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Carnaval: construiu-se camarotes, megaestruturas, e esqueceram que a música é mais importante, diz Claudia Leitte

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Para a artista, os investimentos para a realização da folia deveriam ser feitos para os artistas e não para os empresários  |   Bnews - Divulgação Arquivo / BNews

Publicado em 10/01/2018, às 09h54   Redação BNews



Em entrevista, a cantora Claudia Leitte defendeu que o “problema do axé” deve ser visto de uma forma ampla para o gênero voltar a liderar as paradas de sucesso. “Como vamos colocar nossas músicas nas redes digitais? Como o adolescente que consome a música sertaneja vai ouvir a música baiana? A gente tem que pensar assim. Procurar onde está o erro não é o caminho. O caminho é consertar o erro. Tenho que fazer música com a galera do funk, com as duplas sertanejas, mas não pode ser uma coisa só do axé”, disse durante entrevista ao Jornal da Cidade Segunda Edição, da Rádio Metrópole, nesta terça-feira (9).

Também durante conversa, a cantora carioca afirmou que existe a necessidade de criar músicas que durem ao longo dos anos. “Para gravar uma música, precisa de muito tempo, dedicação. Aí leva um tempo pra criar, sei que o consumo hoje é imediato. Eu tenho necessidade de construir uma música, ela precisar nascer de um canto, se não ela morre em um verão. Eu toco as músicas do Babado Novo até hoje, mesmo com toda inocência. Eu tenho registros que são inesquecíveis para mim. A gente não pode achar que musica é jingle”, destacou.

A cantora também avaliou a ausência de patrocínios aos blocos de Carnaval em Salvador como um “momento de transição necessário”. Para a artista, os investimentos para a realização da folia, atualmente concentrados pelo poder público, deveriam ser feitos para os artistas e não para os empresários.

“Houve um comportamento aqui em que se foram colocados os pés pelas mãos. O artista da música baiana, o artista que está aqui, merece respeito, apoio e suporte. Foi construído um império para se ganhar dinheiro, para a monetização da música baiana, a monetização do coração do carnaval. Construiu-se camarotes, megaestruturas, investiu-se em um monte de coisas e se esqueceram que a música é mais importante, que o que a gente faz é mais importante”, analisou.

A ex-vocalista da banda Babado Novo, afirmou também que a busca pela carreira solo foi intensificada após os artistas ficarem isolados com a profissionalização do Carnaval. “Eu ouço, muitas vezes, as pessoas falarem para mim: ‘ah, por que você saiu dos seus empresários’? Manoel [Castro] é uma pessoa maravilhosa, amo Manoel, Cau Adan… Tenho gratidão eterna, porque acreditaram em mim, mas eu acho que a gente precisa olhar mais para o artista, sabe? O cara sai, vai fazer uma carreira solo e não presta mais, e não serve mais? E aí, trabalha-se contra, para não tocar na rádio, fala mal dos artistas… Isso não é só para um artista como eu, estou falando de mim, mas eu ouvi várias histórias, relatos de vários artistas. Isso é muito ruim, porque a gente joga junto, dentro do próprio time. O dinheiro fala mais alto, e quando fala mais alto mata a tradição”, lamenta.

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