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Barreiras, Luís Eduardo Magalhães e São Desidério estão municípios agrícolas mais ricos do Brasil

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Reportagem especial publicada no jornal O Globo deste domingo (25) destaca desempenho econômico da região, em virtude da produção de algodão e soja, durante pandemia. Contudo, prosperidade da região não anda de mãos dadas com a distribuição das riquezas   |   Bnews - Divulgação Arquivo/Agência Brasil

Publicado em 25/07/2021, às 10h51   Redação BNews


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As cidades baianas de Barreiras, Luís Eduardo Magalhães e São Desidério integram a lista dos 50 municípios agrícolas mais ricos do País. 

A tríade constitui um corredor de expansão do agronegócio no Matopiba — como é chamada a região formada por Tocantins e partes de Maranhão, Piauí e Bahia, a mais nova fronteira agrícola do país —, com destaque sobretudo para a produção de algodão e soja.

Uma reportagem especial publicada no jornal O Globo deste domingo (25) destaca que a região baiana, com a alta do dólar e dos preços das commodities com a recuperação de grandes economias após o baque da Covid-19, sobretudo da China, passa pela crise "praticamente imune aos seus efeitos". 

As exportações agrícolas ajudaram a economia brasileira em 2021, mas com efeito reduzido no mercado de trabalho das grandes cidades. O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro - que consiste na soma de todos os bens e serviços finais produzidos - no primeiro trimestre avançou 1,2% puxado pelo desempenho do setor, que cresceu 5,7%. 

O maior impacto ficou no interior. A publicação apurou que as cidades baianas somam R$ 6,9 bilhões em produção agrícola, e o valor deve aumentar. De acordo com o Ministério da Agricultura, a produção de grãos no Oeste da Bahia cresceu 29,7% nos últimos quatro anos. A pasta prevê alta de mais 30% até 2030.

O periódico descreve que em Luís Eduardo Magalhães não há muitas placas de “aluga-se” no comércio do centro da cidade, embora bares e restaurantes tenham sofrido com as restrições da pandemia. 

Nesse contexto, a percepção é de que a pobreza existe mas é menos aparente nas ruas. Há 19,7 mil beneficiários do Bolsa Família em LEM e 34,6 mil em Barreiras, por exemplo, cerca de 22% da população nos dois casos, bem próximo da média da Bahia.

O dinheiro que circula entre a nova elite do Oeste é revertido para investir na mecanização das fazendas, e aquece o tráfego de aviões particulares e a compra de veículos de luxo - uma concessionária da região tem cerca de 200 clientes na fila de espera por uma picape Hilux, importada da Argentina, por uma bagatela que varia entre R$ 278 mil e R$ 360 mil.

"A gente vive em uma bolha. O agro indo bem, todo mundo vai bem", opina Jackson Matos, gestor de vendas da Campo Verde, representante da Toyota no Oeste da Bahia. 

Desigualdades

O modelo de grandes propriedades agrícolas mecanizadas favorece a concentração de renda - um dos principais problemas do Brasil -, enquanto também acaba movimentando a economia local, gerando empregos.

"A agricultura hoje proporciona salários bons, isso começa a se divulgar, e buscam a região para trabalho", avalia Franciosi, que tem fazendas e concessionárias de maquinário agrícola. 

Um dos pioneiros da região na década de 1980, o presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), Luiz Carlos Bergamaschi, atribui o desenvolvimento do agro a um processo de adaptação e investimento em tecnologia para elevar produtividade:

"As pessoas se adaptaram, e com a natureza você não duela, você vive em harmonia. Usamos muita tecnologia, porque é o que salva, é como otimizamos a agricultura", afirma. Por outro lado, o diretor-presidente do Grupo Sertaneja, Antônio Balbino de Carvalho Neto, opina que a desigualdade está aumentando.

À frente de um grupo de empresas em setores diferentes, da pecuária aos imóveis, ele observa um movimento de venda de terrenos e imóveis por pessoas que perderam renda na pandemia e não tinham reservas.

Já Arthur Bragança, coordenador de Avaliação de Política Pública, Agricultura Sustentável e Infraestrutura da Climate Policy Iniciative (CPI), afirma que a produção, principalmente de soja, é o motor do desenvolvimento na região, gerando a expansão do PIB do setor de serviços. Contudo, pondera que distribuir essa riqueza é um desafio.

"A grande dificuldade é transformar a riqueza da soja, em que os produtores são capitalizados, e criar um desenvolvimento local mais amplo. Nas localidades que se beneficiam da expansão da soja não há observação de melhoria de indicadores educacionais e de saneamento, por exemplo", destaca.

Infraestrutura

A reportagem salienta que, pesar de todo o dinheiro que o agronegócio trouxe para o Oeste da Bahia, essa riqueza não é observada na mesma proporção nas cidades da região e ainda existem muitos "gargalos de infraestrutura" em comparação com outras "bolhas de prosperidade" do agronegócio no Brasil.

Alguns dos problemas mais relatados pelos produtores dizem respeito a qualidade das estradas, bem como dos sinais de telefonia e internet ruins, além de deficiências na distribuição de energia elétrica. 

Eles têm se unido para promover obras de melhoramento por conta própria, e o presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), Luiz Carlos Bergamaschi, avalia que esta vem sendo a saída para suprir carências logísticas para escoar a produção.

A principal iniciativa do grupo é a abertura e pavimentação de estradas vicinais. Já foram 140 quilômetros bancados por eles e há mais 700 quilômetros nos planos, mas a região tem sete mil quilômetros de vias precárias. 

Agora, 27 quilômetros receberão asfalto na chamada rodovia São Sebastião, que dá acesso a fazendas que produzem 150 mil toneladas de grãos e fibras por ano.

Procurada pela reportagem para comentar o assunto, o governo da Bahia, por meio de nota, afirmou que há um processo de licitação em curso para a recuperação de mais de 330 quilômetros de rodovias estaduais no oeste baiano.

Já esses serviços nas estradas vicinais contam com a participação indireta do estado, que renunciou ao ICMS sobre produtos agrícolas industrializados, argumentou o governo.

Em vez de recolher o tributo por meio da secretaria de Fazenda, os recursos são dirigidos ao Prodeagro, um fundo “criado para realizar benfeitorias nas áreas de infraestrutura e pesquisa agropecuária, com vistas à melhoria da produtividade”. A distribuição de energia elétrica, por sua vez, registras quedas constantes por não suportar a alta demanda.

A ampliação das redes de distribuição depende de obras do estado. Sem elas, produtores estão investindo em energia solar fotovoltaica, que supre parte do consumo das propriedades. 

Sobre a questão, a secretaria de Infraestrutura da Bahia diz que a rede básica está em expansão, com início de operação de linhas de transmissão e leilões para construção de mais linhas e estudos junto à Empresa de Pesquisa Energética para expansão do sistema no Matopiba.

Já moradores da zona rural reclamam que, além dos problemas compartilhados com os produtores, precisam conviver com a necessidade de percorrer grandes distâncias para ter acesso a serviços básicos. 

O jornal cita como exemplo o distrito de Roda Velha, que abarca a maior parte das fazendas de São Desidério. Embora seja o que mais contribui para o PIB agrícola da região, é descrito no texto como um lugar que parece ter sido esquecido no tempo. 

Cerca de 8,5 mil pessoas vivem em Roda Velha e esta população, para realizar exames médicos e ir ao  hospital, por exemplo, precisa ir até a sede do município de São Desidério, a 130 quilômetros. Também precisam se deslocar até lá para ir ao banco, o que prejudica o comércio local. Há empregos, mas faltam profissionais preparados para ocupar as vagas.

"O benefício desse dinheiro do agronegócio aqui é pouco. A renda vai para lá [a sede do município], e aqui não tem investimento, nem emprego", queixa-se a vendedora Maria Luciana Reis, de 33 anos.

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