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O pau que deu em Claudia, não deu em Francisco e nem mais ninguém

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Precisamos falar do 'cancelamento seletivo' de Claudia Leitte  |   Bnews - Divulgação Reprodução

Publicado em 03/12/2021, às 09h57   Diego Vieira


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Neste fim de semana a hipocrisia com uma pitada de preconceito, esse disfarçado de preocupação com o cenário da pandemia no Brasil, fizeram-se presentes nas redes sociais. A cantora Claudia Leitte recebeu um linchamento virtual após realizar um show em São Paulo.

A apresentação, autorizada pelo governo de São Paulo, ocorreu no último sábado (27) e contou com a participação de três mil pessoas, quantidade de público permitida pela prefeitura da capital paulista. Além de cumprir com o número de pessoas permitido no espaço, a organização do evento afirmou ter cobrado o comprovante de vacinação de todos os presentes, exigência que consta no protocolo sanitário que viabiliza a realização de shows na maior cidade do Brasil.

Ao publicar um vídeo, que por sinal já foi apagado, em seu perfil no Instagram, a cantora recebeu uma enxurrada de críticas. O nome da artista figurou rapidamente entre os assuntos mais comentados na internet.

Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro chegaram, inclusive, a levantar a tag #ClaudiaLeiteGenocida nas redes sociais. “Claudia Leitte, que vergonha! Cadê os defensores da vida que mandou o povo ficar em casa e a economia agente ver depois?”, escreveu um dos apoiadores do presidente.

Chega a ser engraçado dizer que o intuito do júri que compõe o tribunal da internet esteja realmente preocupado com a situação da pandemia no Brasil, né?

Fico aqui me questionando. Onde estavam essas mesmas pessoas, que se mostram bastante aflitas agora, enquanto excelentíssimo presidente da República promovia aglomerações sem fim, mesmo antes do início da vacinação, vale salientar.

Cadê as críticas com outros artistas que também estão fazendo shows em meio a pandemia? Cadê essa mobilização e as tags para detonar as partidas de futebol com estádios lotados?

Por falar em artistas que já voltaram a fazer shows, praticamente todos, te convido a fazer uma rápida visita no Instagram do cantor Gusttavo Lima, ou Embaixador, como preferir chamá-lo. Uma das suas últimas postagens, um vídeo que mostra 35 mil pessoas em coro cantando uma de suas músicas, durante um show em São José do Rio Preto (SP), recebeu uma avalanche de comentários. Antes de citar alguns deles, é bom frisar que você não leu errado: sim, foram 35 mil pessoas mesmo, segundo o próprio cantor.

Mas, vamos aos comentários: “Brabo”. “Foi incrível”. “Melhor cantor dos últimos tempos”. “Traz esse show para o Rio também”. “O maior desse mundo inteirinho é ele”. Foram alguns dos diversos elogios recebidos pelo sertanejo na rede social. Fofo, né?

Quem também voltou a fazer shows, foi o fenômeno João Gomes, dono do famoso “An, an, an”.
Recentemente, um show feito por ele na cidade de Mossoró, que fica no Rio Grande do Norte, viralizou na web e virou notícia em diversos portais. No entanto, o motivo de tudo isso não foi o fato de o artista ter se apresentado para uma multidão em meio a pandemia. O destaque foi para as cenas de embriaguez, gente queimada e até sexo em público.

Ah ... Vale ressaltar que além de João Gomes, os cantores Tarcísio do Acordeon e Vitor Fernandes também se apresentaram no evento, mas os vídeos viralizaram como sendo apenas do show de João.
Voltando para Claudia Leite.

Fico me perguntando os motivos de apenas ela ter sido detonada por fazer um show durante a pandemia e duas hipóteses me vêem na mente de imediato: será pelo fato de estarmos falando de uma mulher? E/ou pela maioria do público que a acompanha ser LGBTQIA+? Fica o questionamento.

Como diz o velho ditado: “O Pau que dá em Chico, dá em Francisco”. O que, nesse caso, não se aplicou. Ou seja, podemos chamar de cancelamento seletivo?

Classificação Indicativa: Livre

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