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Presidente do Sistema Faeb/Senar comenta Plano Safra 2021/2022: “os recursos também foram para quem mais precisa”

Imagem Presidente do Sistema Faeb/Senar comenta Plano Safra 2021/2022: “os recursos também foram para quem mais precisa”
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Publicado em 11/07/2021, às 08h00   Nilson Marinho e Samuel Barbosa


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O Governo Federal lançou, no mês passado, o Plano Safra 2021/2022, com R$ 251,22 bilhões para apoiar a produção agropecuária nacional, um aumento de R$ 14,9 bilhões (6,3%) em relação ao plano anterior. Os financiamentos já estão disponíveis desde o dia 1º deste mês e podem ser solicitados até o dia 30 de junho de 2022. 

Nesta entrevista, o presidente do Sistema Faeb/Senar, Humberto Miranda, fala sobre a importância de parte desse montante chegar até os cerca de 700 mil pessoas que se declaram agricultores na Bahia — sendo 90% deles pequenos e médios produtores —, num momento em que o estado apresenta números positivos, seguindo em direção ao protagonismo nacional.

BNews: O governo federal lançou no mês passado o Plano Safra que equivale a 2021/2022, e vai disponibilizar R$ 251 bilhões, montante que ele é superior a do ano passado, que é pra apoiar essa produção agropecuária aqui no nosso país. O senhor prevê quanto desse valor será disponibilizado aqui para os agricultores da Bahia?

Humberto Miranda: É, realmente, o volume de recurso foi aquele mesmo que você falou, R$ 251 bilhões, 6.3% maior que o ano passado. Outra boa notícia é que os recursos também foram para quem mais precisa, que são os pequenos e médios produtores. Houve um aumento aí de 19% só pra o Pronaf, que é a linha de crédito que atende mais os pequenos e médios produtores, então, isso também é muito interessante. Nós temos mais de 700 mil produtores e a grande maioria desses produtores são pequenos e médios produtores. Então isso pra Bahia é muito bom. O Pronampe também tem uma linha de crédito que atende muito aos médios produtores, também aumentou 2.5%. A outra linha de crédito também pra armazenagem de criação de armazéns e armazenagem de produtos colhidos. Isso aí atende muito a gente lá na região oeste da Bahia, a produção tem batido recorde ano a ano e a gente não tem conseguido armazém suficiente para armazenar os produtos, os produtos ficam armazenados em bags, que são estruturas de borracha que ficam a céu aberto, no meio do campo, as vezes, dentro da própria fazenda, em virtude a gente não ter uma capacidade de galpões suficientes pra armazenar esses produtos. O que a gente não pode afirmar é quanto desse recurso vem pra Bahia, porque a demanda do recurso é quem poderá abrir mais ou menos, quanto mais os produtores estão organizados, estão acessando o crédito junto aos bancos, as redes bancárias oficiais, mas o crédito vem pra Bahia. Por isso, a gente não pode afirmar quanto desse valor aí pra o nosso estado, em virtude da demanda que vai ser a partir agora. Daqui até junho de 2022 os produtores rurais baianos e do Brasil vão estar aptos a encaminharem proposta pra ocupar os agentes financeiros e, consequentemente, pegar recursos pra plantio, investimento, não só para o plantio, mas é bom lembrar que tem recursos para investimento, que é estruturar as propriedades, seja com estrutura física, construir galpões, construir currais, construir cercas, preparo de solo, fazer reflorestamento de áreas. Então, o plano foi bem diverso e teve a participação direta do setor produtivo através da ministra Teresa Cristina e através da CNA que é quem representa os produtores rurais brasileiros a nível nacional. 

BNews: A gente sabe que muitos agricultores foram impactados devido à pandemia, os preços dos produtos ficaram elevados. Houve, inclusive, a realocação dos recursos do Governo federal para combater a Covid-19, o senhor acha que as taxas são justas pra o agricultor investir, custear a produção?

Humberto Miranda: Juros no Brasil é sempre uma briga eterna, nós gostaríamos de ter taxas até mais baratas do que as doa ano passado, que girou em terno de 5%, 6%, esse ano já se fala até em 7,5% a 8,5%, algumas taxa para empreendimentos maiores de grandes produtores , o do Pronaf ficou ainda nessa faixa de 3% a 4,5%, mas infelizmente a gente sabe que as taxas de juros variam de acordo com o mercado, a questão do câmbio tem interferência nisso, a inflação tem interferência nisso, a taxa Selic tem interferência, são fatores de fora do mundo agropecuário mas que interferem diretamente nas taxas de juros que chegam para o produtor rural. Realmente as taxas aumentaram com relação ao ano anterior em virtude dessa variação que houve aí na taxa Selic e nessa variação cambial também. 

BNews: O senhor prevê números positivos para  a próxima safra aqui na Bahia?

Humberto Miranda: Sem dúvidas, a gente tem uma expectativa pra esse ano de 2021, tem uma previsão de aumento na produção de grãos, a gente já bateu dez milhões de toneladas no ano passado e a gente achou que já tinha chegado no limite, esse ano a gente já está com previsão de aumento de 6% em cima do que foi colhido no ano passado. A Bahia está espetacular e em ano a ano vem batendo recorde de produção, e não é apenas em grão. Nesse primeiro semestre a gente aumentou também mais de 17% na produção de fruticultura, exportação, batemos recorde na produção de ovos no primeiro trimestre desse ano, batemos recorde no abate de frango no primeiro trimestre, a Bahia vai ano a ano se reinventando, diversificando, acho que o grande ganho hoje da agropecuária baiana é essa diversidade, a gente não depende mais, claro que o oeste é o grande propulsor da economia rural da Bahia, isso é fato, a soja, algodão, milho, os produtores da região oeste ainda são grandes puxadores da economia baiana, mas a Bahia tem uma diversidade de produção fantástica. A fruticultura vem crescendo absurdamente em quase todas as regiões do estado, até no semiárido a gente tem muita fruticultura, a exemplo de Juazeiro, na Chapada Diamantina, nós temos no extremo sul e temos também na região oeste que está chegando muito forte lá. 
Com essa diversidade a Bahia vai perdendo um pouco essa dependência de só produzir grãos, e isso é muito bom porque dá uma sustentabilidade a economia rural pra quando tiver problema numa estrutura as outras sustentará com produções maiores e melhores, e com consequente não deixará que a economia do estado sofra com isso, a geração de emprego e geração de renda. 

BNews: A fruticultura seria a nova aposta da Bahia?

Humberto Miranda: Já não é nem mais nova aposta, a fruticultura já é uma realidade, os grãos e a celulose que é a floresta do extremo sul que a gente exporta muitos produtos florestais, o primeiro produto da balança comercial baiana, do agronegócio, de exportação são grãos, que a gente exporta muito pra China e países asiáticos, depois vemos produtos florestais que temos em grande escala lá no extremo sul , são os dois produtos que tem maior peso na exportação baiana, depois disso aí vem alguns outros produtos como derivados da soja, a fruticultura, o cacau, os produtos do cacau ainda tem uma importância significativa na exportação, e vem a fruticultura, hoje a gente coloca a fruticultura nos Estados Unidos, nos países da Europa, abastece os principais mercados brasileiros. Somos o segundo produtor de manga no Brasil , hoje a gente tem morango na Chapada Diamantina,  e um projeto muito bacana de integração, é um programa onde você tem os grandes produtores e uma centena de pequenos produtores que tem produção de morando até no fundo do quintal mas que conseguem colocar no mercado junto com os produtos dos grandes produtores. É um modelo de integração onde todos ganham coletivamente, é um modelo cooperativo. A gente tá começando a produzir trigo na região oeste, que é uma coisa que o Brasil importa da Argentina, e eu não tenho nenhuma dúvida que seremos um produtor significativo em muito pouco tempo, até porque já está se instalando na região oeste uma indústria para beneficiamento de trigo. A gente está falando de cultura de clima temperado, de um clima que não é o nosso, tropical, nem do Brasil e principalmente da Bahia, mas mesmo essa cultura de clima temperado com a tecnologia, com a inovação, conhecimento e pesquisa você acaba conseguindo técnicas que podem levar a gente a produzi aqui na Bahia de uma forma competitiva e até com melhor qualidade como é o caso do trigo na região oeste. 

BNews: Sobre a questão da logística e escoamento da produção, qual o principal gargalo que a gente precisa resolver com urgência pra dar continuidade a esses números positivos?

Humberto Miranda: Eu tenho dito em alguns lugares e que cai bem para o setor agropecuário, que nem tudo são flores. A gente vê que mesmo na pandemia o setor continuou trabalhando, continuou gerando emprego, aumentamos as exportações, o setor agropecuário é responsável por mais de 50% das exportações, nesse primeiro trimestre, no ano passado batemos 3.8% do PIB, nesse primeiro trimestre de 2021 a gente já passou de 25% do PIB , tudo vem crescendo, aumentando a produção, essa diversidade. Temos problemas seríssimos de infraestrutura e coisas básicas, não é só estradas horrorosas e que não conseguem fazer com que nossos produtos cheguem com qualidade, seja em Salvador pra colocar no mercado, seja em outros estados, e também nos portos e aeroportos para poder exportar. Nós temos problemas numa malha ferroviária que praticamente acabou dentro do estado, pra nossa felicidade o governo está investindo aí na FIOL (Ferrovia de Integração Oeste – Leste) que  vem aí nessa perspectiva de abrir uma nova opção de infraestrutura de transporte dentro do estado, mas nós temos coisas simples, falta energia elétrica no nosso estado, aqui no semiárido onde o pequeno produtor está produzindo leite, o cara quer colocar uma ordenha mecânica ou quer colocar uma bomba em um poço artesiano não tem capacidade de energia pra isso, a energia não suporta que ele coloque uma bomba num poço artesiano pra fazer uma pequena irrigação, isso é um absurdo e chaga ao ponto da gente perder fábricas na região oeste que querem se instalar mas não conseguem em virtude de não ter energia com capacidade suficiente. Um outro problema seríssimo nos dias de hoje é a questão da conectividade, hoje todo mundo tem um celular, tem mais celular no Brasil do que pessoas e o celular se transformou no meio de conhecimento, pra educar as pessoas , temos aqui no Senar cursos que a gente tá fazendo a distância que a pessoas consegue através do celular, consegue ter acesso a qualificação , a treinamentos do setor agropecuário até pra dar igualdade a todo mundo, dar oportunidade de trabalho, de se inserir no mercado. E um problema tão sério quanto esse se chama segurança no campo, a gente não tem segurança nem do ponto de vista físico, muitas famílias estão saindo do campo porque tem medo de morar na zona rural, medo de ficar na fazenda por causa de assalto, roubo, sequestro, essa semana teve o sequestro de um produtor rural na cidade de Camacan, todos os dias acontece roubo de animais, é diário, recebemos queixas de roubo. E também a segurança jurídica, as pessoas as vezes tem uma propriedade que veio de seus avós, passou pra seus pais, hoje o cara tá lá produzindo e daqui a pouco uma nova modificação no Congresso Nacional diz que aquela terra é indígena, de origem quilombola, isso é muito ruim, o cara tá ali ha 30, 40, 50 anos  e através de um decreto ela não á mais sua  e passa a ter outro tipo de utilidade, é preciso dar um ponto final nisso, o Brasil tem mais de 500 anos não dá pra criar normas e leis todo momento. 
Nós também não temos assistência técnica para o produtor rural, a empresa pública que tínhamos a EBDA foi extinta,  hoje os pequenos produtores não tem acesso a um agrônomo, um veterinário, a informação, assistência pra melhorar sua produção, isso é muito ruim porque isso não da o acesso a esses produtores pra melhorar sua condição de produção e sua atividade agropecuária, e diminuir a distancia entre o grande e o pequeno, diminuir a distância de conhecimento, pra todo mundo ter acesso a isso e a assistência técnica é fundamental nesse processo de transformação do campo. 

BNews: Esses gargalos já foram apresentados a ministra Teresa, e ela de alguma forma foi sensível a esses problemas aqui do nosso estado?

Humberto Miranda: A ministra é uma pessoa do setor, então ela conhece muito de perto todos esse problemas, participou da discussão do plano safra, discute essas políticas públicas do Brasil junto com a Frente Parlamentar todos os dias, muitos desses problemas de infraestrutura são problemas de conhecimento amplo de vários governos que a gente vem colocando, muitos desses problemas são de solução estadual, essa questão da energia, infraestrutura, conectividade, são problemas nossos que tem que ser resolvido em casa, o problema da assistência técnica precisa ser dividido inclusive com os municípios, a organização social precisa começar da base, coisa inclusive as sociedade civil como um todo.

BNews: Sobre a retomada da economia...

Humberto Miranda: A Bahia continua crescendo no setor agropecuário e tem chagado investimentos importantes, nos temos a nova fronteira agrícola da Bahia que começa ali na região de Irecê até Barra de São Francisco. Primeiro que tem uma obra de infraestrutura muito importante que está sendo feita lá que é a ponte que liga Xique-Xique a Barra, isso vai encurtar o caminho do oeste da Bahia, ou seja, vinda da soja, algodão, milho, das coisas do oeste aqui pra o porto, aeroporto e para a capital, essa obra vai interferir positivamente. A região de Barra do São Francisco vai se tornar o novo polo de desenvolvimento da área da agropecuária baiana porque tá chegando muitos empresários de Pernambuco, Minas Gerais para plantar cana, ali vai se transformar no novo polo sucroalcooleiro daquela região, para produção de açúcar, de etanol , a produção de grãos também tá chegando na região de Barra, nos temos em Itaguaçu um projeto que é implementar Baixio de Irecê nas regiões mais pobres do estado, dos menos IDH da Bahia, e lá vai se transformar o maior projeto de irrigação da América Latina, que já está implantado, já está começando a fazer, são quase 50 mil hectares irrigados, vai interferir em toda a economia daquela região  e consequentemente na economia do estado. A gente tem projetos de fruticultura se espalhando da região oeste até a região da Chapada Diamantina. Tem muita coisa nova chegando na Bahia, mas é preciso investir em alguns pontos, educação no campo, organização social, melhorar infraestrutura e conectividade e investir em assistência técnica. 

Classificação Indicativa: Livre

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