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Lula prepara carta para o agronegócio e leva Tebet a palanque para reconquistar setor

Ricardo Stuckert
A redação do texto para o agronegócio está na fase final e deve ser divulgada nos próximos dias  |   Bnews - Divulgação Ricardo Stuckert

Publicado em 06/10/2022, às 21h26   Mônica Bergamo/Folhapress


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O candidato do PT à presidência a República, Luiz Inácio Lula da Silva, prepara uma carta ao agronegócio. A redação do texto está na fase final e deve ser divulgada nos próximos dias.

O PT quer combater o que chama de retórica ultrapassada em relação aos riscos de Lula para o agro, lembrando que os seus oito anos como presidente da república foram marcados por avanços no agronegócio.

Na lista de feitos da gestão de Lula que deverão ser destacados está a regulamentação do plantio de transgênicos, em 2005, pondo fim um mercado irregular que crescia à margem do controle sanitário.

Segundo a reportagem apurou, a carta vai reforçar o compromisso do PT de garantir segurança institucional e financiamentos ao agro.

A proposta é que o agro seja um aliado em outra pauta da campanha petista, a de resgatar a imagem do Brasil como um país que cresce respeitando o meio ambiente. Essa posição foi colocada em xeque pelo aumento das queimadas, dos desmatamentos, da mineração ilegal e da invasão de terras indígenas durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).

A carta, no entanto, pretende deixar claro que o objetivo é ampliar o peso do setor agropecuário na economia não apenas com uma produção sustentável, em sintonia com as demandas ambientais internacionais, mas também com o aumento das exportações, "consolidando o Brasil como potência global na área".

Entre os argumentos para convencer o setor de que as duas coisas andam juntas está o acordo entre Mercosul e União Europeia, que travou por causa dos problemas ambientais registrados no Brasil nos últimos quatro anos.

A expectativa é que o gesto reproduza neste 2022, para eleitores ligados à agropecuária, o mesmo resultado positivo obtido pela "Carta ao povo brasileiro", manifestação feita pelo mesmo Lula durante a campanha de 2002 - um compromisso de que, em caso de vitória, o PT respeitaria normas institucionais.

Na época, havia um grande temor que um governo de esquerda pudesse não respeitar contratos privados, nem fazer uma gestão responsável das contas públicas, por exemplo. O compromisso assumido quebrou resistências e mudou a trajetória da eleição em favor de Lula.

A ofensiva por votos junto ao agronegócio neste segundo turno inclui também a participação de Simone Tebet (MDB) na campanha, considerada um novo elemento no processo de escolha, pelos eleitores, de seu candidato a presidente.

Para apoiadores de Lula, Tebet é um trunfo novo, com potencial maior que o dos apoios de governadores anunciados por Bolsonaro, já que eles já estavam alinhados com o atual presidente antes do segundo turno.

Tebet obteve quase 5 milhões de votos -pouco mais de 4% dos votos válidos. Pode angariar votos de progressistas mais ao centro em qualquer região do Brasil, mas tem especial interlocução com o agronegócio. É senadora pelo Mato Grosso do Sul, e circula bem entre representantes tanto da agropecuária e quanto da agroindústria.

Tebet vai subir no palanque com Lula e Alckmin para ajudar a deter o avanço bolsonarista nesse segmento. A campanha do PT está organizando a agenda de viagens para Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Pará e estados do Nordeste.

O interior de São Paulo é considerado área vital e sensível. Ali também Alckmin tem a missão de conter o avanço do voto bolsonarista.

Não está prevista viagem ao Mato Grosso, onde há muita hostilidade.

A disputa pelo eleitor no campo neste segundo turno é muito acirrada, com a balança pendendo para Bolsonaro, mas o PT acredita ter muitos votos envergonhados nas áreas rurais, que podem contar a favor de Lula com uma abordagem mais eficiente.

Bolsonaro venceu nos estados que são referência em agropecuária, como Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. Nessas áreas, o presidente nem precisa fazer campanha quando mira o voto agro e tem especialmente o apoio de grandes produtores.

Lula por sua vez, ficou na frente em Minas Gerais, e áreas que integram as chamadas novas fronteiras agrícola, como Matopiba, que inclui Maranhão, Tocantins e Bahia. O petista conseguiu apoio de alguns grandes produtores, mas tem ao seu lado especialmente os agricultores familiares e os trabalhadores.

CONHEÇA AS PROPOSTAS DE LULA PARA O AGRONEGÓCIO
- Aumento da produtividade: fortalecimento da produção agropecuária por meio de "financiamento, compras governamentais e investimento público", com inovações orientadas para transição ecológica e energética; constituição de agroindústria de alta competitividade mundial, com fortalecimento da produção nacional de insumos, máquinas e implementos agrícolas
- Segurança alimentar: novo modelo de ocupação de uso da terra urbana e rural, com reforma agrária e ecológica; construção de sistemas alimentares sustentáveis, para garantir o acesso da população a alimentos saudáveis; fomento à produção orgânica e agroecológica; redução de custos de produção e de preços de alimentos frescos e de boa qualidade
- Agricultura familiar: apoio à pequena e média propriedade agrícola e estímulo à ampliação das relações diretas dos pequenos produtores e consumidores no entorno das cidades
- Ciência e tecnologia: fortalecimento da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) para assegurar avanços tecnológicos no campo "essenciais para a competitividade e sustentabilidade tanto dos pequenos quanto dos grandes produtores".
- Sustentabilidade: avançar rumo a uma agropecuária comprometida com a sustentabilidade ambiental e social, para que o Brasil não perca espaço no mercado internacional
- Combate à inflação dos alimentos: política nacional de abastecimento que inclui a retomada dos estoques reguladores e a ampliação de políticas de financiamento à produção de alimentos a pequenos agricultores e à agricultura orgânica

CONHEÇA AS PROPOSTAS DE BOLSONARO PARA O AGRONEGÓCIO
- Aumento da produtividade: manter ecossistemas e capacidade de adaptação às mudanças climáticas; melhor geração de emprego e renda dos produtores rurais; priorizar programas de Defesa Agropecuária; incentivo à exportação; melhora do transporte ferroviário; aumento da produção nacional de fertilizantes
- Sustentabilidade: adoção da bioeconomia para soluções sustentáveis ao sistema de produção; substituição, ao máximo, de recursos fósseis e não renováveis; seguir a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável
- Ciência e tecnologia: incentivo à pesquisa e o investimento em tecnologia para desenvolvimento da indústria, saúde e agronegócio; implementação da tecnologia 5G; estratégias que utilizem o dinheiro público em pesquisas de ponta
- Segurança no campo: criação de políticas para garantir a segurança e liberdade para pequenos e grandes produtores; avanço da regularização fundiária para garantir direito à propriedade e reduzir conflitos no campo

Classificação Indicativa: Livre

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