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Crise e taxas altas deixam diversos blocos fora do Carnaval de Salvador

Publicado em 25/01/2017, às 12h08   Rafael Albuquerque


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AraKetu, Cheiro, Nana Banana, Yes Bahia Club, Papaléguas.  Esses são apenas alguns dos blocos que já foram alguns dos mais disputados do Carnaval de Salvador, mas que este ano não vão desfilar na avenida. Os motivos são diversos, porém a crise econômica e as taxas cobradas por órgãos municipais e estaduais pesam na conta.
Ao Bocão News, representantes de diversas agremiações relataram que as taxas são abusivas e que o retorno hoje não compensa. Porém, ninguém fala abertamente, em especial quando se trata de criticar a prefeitura de Salvador, até porque muitos são sócios ou donos de bandas e temem ficar de fora também dos trios elétricos bancados pela gestão municipal especialmente para a folia.
Para se ter uma ideia, os blocos Cheiro, Nana Banana, Araketu, Yes, Papa e Nu Outro deixaram de desfilar, colocando bandas como Cheiro de Amor, Chiclete com Banana, Eva, Araketu e atrações de música eletrônica cada vez mais longe dos trios elétricos. Outras agremiações só vão desfilar um ou dois dias, ou então arrendaram suas vagas para blocos sertanejos ou de forró.
O Cerveja e Cia, que antes desfilada quinta, sexta e sábado de Carnaval, inclusive com Ivete Sangalo, só vai sai um dia esse ano. O Coruja, bloco principal da cantora juazeirense, só desfilará dois dias. O Fissura sairá com Tomate  dois dias, assim como o Balada, que ficará um dia sem desfilar, e nos outros dias terá Tuca e Léo Santana à frente.
O Baby Léguas, alternativo do Papaléguas, sairá um dia como Blow Out, aposta de Claudia Leitte para a folia. O tradicionalíssimo Eva também mudou e desfilará apenas na sexta e sábado de Carnaval. O Inter (antigo Internacionais), que já teve o Asa de Águia e a Timbalada à frente, em 2017 sairá dois dias com Psirico. O Alô Inter desfila dois dias como Burburinho e o Pra Ficar terá um dia na avenida como Aviões Elétrico.
É claro que a dinâmica do Carnaval já não é a mesma, que a identidade dos blocos já se perdeu. Diante disso, uma das estratégias é arrendar as vagas de blocos tradicionais para atrações de fora, em especial os representantes da música sertaneja, que têm cada vez mais público e chegam a esgotar abadás, o que poucos cantores baianos conseguem atualmente.
Em conversa com Washington Paganelli, presidente da Associação de Blocos de Trio (ABT), ele afirmou ao Bocão News que há uma conversa com a Saltur com relação às taxas, mas confirmou que entre os órgãos que cobram taxas para desfile de blocos no Carnaval estão: “Ecad, Sefaz Municipal, Sefaz Estadual, Sucom, Bombeiro, Fundo Especial de Aperfeiçoamento dos Serviços Policiais (Feaspol), Secretaria de Saúde municipal e estadual, polícia Técnica, Detran e Crea”.
Isso falando em blocos, porque se o assunto for Camarote, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur) é a responsável pela taxação, que funciona da seguinte forma: taxa para construção de camarotes: R$ 62,71 por m2 de área construída; atividade sonora: varia de R$ 92,44 a 3.007,88 a depender do público (quantidade); atividade: R$ 563,65 (são as atividades desenvolvidas por terceiros nos camarotes, como bar, restaurante, salão, dentre outros); e publicidade: R$ 62,71 por m2.
Em recente entrevista ao apresentador José Eduardo, na Rádio Metróplole, o secretário Claudio Tinoco, da Cultura e Turismo, foi enfático ao afirmar que a crise tem sua parcela de contribuição para a ausência de alguns blocos, mas citou outros fatores: “há um problema de viabilidade que não envolve só taxa dos blocos. Tem o caso dos cordeiros, uma atividade gerida de forma legítima pela Justiça do Trabalho, que inviabilizou a atividade pra alguns os blocos manterem abertos”.
O secretário se refere ao caso dos cordeiros, que recebiam um valor irrisório, que variava de R$ 10 a R$ 15 reais por dia, além de não terem a devida proteção individual para o trabalho desenvolvido. A categoria passou a ter seus direitos cobrados pelo Ministério Público do Trabalho, que inclui tênis, protetor auricular e luvas, por exemplo, o que acarretou em mais gastos para os donos de blocos.
Sobre reajuste das taxas, o secretário afirmou: “estamos levantando informações sobre o volume de arrecadação. Não teve um aumento significativo. Conversei com o pessoal da Sedur e não houve aumento que não fosse correção da inflação”. Apesar de todos os problemas, Tinoco afirmou que está disposto a manter o diálogo aberto com o trade do Caranval, mas por enquanto quem perde é o folião que cada vez mais deixa de ver a prata da casa desfilar na folia de momo.
Uma das poucas empresárias que tiveram a coragem de falar ao Bocão News sobre as taxas cobradas pela prefeitura, Dona Vera Lacerda, do AraKetu, relatou também dificuldades com falta de patrocínio: “a gente trabalha pra caramba pra botar bloco na rua e ainda fica com dívida. Hoje é muito difícil conseguir patrocínio. Os poucos blocos que conseguem é patrocínio de cervejaria, e ainda assim diminuiu bastante”.
Dona Vera afirmou ao Bocão News que o apoio do poder público faz falta, em especial por conta das taxas elevadas: “fizemos um levantamento e as taxas são absurdas. Falta apoio do poder público, e muito, e eu acho isso um absurdo. A taxa cobrada é absurda e pesa no orçamento. Fizemos o levantamento pra saber nossas possibilidades e ficamos tristes com taxas, cordeiros, seguranças, trios absurdamente caros”.
Com tantos entraves e dificuldades, o Ara encontrou uma forma de desfilar na quinta de Carnaval: “com o trabalho social que temos em Periperi, pra não ficar sem sair vamos fazer a Batucada do Ara, mistura de percussão e sopro, com os cantores no chão, lá na Barra”.
A empresária afirmou que está aguardando uma resposta do poder público, mas que está desiludida: “tá bem difícil, é uma pena”. Em uma breve análise, Dona Vera Lacerda fez uma projeção na empolgante para a folia baiana: “há muito tempo venho falando nisso. Do jeito que vai, o Carnaval da Bahia vai desaparecer. Todos os estados investem em carnaval de rua, e a Bahia vai ficar fora disso? Não sei mais pra onde vai caminhar. Eu estou muito triste porque sou uma das pessoas que mais ama o Carnaval da Bahia e luta por ele”.

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