Especial

Tatau fala da relação com Vera Lacerda e anuncia DVD

Publicado em 29/11/2012, às 00h00   Rafael Albuquerque - Twitter: (@rafaelteescuta)



O cantor Tatau, que vive uma nova fase à frente da banda AraKetu, concedeu entrevista ao Bocão News. O artista falou sobre os ensaios de verão, sobre o pagode baiano e comentou sua relação com a empresária Vera Lacerda, fundadora do bloco AraKetu: “Não tem arbitrariedade, a gente age com muito respeito. Ninguém aceita arbitrariedade hoje”. O vocalista também opinou sobre o afródromo e disparou: “a música tem que se absorvida de duas formas: mensagem e massagem”. Leia a entrevista abaixo para saber a explicação de Tatau para essa frase:




O cantor Tatau, que vive uma nova fase à frente da banda AraKetu, concedeu entrevista ao Bocão News. O artista falou sobre os ensaios de verão, sobre o pagode baiano e comentou sua relação com a empresária Vera Lacerda, fundadora do bloco AraKetu: “Não tem arbitrariedade, a gente age com muito respeito. Ninguém aceita arbitrariedade hoje”. O vocalista também opinou sobre o afródromo e disparou: “a música tem que se absorvida de duas formas: mensagem e massagem”. Leia a entrevista abaixo para saber a explicação de Tatau para essa frase:


Bocão News: Vamos começar falando dos ensaios. Hoje terá mais uma edição e eu gostaria de saber como vem sendo a receptividade do público lá no Cais Dourado?
Tatau: Tem sido muito bacana. A impressão que eu tenho é que eles estavam com saudades desse hábito que o AraKetu tinha e que nos últimos anos se perdeu. Então, a gente devolveu a cidade de Salvador um patrimônio de todos que são os ensaios do AraKetu. A gente voltou para criar essa rotina.


BN: Aliás, o AraKetu foi a banda pioneira nesse lance de ensaios...
Tatau: Nesse sentido foi. Se bem que isso é uma marca dos blocos afro. Essa tradição vem do Ilê, Olodum, Malê, Muzenza e também o AraKetu. Quando a gente teve a idéia de colocar uma banda e levou para a rua Chile funcionou pra caramba e virou febre. Hoje em dia tem ensaios em diversas áreas da cidade com belas atrações e o AraKetu continua dando sua contribuição e fortalecendo isso que foi criado pelos blocos afro.


BN: Você influenciou na escolha do Cais Dourado para abrigar os ensaios do AraKetu?
Tatau: Total. Estamos vivendo no AraKetu uma fase de muita conversa, de muita união. Não tem arbitrariedade, a gente age com muito respeito. Se um cara leva 20 anos nos vocais de uma banda esse cara entende, alguém tem que ir a ele saber das opiniões, como tem que ouvir a opinião de Paulo Borges, de Manoel, de Vera, que conhece a história do bloco. Hoje a gente senta e conversa. Tanto que muita coisa que é feita nos ensaios tem total participação da gente. Graças a Deus hoje temos entendimento nas coisas da banda.


Bocão News: Qual grande diferença você percebe dos ensaios do AraKetu de antigamente para o de hoje?
Tatau: Mudou muito a nível estrutural. Hoje as músicas também, no meu ponto de vista, são entendidas de uma forma um pouco diferente. Naquela época era muito mais cultural. O primeiro pensamento era cultural e depois vinha o pensamento comercial das coisas. A gente tinha um olhar cuidados com a música. Na parte artística houve muita alteração. Hoje tem um pensamento cultural, mas tem muito mais o pensamento comercial.


BN: Até que ponto isso prejudica o conteúdo?
Tatau: Não tenho dúvida nenhuma de que prejudica. Quando você faz algo que tem o pensamento focado no comercial você acaba prejudicando, deixa de dar atenção à linguagem que você tem que desenvolver para o público. Mas o AraKetu, com meu retorno, a idéia é regatar tudo isso. A gente vai realizar esse ano a escolha da rainha do AraKetu, que era bastante tradicional e que tinha perdido contato com nossa realidade. A escolha vai ser realizada no último ensaio da banda. A gente bolou uma idéia muito bacana de abrir vaga para 30 candidatas a dançarina que vão passar por uma triagem. Vamos colocar nas redes sociais as 10 classificadas e daí será escolhida a rainha no último ensaio. Estamos buscando lá no passado a musicalidade do AraKetu. Não queremos perder o contato com isso. O real interesse é mostrar que o Ara tem responsabilidade com a cultura. Se a gente conseguir a trilhar esse caminho vamos nos favorecer e ajudar a cidade.

BN: Seria o resgate da vertente afro?
Tatau: Não só a nível rítmico. Eu tenho uma música que foi composta há 24 anos e que continua sendo uma das músicas mais importantes e respeitadas que é “Protesto Olodum”. Tem também “We Are of Carnaval”, “Chame Gente” e “Faraó”, que são músicas imortalizadas e têm identidade com a cultura baiana. Tudo o que foi feito com cuidado vai continuar tendo espaço.


BN: Ao contrário dessa época que você se refere, hoje uma música faz sucesso no verão e depois não é mais lembrada. A que se deve isso?
Tatau: Os próprios artistas rotulam a canção como “música do carnaval”, e aí passa o carnaval e acabou.


BN: Mas o que fazer para ir de encontro a esse processo?
Tatau: As músicas têm que tocar as pessoas como tocava antigamente. Eu lembro que com “Protesto Olodum”, que é uma música minha, eu fui dar palestras em escolas. É considerada uma música documentário porque falei de coisas que hoje estão acontecendo, que melhoraram ou pioraram. Falei da Aids, da Etiópia, de Cubatão, que na época era a cidade mais poluída do mundo e hoje não é mais, falei do apartheid, falei de Mandela, etc. A gente tem que fazer música para as pessoas pensarem. As pessoas não têm feito músicas assim. Isso funciona. Há muito tempo atrás as músicas eram dos blocos afro e as grandes bandas pegavam essas canções e colocavam no mercado a exemplo da Banda Mel, Reflexus, etc. Isso era muito bacana pois despertava interesse na população.


BN: Em seu ensaio você recebe Léo Santana da banda Parangolé. Diante dessa participação, eu queria que você opinasse sobre o que acha do pagode baiano.
Tatau: Eu não vou ficar citando muitos nomes, mas penso que Léo faz um pagode de qualidade. O Harmonia do Samba e o Parangolé fazem parte de uma galera que tem uma preocupação bacana com a temática. As pessoas têm que entender que a música tem que se absorvida de duas formas: mensagem ou massagem. Ou ela te passa algum conteúdo ou tem que te fazer bem. Essas bandas que eu citei têm esse cuidado. A gente tem que aceitar tudo o que o mercado oferece, mas cabe uma dosagem das coisas. Acho que precisa ter também dentro do segmento mais músicas de instrução, que a banda Psirico faz muito bem. É importante você falar de alegria, mas fala também das coisas bacanas, das mensagens. O cara com um microfone na mão tem uma força muito grande.


BN: O que foi mais difícil em sua volta ao AraKetu?
Tatau: Acho que as negociações. Nós levamos alguns meses nessa etapa. Hoje a gente entende que tudo parte de um projeto. Quando ficou claro para mim que tinha um projeto de grandiosidade em meu retorno eu aceitei. Eu acho que eu tinha que voltar para o AraKetu com muita coisa pra funcionar logo de cara. Eu queria os ensaios, que o AraKetu voltasse a ser o bloco que emocionou muita gente, queria a escolha da rainha, queria voltar para o AraKetu com tudo isso. Queria essa marca do Ara, queria minhas coisas tudo de volta. Quando ficou claro que tudo isso ia acontecer e teria uma gravadora de ponta (Sony Music) fazendo parte do projeto, eu disse: agora eu volto. Eu também acredito muito na força de quem hoje gerencia a banda que é a Carreira Solo através de Manoel Castro, Paulo Borges e Cal Adan, além da própria diretoria do AraKetu. Gente que eu admirava e agora trabalhando com eles facilitou muito.


BN: Como você avalia a mistura em que se transformou o carnaval de Salvador?
Tatau: Eu acho importante essa diversidade porque vem gente de todo o Brasil, mas tem que ter uma dosagem. Se tem um momento em que o artista espera para ganhar um pouco mais é o carnaval. Quando a gente abre de uma forma escancarada para tudo que é segmento vir para cá na nossa festa, termina tirando o emprego, de forma momentânea, de alguns músicos que se prepararam para o carnaval. Esses artistas não participam da maior fatia do bolo. Tem que ter mais oportunidades para os artistas locais. Se a gente escancara muito, a gente perde o novo que buscamos tanto.


BN: Como vai ser o carnaval do AraKetu?
Tatau: O carnaval do AraKetu vai ser lindo.  Serão três dias do bloco. Eu diria que de uma forma bacana eu trago o projeto “Pipocafro”, que é um presente que estamos dando à cidade que sempre nos presenteou. Esse projeto prevê a banda AraKetu tocando um dia de carnaval para o povo. Eu acredito que vamos tocar fora de Salvador um ou dois dias. O restante será aqui, no Carnaval.


BN: Mas o bloco AraKetu vai sair na Avenida ou Barra?
Tatau: A idéia é sair nos dois circuitos. Tem o sábado que tradicional no Centro e a terça na Barra. Agora estamos vendo o outro dia se será no Centro, que é o que realmente queremos, ou se fazemos em outro local. Até porque tem essa possibilidade do afródromo. Por isso ainda estamos estudando.


BN: Há negociação para o AraKetu tocar em algum outro bloco?
Tatau: Tem, sim. Mas não posso adiantar nada.


BN: Seria um bloco na Avenida ou Barra?
Tatau: Eu também não posso adiantar (risos). Mas é um bloco que vai orgulhar muita gente no Carnaval.


BN: Há alguma negociação para o AraKetu tocar no “Afródromo”, o novo circuito na região do Comércio?
Tatau: Já nos procuraram e estamos estudando. Eu penso que a idéia é bacana. Para mim parece que alguns blocos afro se sentem fora do grande espaço durante o carnaval. Devido a isso, é como se a gente tivesse criando um espaço para que eles tenham mais oportunidade. Atualmente, alguns blocos do segmento desfilam no horário em que não tem a mídia para cobrir. Não sou contra, mas é um projeto para se pensar um pouco mais a nível de execução. Tudo depende de a cidade abraçar o projeto. Mas temos que esperar para ver.


BN: Mas você aceitaria tocar lá?
Tatau: Rapaz, eu não tenho nada contra. O AraKetu ele é do carnaval. Quando se pensa no AraKetu pode ser na Barra, no Centro da cidade ou em qualquer outro lugar. Contanto que possamos tocar em todos os lugares.


BN: Fale um pouco da recente gravação do CD, que bem que poderia gerar um DVD.
Tatau: Bom, na verdade foi um projeto em conjunto. Eu cuidei da parte artística toda e da parte musical junto com a banda AraKetu. Criamos ararnjos, roupagens novas para canções antigas, etc. Nesse disco, todas as músicas inéditas são minhas. Eu acho que Deus tocou em minha cabeça para essas seis músicas inéditas. Foi interessante que a música chamada “Oportunidade”, que eu mandei para Bruno (vocalista do Sorriso Maroto), ele achou que eu tinha mandado para o Sorriso Maroto. Quando ele se empolgou todo, eu disse que a canção era pra ele gravar comigo aqui na Concha. Ficou linda. A música que gravei com Saulo (Fernandes) ficou linda também. É um diálogo de um fã com um artista, como se eu tivesse falando da saudade que eu senti do público e Saulo fala da saudade que o público sentiu desse tempo que eu fiquei sem fazer o carnaval com o AraKetu. Tu tinha que fazer no mínimo duas músicas que tocassem o associado do AraKetu. A participação do Jammil foi muito bacana no clássico do AraKetu chamado “Cobertor”; a participação de Daniela (Mercury) e Ivete (Sangalo) em Jogo Sedução, que é uma arrocha de muito sucesso também foi legal. Está um disco bacana e virá pela Sony Music até o início de janeiro. Estamos felizes com a qualidade. Eu particularmente acho que a nível de arranjos e repertório é o melhor disco do AraKetu. Quando as músicas começarem a tocar nas rádios as pessoas vão entender o que estou falando. A energia foi impressionante e como você falou bem que poderia ter sido um DVD. Poderíamos ter apostado no DVD e seria de muita qualidade.


BN: Então, quando vão gravar um DVD?
Tatau: Está prevista para fevereiro a gravação de um DVD, provavelmente com a participação de todos os artistas que gravaram o CD. Estamos pensando em um local. Eu gosto muito da Concha Acústica, mas tem também o Cais Dourado que é onde estamos ensaiando.


BN: O que mudou da relação artista X empresário de Tatau com Vera Lacerda da época de seus 20 anos na banda e para a atualidade?
Tatau: Eu acho que hoje a palavra que temos que ouvir muito mais do que empresário é parceiro. É muito mais educado, prazeroso quando você ouve a palavra parceiro. Eu acho muito bacana todos nós estamos muito mais maduros, muita coisa mudou, muita coisa melhorou. Hoje tem essa coisa de sentar e ouvir o artista porque todos nós artistas queremos mais isso, tem que ser assim. Se a decisão for só de um lado, pode saber que você vai ouvir: fulano ta saindo de tal banda. Tem que ter o diálogo. Ninguém aceita arbitrariedade hoje. Antigamente o cara tomava 30 chicotadas para começar a ver que estava doendo. Hoje na primeira, antes de chegar no lombo, o cara já reclama, ninguém mais tolera isso. Hoje tudo é dentro de uma parceria. Já se tinha respeito comigo, mas hoje tem muito mais.


BN: Qual sua relação com os fãs?
Tatau: e relação é muito bacana. Entendo que se um cara não gosta de você, ele pode plantar essa semente numa comunidade. Por isso sei que é muito importante valorizar os fãs, tanto que eu até hoje faço músicas de gratidão. Os fãs estão sempre nos ensaios e eles torcem não só pelo artista, mas pela pessoa. As fãs são uma grande família e eu sou apaixonado por eles. Minha música com Saulo fala justamente disso: “já não te via mais daqui de cima (de cima do trio), sentia falta de você, fazia alguns carnavais que eu não te via mais, eu não ouvia mais aquele boa sorte, e aquilo me deixava muito forte, eu não via mais aquele adeus no final, que falta você fez no carnaval”. Esse boa sorte, esse adeus quanto termina o show, isso tem uma força para os artistas que você não tem noção. Esse é o combustível para a gente trabalhar.


BN: Pra finalizar, deixa uma mensagem para os fãs e admiradores e chama a galera para os ensaios do AraKetu.
Tatau: O ensaio é na verdade a quinta-feira para matar a saudade do Ara, por isso convido a todos. Quero também agradecer o espaço dado ao AraKetu, que está vivendo um momento muito especial.



Fotos: Gilberto Júnior - Bocão News

Classificação Indicativa: Livre

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