Entrevista

"A oposição tem o direito de voto", diz João Leão sobre briga na AL-BA

Imagem "A oposição tem o direito de voto", diz João Leão sobre briga na AL-BA
Vice-governador fala sobre cena política local ao BNews  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 09/01/2021, às 20h17   Victor Pinto e Henrique Brinco


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O vice-governador João Leão segue soltando declarações polêmicas a respeito da eleição na Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA) dando sinais sobre o futuro do Progressistas (PP) na Bahia. Em entrevista ao BNews, o braço direito do governador Rui Costa (PT) agora encampa o discurso de que a oposição tem o direito ao voto.

"O voto na urna quem vai colocar é cada deputado. Que os deputados da Assembleia decidam quem é o presidente. A questão de dizer 'não, nós queríamos fazer uma eleição só  na base' está errado. A oposição tem o direito de voto", declara.

Conforme vem sendo informado, o PP está se articulando há meses para tentar a permanência da Presidência, hoje comandada pelo deputado Nelson Leal (PP). Nos bastidores, até a publicação desta entrevista, Niltinho é apontado como favorito para o posto. Contudo, muita água pode rolar até fevereiro.

No papo, o vice-governador ainda tece comentários sobre a eleição de 2022, que deve contar com o prefeito ACM Neto (DEM) disputando o Governo do Estado contra um candidato do grupo petista - que Leão, no momento, apoia.

Leia na íntegra:

BNews - A pergunta de 1 milhão de dólares é sobre a Assembleia Legislativa da Bahia: até fevereiro será essa romaria em torno do novo presidente? O que passa na cabeça de João Leão, como principal cacique do PP? A gente está vendo aí uma cisão entre PSD e PP? 

João Leão - A Assembleia da Bahia é um problema dos deputados. Os deputados é que vão votar. Rui Costa não vota; João Leão não vota; Otto Alencar não vota; Jaques Wagner não vota; e nem ACM Neto vota. Quem vota lá, para escolherem o seu líder maior, são os deputados estaduais. Então, isso é uma questão dos deputados. Se eles decidirem por Niltinho, que é do PP, ótimo; se eles decidirem pelo Vitor [Bonfim], do PL, ótimo; se decidirem por Fabrício [Falcão], do PCdoB, ótimo; se decidirem pelo candidato PDT, Samuel Júnior, ou decidirem pelo do PT, que é Rosemberg, ótimo; ou se decidirem pelo de Otto Alencar e do PSD, que é Adolfo Menezes, ótimo. Agora, esse ótimo, quem vai decidir são os deputados. Não adianta João Leão dizer se vai ser fulano ou cicrano. A questão do acordo, o que aconteceu foi o seguinte: Rui chamou para uma conversa quatro deputados e lá disse que o presidente da Assembleia, primeiro, seria Nelson Leal. Ora, Nelson Leal iria dizer que não quer? Lógico que ele disse que queria. Então, acordo é voto na urna. O voto na urna quem vai colocar é cada deputado. Que os deputados da Assembleia decidam quem é o presidente. A questão de dizer 'não, nós queríamos fazer uma eleição só  na base' está errado. A oposição tem o direito de voto.

"Então, acordo é voto na urna. O voto na urna quem vai colocar é cada deputado. Que os deputados da Assembleia decidam quem é o presidente"

BNews - E a oposição também tem o direito de lançar o candidato...

João Leão - Tem o direito de lançar o candidato, lógico. Cada deputado da Assembleia Legislativa pode ser um candidato. Cada um.

BNews - Mas a tendência que a gente vê na Assembleia é, dificilmente, se eleger um candidato à Presidência sem ter o aval do governador...

João Leão - Não existiu isso. Nelson Leal, quando foi chamado por Rui Costa para uma conversa, já tinha costurado a Assembleia toda. Por que ele foi o escolhido?

BNews - Se Rui tivesse escolhido outro nome em 2018, Nelson Leal ainda assim teria sido o presidente? Independente de Rui?

João Leão - Independente de Rui. Não adianta o governador, vice-governador ou senador querer mandar nos votos da Assembleia. Isso não existe. Os votos são dos deputados da Assembleia Legislativa.

BNews - O senhor fala que cada deputado é que vai votar, mas creio que deve ter orientação. Acho muito difícil uma bancada não consultar os caciques para saber como o caminho deve ser percorrido. Demorou muito no PP a tese de que Nelson Leal deveria ser candidato à reeleição, o que foi sepultado depois no STF.

João Leão - O deputado Nelson Leal fez um grande mandato. Primeiro, na arrumação da Casa com o primeiro ano de mandato dele. No segundo ano de mandato dele, vem a pandemia. Na Assembleia, não houve sessões e nem absolutamente nada. Então, nós queríamos e Nelson Leal queria. Tanto que ele tinha a maioria absoluta dos deputados. Depois veio a votação da constitucionalidade da reeleição. Hoje é aquela história: pode haver reeleição ou não pode. Nelson Leal poderia [se reeleger e] estar sub judice. Depois, houve uma decisão dizendo que os deputados não têm direito à reeleição [na Presidência]. Essa decisão foi para a Câmara e para o Senado, mas por tabela vêm de lá para cá. Então, teríamos uma candidatura sub judice. Os deputados dos partidos sentaram e escolheram o deputado Niltinho para representar o partido. O candidato Niltinho é o candidato de Nelson Leal.

BNews - Mas há quem ainda ache que Niltinho não é o nome do grupo de Nelson justamente por figurar, por exemplo, Vitor Bonfim que já chegou a ser ventilado como o possível sucessor de Nelson. Como chegou a ser ventilado ainda o nome do deputado Robinho, que não teve a simpatia do governador Rui Costa. Por que demorou tanto para sacramentar Niltinho?

João Leão - Não é a simpatia do governador Rui Costa. Olhe, vou lhe dar um exemplo: o deputado Robinho é presidente da Comissão de Orçamento. O orçamento entrou lá e ele aprovou em 48 horas, com unanimidade de todos os parlamentares da comissão dele. O governador não quer um deputado como Robinho? Lógico que quer. O que aconteceu foi o seguinte: os deputados do PP escolheram para lhes representar o deputado Niltinho. Estava aí no jogo do PP o deputado Niltinho, o deputado Antônio Henrique e o deputado Robinho. Robinho e Antônio Henrique votaram em Niltinho. 

BNews - Então, Niltinho não é um boi de piranha? Não surgirá outro nome aos 45 minutos do segundo tempo, vindo do grupo de Nelson Leal?

João Leão - Não existe isso, não existe isso. O deputado Vitor Bonfim é um grande deputado e tem grandes condições de ser o presidente da AL-BA. Mas, nas conversas, foi escolhido o deputado Niltinho para representar.

BNews - O senhor disse que não houve acordo, mas o governador quer um "presente de aniversário" no próximo dia 18, com um consenso na base. O senhor acha que há tempo para ter um novo acordo?

João Leão - Acho que o timing passou. Nós vamos dar um grande presente de aniversário... Os deputados da Bahia vão dar um grande presente de aniversário ao governador Rui Costa escolhendo um deputado equilibrado, que tenha todas as condições de comandar a Casa, que é o deputado Niltinho.

"Os deputados da Bahia vão dar um grande presente de aniversário ao governador Rui Costa escolhendo um deputado equilibrado"

BNews - O deputado Adolfo Menezes não pode ser um nome?

João Leão - Não sei, não sei. Pode até ser. Quem sabe, se depois, nessas conversas todas, Adolfo não ganha a eleição?

BNews - Caso o PP não seja contemplado, seria motivo de algum racha com vistas em 2022? Porque existem comentários dizendo que Otto e Leão querem ser candidatos a governador e que a disputa na Assembleia já é uma medida de forças.

João Leão - Ao contrário. Se ganhar o deputado ligado a que partido for, vou ligar para o deputado e para o presidente do partido dando os parabéns. E depois vamos todos juntos comemorar. [Vamos] Oferecer até um jantar lá no Palácio de Ondina junto com o governador Rui Costa.

BNews - Como está a articulação do PP para a Presidência da União dos Partidos da Bahia (UPB)? Otto Alencar já disse que o PSD não vai entrar na briga e o PP tem seis nomes.

João Leão - Acho que naturalmente os prefeitos da Bahia irão escolher o seu representante natural. Quando você quer se meter em muita coisa, você termina sem nada. Então, deixa os prefeitos. É a mesma coisa que eu digo na Assembleia. Deixa os deputados decidirem.

BNews - Sobre Reforma Administrativa, o governador Rui Costa disse que vai acontecer "paulatinamente" agora entre janeiro e fevereiro uma mudança no primeiro escalão dele. PL, PDT e Podemos se aproximaram da Prefeitura de Salvador e do ex-prefeito ACM Neto. O que o vice-governador acha disso? Está aberta a possibilidade de acender duas velas, uma para o DEM e outra para o PT?

João Leão - Vou responder plagiando o governador Rui Costa: panela que muita gente mexe a colher, o angu desanda. Então, esta panela tem uma colher só, que é a do governador Rui Costa. Reforma administrativa é o governador quem vai decidir.

BNews - Mas o senhor concorda com esses partidos que acende vela para a Prefeitura de Salvador e outra para o Governo do Estado?

João Leão - Acende uma vela para Deus e outra para o diabo. Então, eu acho que isso aí é muito subjetivo. Às vezes você tem um vereador que é eleito pelo PDT e vai apoiar o Bruno Reis. Isso é natural no mundo. Quantos vereadores do PT estão apoiando o DEM e as administrações que foram eleitas agora? Quantos vereadores do DEM estão apoiando os prefeitos do PT? Isso é natural, é do mundo político. O vereador precisa da figura do prefeito para fazer as suas obras e seu programa.

BNews - O PP está satisfeito com o espaço que tem na administração do governador Rui Costa?

João Leão - O PP não quer mais nada. O que nós temos está muito bom, obrigado. Somos parceiros do governador Rui Costa.

"O PP não quer mais nada. O que nós temos está muito bom, obrigado. Somos parceiros do governador Rui Costa."

BNews - Articulação com Brasília. Está uma confusão no Congresso porque o DEM, o PT e uma ala da esquerda têm feito uma frente ampla em favor de Baleia Rossi (MDB). E do outro lado tem Arthur Lira (PP), que é tido como o candidato de Bolsonaro. Como está vendo essa disputa?

João Leão - Logicamente, eu por ser do meu partido, tenho Arthur Lira como meu candidato. Se eu puder arrumar votos para Arthur Lira, apoio Arthur Lira. Mas é a mesma coisa que disse antes sobre a AL-BA: o presidente da República, Jair Bolsonaro, não tem que se meter na eleição. O presidente Fernando Henrique tinha a escolha de um determinado candidato a presidente da Casa e o próprio partido dele elegeu outro. No final, Aécio Neves foi o candidato e ganhou. O presidente queria um e Aécio ganhou. Então, isso é relativo. No parlamento, ganha o deputado que tem a melhor convivência com outros colegas. Vai ser assim na Câmara dos Deputados, no Senado e aqui na Bahia, na Assembleia Legislativa.

BNews - Para 2022, há um caminho apontado? Acredita que o nome de Jaques Wagner consegue pacificar todas as forças?

João Leão - Ainda tem muita água para passar por debaixo da ponte. Temos muito tempo para conversar. Wagner é um excepcional candidato, como Otto também o é.

BNews - ACM Neto chega com força na candidatura ao Governo do Estado?

João Leão - A questão de ACM Neto vai depender muito da performance dele sem um mandato. Ele vai levar agora dois anos sem mandato, como exclusivamente uma pessoa comum. Ele hoje é presidente do DEM nacional. Quem sabe ele não vai decidir ser candidato à vice-presidência da República? Ou de Bolsonaro, mesmo? Já estão dizendo que ele vai ser ministro de Bolsonaro...

"A questão de ACM Neto vai depender muito da performance dele sem um mandato"

BNews - O deputado federal Elmar Nascimento virou um dos principais cabos eleitorais de Arthur Lira, indo de encontro com a orientação de ACM Neto e Rodrigo Maia. As portas do PP estão abertas para recebê-lo?

João Leão - Escancaradas. Ele é um grande parlamentar, uma excelente figura. É nosso amigo. O PP tem uma grande vantagem: somos amigos de todos, temos lado, mas somos amigos de todos.

BNews - Esse ser "amigo de todos" não é o mesmo que muita mão mexendo no tacho?

João Leão - Amigo de todos, que eu digo, é você ter o respeito, tratar bem e não ter inimigos. Não ter adversários políticos. Mas o meu adversário político pode ser meu amigo. Isso é ser amigo de todos. É ter respeito.

BNews - Para encerrar, o que o senhor acha do presidente Jair Bolsonaro? Acredita que ele vai conseguir ter influência nas eleições estaduais? Porque a gente viu que na municipal, onde ele colocou a mão, não deu certo. Ele se coloca como candidato à reeleição e questiona, igual a Donald Trump, o processo eleitoral. 

João Leão - Foi meu colega por 20 anos [na Câmara dos Deputados] e estou maravilhosamente bem com ele. Tenho por Bolsonaro um companheirismo muito grande, porque ele era do meu partido. Fui líder do governo com ele e resolvi uma série de questões dele como deputado. Me lembro bem que uma vez consegui uns ginásios de esporte para o deputado Bolsonaro. Agora, todavia, o presidente Bolsonaro tem que mostrar ainda para que veio.

Classificação Indicativa: Livre

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