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Lutando pela vida, contra a violência e a fome: mulheres são as mais afetadas na pandemia

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Publicado em 06/03/2021, às 07h43   Marta Rodrigues



Responsáveis em chefiar mais da metade dos lares brasileiros, as mulheres de modo geral estão na lista da parcela mais afetada com os efeitos da Covid19. Além de serem maioria populacional no país, são as que mais sentiram os impactos do desemprego, da violência doméstica e consequentemente transtornos na saúde mental. 

A imensa responsabilidade que lhes recaem em sustentar as famílias, e, ao mesmo tempo, por uma obrigação imposta pelo patriarcado, cuidar e promover o bem estar dentro delas, tem colocado as mulheres num grau de estresse super elevado.  

A taxa de desemprego entre elas foi alta: a última pesquisa do Dieese, divulgada no dia 5 de fevereiro, apontou que 5,7 milhões de mulheres tinham deixado a força de trabalho no terceiro trimestre de 2020, na comparação com o mesmo período do ano anterior. A taxa de desocupação aumentou de 13,9% para 16,8%, sendo que a maior parte entre as mulheres negras. 

Esse cenário tem reflexo direto em Salvador, onde as mulheres também são maioria da população e quase a metade dos responsáveis pela chefia dos lares: 43,8%, conforme a Superintendência de Estudos Econômicos (SEI). 

A fotografia de Salvador, nos centros urbanos, e nas periferias, sempre foi uma só: a mulher negra, cuidando dos filhos, tendo que trabalhar, estudar e se virar de várias formas diante da ausência histórica de políticas públicas de geração de renda no município. 

Atrelada à desocupação, elas já precisavam  encarar a violência dentro e fora de casa, estatística ainda pior na pandemia, causando-lhes graves transtornos na saúde mental. Dados divulgados no dia 4 de fevereiro pela Rede dos Observatório de Segurança apontou que em cinco estados, entre eles a Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará e Pernambuco, tiveram 449 feminicídios em 2020. 

O estudo mostra uma parte do cenário, pois a violência ainda é silenciada e subnotificada. Conforme a Rede, ocorreram 1.823 casos de agressão e feminicídios em 2020, o que dá uma média de 5 mulheres agredidas ou mortas no Brasil a cada cinco horas. Dos casos de feminicídio,  58% por ex-companheiros, e dos de agressão, 66%.

É possível amenizar a violência  em junção com o compromisso de instituir políticas públicas que gerem renda e trabalho para as mulheres, além do papel do Estado no acolhimento, da sociedade nas denúncias e da fiscalização. 

Nossa cidade negra vive da informalidade, e das mais de 487 mil pessoas nesta situação, maior parte é de mulheres.  É preciso pensar sob a ótica do cooperativismo, do afro empreendedorismo para mulheres e do investimento em pequenas e microempresárias nas periferias. Projeto de indicação apresentado pelo nosso mandato, a Política Municipal de Economia Popular e Solidária que abarca todas essas iniciativas, está à espera de implementação pelo prefeito. 

Também apresentei dois projetos de lei este ano para abertura de  cotas mínima de 5% para a contratação de mulheres em situação de violência doméstica nas empresas que licitam com a Administração Pública  e a instituição do Programa de Qualificação da Mulher para o Mercado de Trabalho. Ao governo do Estado, indiquei um convênio com o SineBahia.  

A mulher brasileira luta nessa pandemia não só pela própria vida, mas por todos aqueles que estão desamparados pelo sistema. Num país cujo governo federal é  misógino, precisamos mostrar de que lado estamos, não só no mês de março, mas todos os dias. E tenho certeza de que esse lado é  o dos movimentos sociais e de mulheres que com certeza não apoiam o atual governo e lutam conosco por vacina, trabalho e auxílio emergencial.

Marta Rodrigues é vereadora de Salvador pelo PT e preside a Comissão de Direitos Humanos da Câmara

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