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O "pardo" venceu as eleições

Dinaldo Silva/BNews
Repórter de Política do BNews comenta "polêmica" em torno da autodeclaração racial do ex-prefeito de Salvador sobre as eleições  |   Bnews - Divulgação Dinaldo Silva/BNews

Publicado em 25/09/2022, às 09h10   Yuri Abreu


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Não importa quem será o governador da Bahia a partir de 1º de janeiro de 2023. O vencedor já está definido: "o pardo". Antes que seja crucificado pelas redes ou movimentos sociais, cabe uma explicação. Não me refiro ao ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (UB) que, até agora, é líder nas pesquisas de intenção de voto, mas vê, a cada novo levantamento divulgado, sua vantagem minguar sobre Jerônimo Rodrigues (PT), elevando as possibilidades de um segundo turno no estado, após 28 anos.

Me refiro, sim, à "polêmica" criada em torno da autodeclaração racial por parte do membro do União Brasil. Uma “polêmica”, diga-se de passagem, tardia. Em 2016, quando ele foi candidato à reeleição ao Palácio Thomé de Souza, no mesmo site do TSE o qual agora sabe-se lá qual coligação coletou a informação - que é pública, onde qualquer um pode ter acesso -, o mesmo ACM Neto havia se autodeclarado, também, pardo. No entanto, naquela época, a informação sequer foi explorada pelos rivais.

Vale lembrar que, em outros pleitos, outros candidatos adotaram a mesma postura. Um exemplo foi o líder do governo na Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA), deputado Rosemberg Pinto (PT). Uma reportagem feita pelo colega Vinícius Dias, do time de política do BNews, apontou que o petista, em 2018, se declarava da etnia branca. Já em 2022, mudou de etnia e agora se vê como uma pessoa preta.

O que chama a atenção, acerca de ACM Neto, é como essa questão se sobressai em relação a outras que poderiam muito bem ser muito mais exploradas. Até o “Tanto Faz” tão propalado acabou ficando em segundo plano nas propagandas dos rivais. Excluo desse debate os sites, redes sociais e os memes gerados com o assunto. Afinal, é um território de livre expressão onde o tema foi tratado de maneira divertida e espirituosa, mas obviamente que chamando a atenção para outro assunto que precisa ser abordado com mais profundidade e seriedade.

Certa feita, fui abordado por uma colega: ACM Neto se autodeclarou pardo para obter privilégios financeiros, conforme a legislação. Porém, especialistas em Direito Eleitoral apontam que a questão só é válida para aqueles que disputam as chamadas eleições proporcionais: vereador, deputado federal e estadual. Não é este o caso. “Ah, então você está defendendo o ex-prefeito, diriam outros”. Não. Até porque, há outras questões que poderiam ser melhor abordadas pelos concorrentes. Que tal começar pela “indústria da multa” em Salvador? Ou, o transporte público deficiente e deficitário? Ainda, o aumento exorbitante do IPTU? Por último, se ainda não estiver satisfeito, que tal alguns processos licitatórios em torno de obras realizadas pela cidade, conforme foi revelado por sites de fora da cidade?

Porém, se apegaram em uma questão “menor”, que necessita de um debate profundo em uma sociedade a qual, claramente, se vê cada vez mais fragmentada. Este que vos escreve, reconhecidamente branco, fui considerado pardo quando, aos 18 anos, fui me alistar no Exército. Ou seja, há uma confusão sobre isso, seja por quem nos declara, ou até por nós mesmos. O IBGE tem sua reconhecida importância neste contexto, mas é preciso avançar - e muito. Neste ponto, apesar do clima sempre tensionado existente nos Estados Unidos quanto ao racismo, neste ponto, eles possuem uma definição mais clara.

Só que, por outro lado, dou o braço a torcer, pois o tema pegou de tal forma que vem influenciando no resultado das pesquisas e até rendeu risadas frouxas por parte da mídia nacional. Aí, minha crítica vai para a, infelizmente, consciência crítica do eleitor brasileiro, que ainda enxerga a política como um Gre-Nal, Fla-Flu ou Ba-Vi. Podíamos estar debatendo ideias, só que preferimos, repito, uma "polêmica" tardia para justificar votar no candidato A ou B.

Por isso, independente do que aconteça nas urnas no dia 2 de outubro - ou dia 30, que acredito ser mais provável -, já temos um vencedor destas eleições, não ao Governo da Bahia, que fique claro: o “pardo”.

*Yuri Abreu é repórter de política do BNews

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