Artigo

Brasil da agressividade

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Bnews - Divulgação Arquivo Pessoal

Publicado em 23/01/2023, às 10h20 - Atualizado às 10h22   José Medrado*


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No conhecido livro Raízes do Brasil, Sérgio Buarque de Holanda coloca em seu capítulo 5, A cordialidade como traço marcante do brasileiro esta virtude. O livro foi lançado em 1936. Penso que se tornou lenda urbana, lamentavelmente. Haja vista, que agressões, xingamentos estão na ordem do dia, e são emoções lançadas, escritas e faladas sem quaisquer cerimônias. Paira no ar uma espécie de nuvem de receio, onde nada pode ser dito, pois há possibilidade de imediata agressão do interlocutor, se o dito não for o que ele pensa.

Não se trata, entendo, que pessoas estão se revelando, identificando-se com o que guardam em seu interior.  Craquelou o discurso de “brasileiro é tão bonzinho”. Vejamos, por exemplo, os registros concedidos aos CAC (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador) ao longo do governo Bolsonaro representaram a liberação de 619 novas armas por dia no país, nos últimos quatro anos. Os dados foram obtidos pelo g1, via Lei de Acesso à Informação, junto ao Exército. Antes eram negadas pelo governo Federal. Naturalmente, os favoráveis vão elencar um sem números de justificativas.

Fala-se muito nesses dias em fake news, em narrativas, o que vemos, no entanto, é que a verdade deixou de ser cultivada, na busca do convencimento seja do que foi, não importam os caminhos. Lembro-me da filósofa Hannah Arendt que dizia que a verdade, posto que impotente é e sempre perdedora em choque frontal com o poder, pois possui uma força que lhe é própria: o que quer que possam idear aqueles que detêm o poder, eles são incapazes de descobrir ou excogitar substituto viável para ela. A persuasão e a violência podem tentar destruir a verdade, mas não a substituir, e acresceria com ousadia que cedo ou tarde as verdades detonadas vêm à tona.

O brasileiro precisa quebrar esta relação com a cultura do enganar. Dá-nos a impressão que a tal lei do Gerson e o famigerado jeitinho brasileiro se institucionalizaram, e nós brasileiros, perdemos literalmente a vergonha, quando escancaramos este vale tudo e agressões, violência e mentiras. Não há mais, nem por parte de muitos líderes de religiões diversas, inclusive a minha, a preocupação civilizatória de sustentar em discursos a ética e os bons procedimento. Não. Tornou-se normal o uso das agressões verbais ou escritas, da perfídia, da rudeza. A polidez de fachada cai facilmente, quando um pensamento, um dizer não é aceito.

Vejamos onde vamos parar. 

O texto não reflete, necessariamente, a opinião do BNews.

*José Medrado é diplomado em Letras Vernáculas pela Universidade Católica do Salvador, onde também cursou filosofia. Funcionário Público Federal aposentado do Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região. Membro da Academia Brasileira de Ciências Mentais. Mestre em "Família na Sociedade Contemporânea" (UCSal), e idealizador e fundador da Cidade da Luz, em Salvador, Bahia. Possui múltiplas faculdades mediúnicas, é conferencista espírita, tendo visitado diversos países da Europa e das Américas, cumprindo agenda periódica para divulgação da Doutrina, trabalhos de pintura mediúnica e workshops.

Classificação Indicativa: Livre

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