemos. Hoje somos aprovados por 29% do povo baiano. Por quê? Porque o povo despertou para um projeto. Óbvio que a balança tem que ter equilíbrio, não é bom que o PT sozinho passe a ter uma maioria, acho que é bom distribuir PT, PSD, PP, que são os três principais partidos, mas os demais não podem virar apenas satélites. Rui foi capaz de construir um governo em que todos foram contemplados. 

BNews - No âmbito nacional, o PT leva a candidatura de Lula até último minuto possível. Há quem diga que é uma estratégia equivocada, pois esse tempo já deveria estar sendo utilizado para levar o nome do que seria o substituto de Lula. Você acha que é uma estratégia acertada? 

Everaldo Anunciação - Tem um amigo nosso no PT que diz assim: ‘a política é uma ciência diferente das demais’. E dá um exemplo: ‘se você for no médico e ele lhe passar um exame de sangue e aparecer lá que seu açúcar está em 500, o médico vai dizer que ou você muda sua alimentação, vai fazer exercício e tomar uma medicação, ou então você vai morrer. Você, óbvio, vai fazer isso porque não tem outro caminho. Na política, é diferente. Alguém poderia dizer que era melhor o PT já anunciar um candidato substituindo Lula. Essa pessoa pode estar certa. Como pode ter outra tese de que não, vamos até o fim com Lula. E pode estar certa também. A política não é uma ciência exata. O centro da candidatura de Lula é algo que interessa a sociedade como um todo, do grande empresário ao gari. É a democracia. O que estão fazendo com Lula é um absurdo. Nós estamos trabalhando, vamos esperar o julgamento, não podemos abandonar a justça, se a gente jogar a Justiça na lat ado lixo ocmo estes juzies estão jogando, perde referência para a sociedade. Vamos nos referenciar em quem? Queremos respeitar e empoderar a Justiça. É possível tirar juízes que fazem política de lá de dentro. O sentimento é que nós vamos disputar o segundo turno e com a esperança de que a democracia tem que sair fortalecida nesse processo. 

BNews - Em sua opinião, o PT vai para o segundo turno com quem? Não é uma questão de preferência, mas de análise. 

Everaldo Anunciação - Neste momento, eu penso que os 15% que defende a ditadura militar, a pena de morte... Eu vejo no Alckmin uma dificuldade muito forte por tudo que eles representam. Se aliaram, não conseguiram mascarar a relação deles com Temer, apesar da candidatura de Meirelles. A sociedade está identificando isso. Eles têm a prática de usar a máquina, a rede Globo, a Folha de S. Paulo, uma série de aparatos que é deles para tentar desmontar a imagem daquilo que não os interessa. A parte destes setores produtivos não interessa pessoas como Bolsonaro. Não pela pessoa em si só, mas o que ele defende de concepção é que leva o país para um retrocesso absurdo. O projeto dele de nação exclui a maioria da população, os negros, indígenas, mulheres, LGBT. Eu diria ainda que é um cenário duvidoso para esta disputa, mas acho que haverá muita dificuldade para o Centrão se consolidar. Se você pegar a maioria dos estados, ele está diluído. 


BNews - Passadas as eleições, outra disputa deve se intensificar na política estadual. É a corrida pela presidência da AL-BA. O PT tem interesse em colocar um nome à disposição?

Everaldo Anunciação - Acho que está na hora de o PT presidir a Assembleia Legislativa. Desde 2006, o PT faz maioria no Legislativo se tratando de bancada. O PT tem nomes, tem quadros preparados para isso. A relação nossa com Marcelo Nilo e Angelo Coronel é muito boa, mas acho que está na hora de experimentar o PT que deu certo no governo da Bahia e pode fazer uma contribuição boa na Assembleia Legislativa. Agora, óbvio que isso não é só vontade, precisa da capacidade de se construir isso coletivamente , convencer os pares, mas sobretudo da relação com a sociedade. 

BNews - Nos bastidores, já se fala no nome de Rosemberg Pinto. Seria um quadro favorito?

Everaldo Anunciação - É um grande deputado, tem demonstrado uma capacidade de articulação na bancada e na Assembleia. Mas acho que não cabe... para a gente escolher, precisa construir uma concepção daquilo que a gente pode melhorar na Assembleia. A gestão de Marcelo do ponto de vista da estabilidade política foi muito boa, Angelo Coronel deu uma outra contribuição, mas é óbvio que na política tem espaço para se contribuir e Rosemberg tem ideias boas. Mas acho que não devemos partir primeiro do nome, mas sim das ideias. Elas podem se unificar e terem o nome de Rosemberg ou algum outro nome, se consenso. Penso que é um bom assunto para depois das eleições, depois das comemorações, a gente pensar nas eleições da Assembleia Legislativa. Porque o povo está cobrando um parlamento mais relacionado com a sociedade.

Classificação Indicativa: Livre

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