BNews Agro

Parece leite, mas não é: Crise financeira 'empobrece' fórmula dos produtos lácteos e afeta o consumidor

Pixabay
Especialistas e relatos dos próprios consumidores indicam que houve um aumento na oferta de opções que substituem parte do leite  |   Bnews - Divulgação Pixabay

Publicado em 15/08/2022, às 11h58 - Atualizado às 12h00   Redação


FacebookTwitterWhatsApp

Consumidores brasileiros mais atentos notaram uma mudança importante em diversos produtos lácteos nos últimos meses. Um deles é o Moça, uma marca de leite condensado conhecida e muito utilizada no país. Junto ao produto tradicional, cuja embalagem é azul, as gôndolas dos supermercados foram inundadas por uma nova versão, na cor marrom.

A caixinha azul traz o leite condensado convencional (integral ou desnatado), a marrom é uma "mistura láctea condensada de leite, soro de leite e amido". Uma grande reportagem da BBC revela que esse não foi o único produto lácteo a apresentar uma nova fórmula nos últimos meses.

Na publicação, especialistas e relatos dos próprios consumidores indicam que houve um aumento na oferta de opções que substituem parte do leite por outros ingredientes, como o soro de leite, o amido, o açúcar, a gordura vegetal e os aditivos químicos, como conservantes e aromatizantes.

Algumas marcas, por exemplo, transformaram o creme de leite em "mistura de creme de leite". Já o queijo ralado virou "mistura alimentícia com queijo ralado". O doce de leite, por sua vez, foi substituído pelo "doce de soro de leite sabor doce de leite". Em alguns mercados, até o leite tradicional compete nas gôndolas com novas bebidas lácteas.

"Do ponto de vista nutricional, isso pode ser danoso", alerta Rafael Claro, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). "A estratégia é trocar um alimento in natura por ingredientes mais baratos e com baixa densidade de nutrientes."

A venda dessas opções está regulamentada nos órgãos competentes, como o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) ou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e, a princípio, não fere nenhuma lei.

À BBB, a pesquisadora Kennya Beatriz Siqueira, da Embrapa Gado de Leite, em Juiz de Fora (MG), explica que as movimentações recentes da indústria dos produtos lácteos têm a ver com a crise financeira, a inflação e a escassez de matéria-prima no mercado. "Nos últimos dois anos, tivemos um aumento de 62% no custo de produção do leite", calcula.

Segundo a especialista, toda a cadeia produtiva sofreu com o aumento dos preços: os custos da ração que alimenta as vacas, da energia elétrica que mantém o funcionamento dos currais e do próprio combustível que transporta esse alimento aumentaram consideravelmente. "Por causa disso, muitos produtores se desfizeram de parte do rebanho e venderam as vacas menos produtivas para os abatedouros."

Ou seja, há menos leite saindo das fazendas brasileiras. "Para completar, o meio do ano é o período de entressafra do leite, já que as pastagens não estão boas por causa do clima seco e da temperatura fria", complementa.

Ainda de acordo com a reportagem, a união desses fatores fez com que o leite (e os produtos lácteos no geral) se transformassem nos "vilões da inflação" durante os últimos meses. A estratégia da indústria foi substituir uma parte do leite que ia nas formulações originais dos produtos lácteos, segundo a reportagem. Uma porção desse ingrediente, então, foi trocada pelo soro do leite, um composto que "sobra" e antigamente era descartado durante a fabricação de queijos. "As empresas lidam com a escassez de matéria-prima, mas tentam oferecer alternativas ao consumidor", defende a pesquisadora da Embrapa.

De acordo com o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA), o leite longa vida acumula uma alta de 57% no ano. Outros itens também registraram uma subida considerável. Apenas em julho, houve um aumento de 19% no leite condensado, 17% na manteiga, 16% no queijo e 14% no requeijão.

Siga o TikTok do BNews e fique por dentro das novidades.

Classificação Indicativa: Livre

FacebookTwitterWhatsApp