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Minhas Crônicas Parisienses

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Marcelo Cerqueira @marcelocerqueira.oficial  |   Bnews - Divulgação Reprodução / Redes Sociais

Publicado em 05/01/2025, às 17h27 - Atualizado às 17h42   Marcelo Cerqueira



Para começo de conversa, todo mundo está proibido de morrer antes de conhecer três cidades incríveis no mundo: Paris, Nova York e Manaus. Essas três cidades têm em comum uma exuberância que deixa qualquer visitante encantado.

Comecei a viajar justamente quando terminei a faculdade em 1999. Tudo que aprendi sobre história europeia e da América Latina ainda estava fresco na minha memória. E foi assim que, ao encerrar meus estudos em história medieval, um tema tão relevante que estudei em quatro disciplinas, me deparei com a cidade medieval mais incrível da Europa: Óbidos, em Portugal.

Com a universidade ainda intrinsecamente presente em mim, segui para Paris. Eu e Luiz conseguimos uma hospedagem em um quarto na Citté Universitaire, na Casa de Cuba residência estudantil, mas com uma dinâmica especial: recebia doutorandos de diversos países. Falavam que o Brasil não tinha residência, mas uma embaixada luxuosa. A experiencia foi incrível! A cozinha coletiva era um ponto de encontro onde preparávamos pratos deliciosos, cercados por colegas, como a professora Daniela Calainho do Rio. Ela me convidou para uma experiência inesquecível: comprar um notebook em Londres atravessando o Túnel da Mancha. A ideia era fascinante, mas meu medo de ser detido na alfândega superou a curiosidade de conhecer Piccadilly.

A professora Kátia Matoso, ex-professora da Universidade Católica, que também lecionou em diversas universidades na França, chegando à prestigiosa Sorbonne. Ela nos convidou para assistir a uma de suas aulas. Era impressionante como o ambiente acadêmico francês era distinto: os professores se posicionavam como verdadeiros mestres, enquanto os alunos permaneciam em silêncio, levantando a mão apenas quando tinham certeza absoluta do que dizer. A disciplina e o respeito à palavra do professor eram levados a sério.

Depois da aula, almoçamos na própria Citté. No dia seguinte, fomos a um jantar maravilhoso na casa da professora Kátia, um lar repleto de elegância. Fiquei encantado com o imenso tapete Gobelé, que cobria toda a parede da sala. No jantar estavam Kátia, Jaqueline e outros colegas cujos nomes não me recordo. A amizade entre Kátia e Luiz era fortalecida pelo tema comum de suas pesquisas: escravidão e colonialismo.

Outro momento marcante foi quando Kátia se despediu da universidade, sendo sucedida por Alencastro, que assumiu sua cátedra. Ela saiu grandiosamente, recebendo o título de Chevalier Donner. A cerimônia foi digna de uma celebração real, com a presença de descendentes da princesa Isabel e representantes da Embaixada do Brasil em Paris. No inicio foi lida uma carta da FHC.

Um episódio curioso aconteceu quando saímos da estação Châtelet, uma das maiores de Paris. Ao atravessar a porta do metrô, dei de cara com um político da Bahia, que estava acompanhado de sua assessora. Foi um encontro inusitado e surpreendente! Como ele era de esquerda, foi gentil e nos convidou para uma palestra de Michel Lévi na Casa do Brasil, um renomado historiador.

Outro detalhe peculiar na Citté Universitaire era a diretora da residência. Ela morava na parte superior e estava sempre de robe. Ela só respondia quando era chamada de "Madame Diretora". Certa vez, a televisão do salão nobre desapareceu, gerando burburinho entre os estudantes questionando a segurança. Madame Diretora desceu as escadas imponente e declarou que aquele tipo de situação podia acontecer em qualquer país. Sem mais explicações, deu as costas e deixou todos perplexos.

Viajar é mais do que visitar lugares, é acumular histórias e vivências que ampliam nosso olhar sobre o mundo. As memórias de Paris, Manaus e Nova Yorque, Óbidos e tantos outros destinos seguem vivas e nos lembram de que a verdadeira riqueza está nas experiências e nas conexões que criamos pelo caminho.

Classificação Indicativa: Livre

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