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Gabrielli fala sobre eleições e críticas na Petrobras

Imagem Gabrielli fala sobre eleições e críticas na Petrobras
Secretário de Planejamento, José Sérgio Gabrielli diz que não pensa em 2014 e defende sua gestão na estatal  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 22/02/2013, às 00h00   Lucas Esteves (Twitter: @lucasesteves)



O secretário de Planejamento do Governo da Bahia, José Sérgio Gabrielli, é um dos cinco petistas que estão vivendo a expectativa da indicação do partido para a disputa do Governo do Estado em 2014 na sucessão de Jaques Wagner. À frente da pasta estadual, o ex-presidente da Petrobras comanda atualmente uma serie de projetos que o expõem ao olho público e também a uma série de lideranças que podem, em última analise, ajuda-lo a viabilizar sua futura candidatura.
Em entrevista ao Bocão News, Gabrielli comentou o processo sucessório estadual, seu papel entre os atores principais e como sua atuação de hoje pode ou não ajudar a viabilizar um eventual projeto político. Além disto, não se esquivou de perguntas espinhosas sobre críticas que recebe atualmente relativas à sua gestão de 7 anos à frente da Petrobras. Segundo ele, as conquistas que obteve na gestão da estatal do petróleo não tem nenhuma condição de ser consideradas um fracasso. “Se isso é um fracasso, eu não sei o que é o sucesso”.

*Fotos: Gilberto Júnior/Bocão News
O senhor já tem quase um ano como secretário e certamente são coisas bem diferentes ser secretário de Planejamento na Bahia e presidente da Petrobras. Qual a diferença entre um cargo e o outro?
Eu acho que uma diferença básica é, digamos assim, a capacidade do sistema de gestão de responder rapidamente às necessidades. Nós estamos com um processo em que você usa muita energia no meio para obter resultado lá na frente. Então na Petrobras, a máquina reponde mais rapidamente, portanto a preocupação é muito mais com o resultado. Depois de quase um ano na secretaria, eu posso dizer que o que a gente imaginou no início está se efetivando. Por um lado a gente está redefinindo a função “planejamento” no Estado, em termos de articulação das diversas secretarias que ocorreu tanto na elaboração da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) quanto do próprio Orçamento para 2013. Nós redefinimos e expandimos a atividade de captação de recursos e o orçamento reflete um pouco a ênfase na captação com o aumento significativo das operações de crédito. Implantamos novos sistemas de planejamento. O Fiplan (Sistema Integrado de Planejamento, Contabilidade e Finanças do Estado) está evidentemente com dificuldade de implantação dada a dimensão de um projeto como é o Fiplan, mas implantado. O processo de monitoramento de diversos programas está aumentando. Nós estamos com capacidade de acompanhar mais de perto o que está acontecendo entre as secretarias e tentando fazer com que a atividade da secretaria se unifique. Estamos também conduzindo alguns projetos importantes e estruturantes para o Estado, como por exemplo o setor viário Oeste, que é a expansão da relação Salvador-Itaparica com a ponte e o acompanhamento dos trabalhos que estão sendo feitos pela Codevasf com relação ao São Francisco. Evidentemente são várias secretarias envolvidos, mas a Seplan tem um papel importante.
Hoje é mais fácil de administrar a Seplan do que era em tempos atrás?
Não sei se mais fácil. A Seplan tem processos de mudanças histórica de longo prazo e uma mudança histórica na gestão do governador Jaques Wagner. A Seplan conduziu ativamente neste 7 anos todo o processo de PPA participativo, de ouvir a sociedade para formular um planejamento com escuta social. Esta é uma marca da Seplan que vem dos meus antecessores e eu estou só continuando o trabalho deles.
O projeto da Ponte Salvador-Itaparica é muito criticado especialmente em relação à necessidade da obra e sua viabilidade. O que tem a dizer sobre todas estas polêmicas?
A obra é importante por várias razões. Primeiro porque Salvador precisa criar um novo canal de expansão. Ela não pode mais continuar crescendo em direção a Lauro de Freitas e Camaçari, tem limites nessa capacidade de expansão. A possibilidade da ponte cria uma nova área de expansão da moradia da cidade nos 20, 30, 40 anos seguintes, em direção à Ilha, tanto no município de vera Cruz quanto de Itaparica. Do ponto de vista habitacional, a existência da ponte cria um novo vetor de expansão da cidade. Não é um equipamento para substituir o Ferry Boat no fim de semana. Ela só tem sentido se de fato atrair e viabilizar uma movimentação da cidade para lá. Primeiro porque a cidade cresce normalmente. Segundo porque tem um processo de inclusão social importante. As pessoas estão aumentando o nível de renda. Então isso provoca mudança espacial dentro da cidade e áreas de habitação acima do normal, mais precárias, tendem a mudar. E a população da cidade precisa encontrar caminhos de expansão. A ponte, por outro lado, vai revitalizar e redefinir tudo isso. A região do Comércio e da Cidade Baixa vai ser redefinida com os canais de entrada da ponte e (também haverá) a redefinição do movimento das pessoas que moram na Ilha e trabalham em Salvador. Mas não é só esse o efeito. A ponte vai reduzir 40% do tempo de Santo Antônio de Jesus para Salvador. Vai reduzir em cerca de 1h30 para 2h o tempo de Ilhéus para Salvador. E vai reduzir esta mesma quantidade de Aracaju para Ilhéus. Consequentemente, vai modificar o fluxo de veículos, tanto de pesados quanto de leves, pela redução do tempo de viagem para áreas mais longas. Qual o impacto que vai ter para o Litoral Sul, sobre o Recôncavo, o Portal do Sertão, Litoral Norte? Isso precisa ser estudado e analisado. Nas cidades de Salvador e da Ilha, é preciso redefinir e reorientar os planos diretores. O que significa que tem que preservar áreas para não criar um processo de aumento da crise social. Tem que imaginar um conjunto de ações na área de saneamento, criar condições para que o sistema de água e esgotamento se efetive. Portanto, é um projeto que envolve uma redefinição de política regional. Portanto, exige uma série de estudos que serão realizados em 2013 e nós pretendemos iniciar o processo de licitação da ponte para construção no início de 2014, posterior a este conjunto de estudos.
Críticas recentes em meios de comunicação, inclusive, classificam o gasto com a ponte como “faraônico”. Por que estas críticas são feitas, diante dos benefícios alegados, na sua opinião?
A matéria que saiu na Istoé é equivocada, porque ela confunde o valor da ponte com o valor da ponte mais o conjunto de investimentos que vão lá. Não houve nenhum aumento da previsão de gastos até hoje, é exatamente o mesmo valor: R$ 7 bilhões. Que é um valor muito grande, sem dúvida, e é por isso que se tem que estudar muito as implicações da viabilidade técnica e econômica. Não há dúvida de que é um valor de investimento muito grande e que evidentemente envolve uma análise de se vale a pena ou não aplicar este investimento. Os estudos vão mostrar se há a viabilidade econômica ou não para isso. Nós acreditamos que há, com base nos estudos atuais. A vantagem econômica que vai se provocar para a sociedade como um todo, para o desenvolvimento econômico, para a mobilidade, é, ao nosso ver, viável com esses valores. Claro que os valores não podem ser só de uma fonte. A ponte e seus equipamentos vão ser financiadas por várias fontes: União, estado, setor privado, pedágio para cobrir parte dos recursos, criação de mecanismo e estruturas financeiras que capturem parte dos ganhos imobiliários que vão vir da ponte e gerar receitas. Tudo isso será montado ao longo do ano de 2013.
A consultoria da McKinsey também é fonte de muitas críticas. Por que foi preciso investir R$ 40 milhões em uma consultoria de um projeto que pode, no final, não ser feito se o diagnóstico for negativo? Qual o custo-benefício dela?
Evidentemente não é uma consultoria barata. Mas a opção nossa foi contratar uma das melhores consultorias do mundo no assunto. Dos 25 maiores movimentos urbanos do mundo nos últimos 10 anos, a McKinsey participou de 20 deles. É uma consultoria internacional de reconhecida competência. No Brasil, o corpo técnico dela é 3 vezes maior que a soma dos outros corpos permanentes das outras consultorias. É de reconhecida competência, mas evidentemente que R$ 40 milhões não é um valor barato e portanto a escolha foi pelo melhor que pudesse fazer o trabalho o mais rápido e completo possível para evitar erros mais adiante. Eu sempre montei projetos dessa magnitude e sempre tem erro. Agora, você reduz o tamanho de erros se você planejar mais e se escolhe aquele que mais conhece o assunto.
Recentemente, um dos novos investimentos da Secretaria de Planejamento é o ciclo de cursos para ensinar as prefeituras do interior a montar o Plano Plurianual (PPA). Existe uma série de reuniões em municípios para anunciar os cursos e estreitar as relações com as gestões locais. De que serve este investimento?
A legislação brasileira exige que todos os municípios acima de 20 mil habitantes tem que fazer um PPA. A realidade dos municípios é que muitos deles, especialmente os menores, eles têm dificuldades na área técnica, porque os municípios têm rendas pequenas, prioridades com várias demandas importantes a cada momento e às vezes não têm como ter uma equipe de engenheiros, arquitetos, geólogos, sanitaristas, economistas, etc. Para um município, isso pode ser muito caro. Eles vão ter que apresentar este PPA até agosto de 2013 às câmaras municipais. O objetivo desse curso, portanto, é treinar alguns técnicos dos municípios para que eles se apropriem da metodologia de preparar o PPA, do que o Estado tem no PPA do Estado, para que na definição dos planos municipais haja mais coerência com o que o Estado está fazendo. Porque, para as finanças municipais, as receitas próprias são limitadas.  A melhor possibilidade das finanças municipais aumentarem são via contratos e convênios com o Estado e com o Governo Federal. Eles vão precisar ter projetos municipais e estes, quanto mais aderentes aos planos do Estado e da União, mais fáceis de desenvolverem. 
Qual o calendário previsto para estes cursos?
Os cursos serão dados em oito turmas no mês de março. Além disto, estamos realizando os Diálogos territoriais. Realizamos esta semana o primeiro, com o território do Sisal, e vamos realizar até junho nos 27 territórios. O que nós estamos fazendo nestes diálogos é reunir os prefeitos do município e dos territórios, as representações empresariais e movimentos sociais com os órgãos do Governo do Estado e Federal para discutir com eles o que o governo está fazendo e planejando fazer naquele território. E ouvir deles se isto é mais adequado, se alguma coisa pode ser melhorada, quais as demandas deles, quais as críticas que fazem. É um diálogo no processo de ouvir a sociedade sobre o que o governo está fazendo.
E o senhor estará presente em todos eles?
Eu pretendo estar presente em todos eles. O encontro é do dia inteiro, mas às vezes eu não posso ficar o dia inteiro. Neste primeiro, por exemplo, eu não fiquei o dia inteiro. Fiquei só pela manhã e tive de sair à tarde. Mas a Seplan vai participar o dia inteiro. É um encontro que tem uma parte de apresentação e outra que é de grupos de trabalho para aprofundar e olhar com lupa o que está acontecendo no território. É um encontro de um dia em cada território e, no que for possível eu vou participar.
Os analistas políticos dizem que a presença em encontros assim e o lançamento dos projetos em relação à ponte são uma maneira de se manter visível em busca de viabilizar uma candidatura ao Governo do Estado no ano que vem. Tem mesmo esta pretensão de ser o indicado do PT à eleição em 2014?
Primeiro, queria falar um pouco sobre o que estou fazendo. O que estou fazendo é uma ação do governo. O que eu pretendo com isso é fazer com que o governo discuta com a sociedade. Pretendo, com as audiências da ponte, é discutir sobre os projetos que o governo quer fazer e o debate com a sociedade. Aliás, esta é uma grande característica do governo de Jaques Wagner, que é a abertura do diálogo permanente com a sociedade, abertura dos canais democráticos e a importantíssima mudança que ocorreu no estado sobre a democracia. Em relação à mudança de governo, eu acho que é um problema cujo candidato só vai ser discutido mais tarde. Acho que é cedo para discutir a candidatura. Acho legítimo que o PT tenha candidatura própria. E o PT não só tem legitimidade como tem condições de viabilizar esta candidatura, mas acho que o debate de quem via ser o candidato é precipitada. Não estou preocupado com esta discussão nesse momento.
De qualquer maneira, se sente apto a ser o indicado?
Olha, eu me sinto orgulhoso de ser pensado como candidato, mas eu não estou neste momento achando que esta a discussão que nós devemos fazer. A discussão principal é o que o governo vai fazer em 2013, como fazer a execução. Estamos aí com um nível de execução financeira muito grande, um volume enorme de investimento a ser realizado este ano. Vamos dedicar toda a atenção para isto.
Em teoria, os seus “concorrentes” também estão cada um com suas ocupações tentando viabilizar seu próprio nome. Walter Pinheiro é senador, Rui Costa atua como secretário da Casa Civil...
Tem também Caetano...
Exatamente. Como o senhor avalia o trabalho deles? Eles fazem este trabalho visando a indicação?
O senador Walter Pinheiro está desempenhando um serviço extraordinário. É o nosso primeiro senador do PT, é líder do governo. Tem feito um trabalho muito bom no Senado e eu acho que está se dedicando fortemente ao Senado. O secretário Rui Costa é um excelente secretário da Casa Civil e está tocando projetos com competência e com capacidade de gestão. Tem cuidado muito bem da questão da mobilidade e a seca. Tem dois projetos importantes do governo aos quais ele está se dedicando de forma intensa. O Caetano acabou de ter um sucesso eleitoral. Teve um desempenho extraordinário na UPB. Então também está fazendo o seu trabalho, que é muito bom. São todos profissionais e políticos de extrema competência.
O presidente do PT estadual, Jonas Paulo, disse que este nome deverá muito provavelmente sair ainda este ano. O senhor acredita que esta previsão será realmente cumprida? 
Eu não sei. Acho que a decisão mesmo vai ser em 2014. Tem que ser em 2014.
Como político, certamente está ligado nos acontecimentos que envolvem a oposição, especialmente com um eventual fortalecimento da oposição no estado. Como possível candidato ano que vem, quem o senhor considera que concorrerá com o PT nas próximas eleições como opositor ao governo? Existem possibilidades e uma delas é Geddel Vieira Lima, inclusive.
Não sei. Eu imagino que quem está atacando muito o PT é que deva ser o candidato. Mas eu não imagino quem seja. Aparentemente o vice-presidente da Caixa anda anunciando que e candidato. É possível que ele seja. A última crítica que ele fez altamente infundada à Petrobras eu acho que é um ataque a mim, o que eu acho completamente incorreto. A Petrobras é uma empresa que teve R$ 20 bilhões de lucro em 2012. É uma empresa que tem R$ 16 bilhões de reservas, tem a capacidade de produção de 2 milhões de barris/dia, que tem uma força de trabalho de mais de 50% presentes na empresa há menos de 10 anos, o que mostra que ela é renovada e forte. É uma empresa que tem capacidade de refino para atender grande parte do mercado brasileiro. Está construindo e vai construir algumas novas refinarias para atender a expansão do mercado brasileiro. Ela saiu, em 2002, de um valor de US$ 15 bilhões para valer hoje mais de US$ 170 bilhões. Portanto vale mais de 10 vezes o que valia há 10 anos. E o PSDB e o vice-presidente Geddel ficam querendo dizer que a empresa está em crise. Ela não está em crise. Ela vive um tempo de transição do tamanho do crescimento do investimento que vem sendo feito nos últimos 10 anos sob a direção do presidente José Eduardo Dutra, sob a minha direção durante 7 anos e sob a direção da presidente Maria das Graças Foster, que está fazendo uma administração muito competente.
Muita gente diz, de tempos em tempos, que a gestão de José Sérgio Gabrielli à frente da Petrobras foi “desastrosa”. Por que acha que ocorre esta crítica em específico?
É só ver os números. Quando eu entrei para a Petrobras ela valia US$ 15 bilhões. O valor da Petrobras chegou a mais de US$ 300 bilhões em 2008, caiu por causa do preço do petróleo e hoje vale US$ 170 bi. A Petrobras saiu de uma situação de investir US$ 5 bi por ano e hoje está investindo US$ 50 bilhões por ano. Ela sai de um orçamento de investimento que era de US$ 20 bilhões para um de US$ de 226 bi para os próximos cinco anos. A Petrobras renova 50% da sua força de trabalho nos últimos 10 anos, mais que duplica sua capacidade de pesquisa com a expansão do Centro de Pesquisa da Petrobras (Cenpes). A Petrobras leva a criar redes temáticas que envolvem mais de 100 universidades e centenas de pesquisadores dedicados a temas voltados para o petróleo. Ela descobre o pré-sal. Ela se transforma na maior referência e disparadamente a maior empresa em águas profundas do mundo. Se isso é um fracasso, eu não sei o que é o sucesso.
Falando nisso, o que pensa sobre a divisão dos royalties do petróleo?
A minha opinião é que a situação dos royalties tem que ser modificada. Os royalties do jeito que estão, concentrados no Rio de Janeiro, Bacia de Santos e São Paulo, não é justo. Uma redefinição dos royalties é uma cosia necessária. É claro que a solução ideal, a meu ver, não seria a redefinição somente com base no critério do Fundo de Participação dos Estados. No entanto, a situação dado o processo que ocorreu no Congresso Nacional, a alternativa hoje é a discussão do congresso sobre derrubar o u não o veto da presidenta Dilma. Se o veto for derrubado, a distribuição do royalty para a Bahia vai ser muito melhor, porque ela vai receber muito mais royalties do que recebe hoje e vai reduzir os royalties para o Rio de Janeiro, que vai ter muitas dificuldades, mas é uma distribuição mais justa do que a atual.

Classificação Indicativa: Livre

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