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Distanciamento do Bem

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Publicado em 27/02/2023, às 09h29   José Medrado


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Na terça-feira (28) estaremos comemorando os 45 anos da Cidade da Luz, em minha memória é vívida aquele 1978, quando um amigo espiritual trouxe a proposta de fazermos um trabalho espírita com os necessitados. Sempre foi uma luta. Todavia, estando à frente da instituição desde sempre, infelizmente, tenho percebido que as pessoas têm ficado cada vez mais distantes do trabalho voluntário e da dedicação do seu tempo à causa do outro. Parece que o processo de solidariedade, de empatia tem arrefecido ao longo desses 45 anos. Claro que as centenas ainda se dedicam, inclusive em nossa Casa, mas o entusiasmo dos mais novos está se perdendo. Curiosamente, tenho percebido que há uma correlação, nada científico, apenas experiência própria, empirismo, que há uma relação entre o crescimento de suicídio e o afastamento das pessoas de atividades sociais, filantrópicas. Naturalmente, que esse não é o motivo, lógico, mas a percepção é de que à medida que as pessoas se afastam de outras dores, a sua, a pessoal, toma uma dimensão mais intensa. Talvez, e infelizmente, ainda há um certo consolo quando a dor do outro é maior do que a nossa, mas se não há o outro para comparação, repito infeliz e equivocadamente, então a nossa dor se torna o epicentro toda a nossa atenção.

O pior, e tenho constato isto também em nossos atendimentos fraternos presenciais, que os dados mais atuais do Ministério da Saúde sobre os números de suicídios na população de 11 a 19 anos têm crescido assustadoramente. Informações compiladas e divulgadas pelo jornal Folha de S.Paulo mostram crescimento de mortes dessa natureza, que chegou a 45% nas faixas de 11 a 14 anos e a 49,3% entre quem tem idades de 15 a 19 anos. Essa alta ocorreu no período de 2016 e 2021. São dados preliminares, mas que já mostram potencial de crescimento geral superior a 17% nos suicídios entre adolescentes. Isso é grave e muito sério. Por que os jovens estão desqualificando tanto as suas vidas?

Sem objetivo outro, só o de ilustrar, a Cidade da Luz tem buscado mobilizar essa gente mais jovens para que se engaje no trabalho social de auxílio aos outros, haja vista que quando começamos éramos todos na faixa dos 17, 18 anos, inclusive eu próprio, tinha 17, e esses que começamos juntos, em certo número, ainda estamos nesta lida e certamente encontramos mais força e energia para driblarmos as nossas próprias dificuldades, dores e lágrimas ao longo da caminhada por esta Terra. Além de ajudarmos, ajudamo-nos.

Pois é, são 45 anos e milhares de atendimentos anuais. Sempre digo que podemos não fazer o ideal, diante de tantas necessidades, mas fazemos o possível. A Cidade da Luz, por opção, não tem subvenção alguma governamental, em nenhuma instância, bem como não há empresários, empresas nacionais e ou estrangeiras que fazem aportes financeiros à nossa Casa. Vivemos das obras mediúnicas que realizo, das doações de amigos, sócios, de pessoas que ainda pensam que fazer o bem faz bem, ainda que é visível a retração no desprendimento. Certamente, por motivos pessoais e de gama diversa. Mas seguiremos. Minha gratidão a todos, a você, que têm sido também mourão onde essa instituição se apoia.

O texto não reflete, necessariamente, a opinião do BNews.

*José Medrado é diplomado em Letras Vernáculas pela Universidade Católica do Salvador, onde também cursou filosofia. Funcionário Público Federal aposentado do Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região. Membro da Academia Brasileira de Ciências Mentais. Mestre em "Família na Sociedade Contemporânea" (UCSal), e idealizador e fundador da Cidade da Luz, em Salvador, Bahia. Possui múltiplas faculdades mediúnicas, é conferencista espírita, tendo visitado diversos países da Europa e das Américas, cumprindo agenda periódica para divulgação da Doutrina, trabalhos de pintura mediúnica e workshops.

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