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BNews Folia 2023: Conhece os "figurões" que dão nomes aos principais circuitos do Carnaval de Salvador? Senão, vamos te contar

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O BNews Summer preparou uma matéria especial para te deixar inteirado sobre quem foram esses "figurões" homenageados nos circuitos da folia  |   Bnews - Divulgação Divulgação/PMS

Publicado em 31/01/2023, às 06h00   Camila Vieira


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"Hoje vou no Osmar. Ah, amanhã curtirei no Dodô. Eu já prefiro a tranquilidade do Batatinha". Os carnavalescos de plantão e até mesmo os turistas estreantes na folia já sabem que o assunto são os Circuitos do Carnaval de Salvador. Cada pedaço da Folia de Momo carrega um nome. E você sabe qual a representatividade e conhece um pouco da história dessas figuras que intitulam os trajetos da maior festa de rua do mundo? O BNews Summer preparou uma matéria especial para te deixar inteirado sobre quem foram esses "carnavalescos das antigas”, que embora não estejam mais por aqui, permanecem bem vivos na "boca do povo" durante os dias da folia.

No dia 22 de março de 2023 o saudoso Osmar Macêdo, que dá nome ao Circuito do Campo Grande, completaria 100 anos de nascimento. Diante da sua história tão marcante no Carnaval de Salvador, receberá uma justa homenagem de seus herdeiros. Para o Carnaval deste ano, o trio Armandinho Dodô e Osmar - formado por Armandinho, Aroldo, André e Betinho - vai desfilar com o tema Centenário Osmar Macedo. Ele que intitula o primeiro circuito criado na festa de Momo da capital baiana foi um dos inventores do trio elétrico. 

Depois de se estabelecer como dono de uma empresa de metalurgia, Osmar que era engenheiro eletrônico convida, em 1940, seu parceiro eletrotécnico Dodô, que sobrevivia como técnico em eletrônica, para armarem uma novidade para animar o carnaval de rua de Salvador: uma Fobica com dois alto-falantes. Assim surgiu o trio elétrico, um caminhão equipado com alto-falantes e amplificadores, que leva os músicos pelas ruas e é seguido pelos foliões, tornando-se símbolo do Carnaval baiano.

Arquivo Pessoal
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O historiador, radialista Cristóvão Rodrigues, um dos principais nomes quando o assunto é o Carnaval de Salvador, fala com muita particularidade sobre as figuras que nomeiam os trajetos da folia. “Dodô e Osmar eram amigos de infância da Cidade Baixa. Osmar um ser criativo, diria um gênio. Ele encontra Dodô e resolvem fazer algo para entrar no Carnaval. Como todos sabem são os criadores do trio elétrico que saiu a primeira vez nos anos 50 e até hoje é a grande atração da nossa festa. Quem trouxe isso para nós? Dodô e Osmar”, endossa Rodrigues, lembrando que para além do Carnaval, Osmar teve contribuições importantes em obras como a Ponte do Funil e o Teatro Castro Alves.

Responsáveis por um dos capítulos mais férteis da história da música de raiz nordestina, Dodô e Osmar foram considerados os pais da música elétrica. Além de eletrificar o frevo pernambucano, criaram uma nova forma de levar a música para os foliões do carnaval de Salvador. Para isso a dupla criou (1942) uma guitarra elétrica, a guitarra baiana, um ano depois do norte-americano Les Paul ter construído seu primeiro protótipo de guitarra elétrica.

Despedida de Osmar - Após passar mal depois de tomar medicamento para controlar a arritmia cardíaca, Osmar morreu, em 30 de junho de 1997, vítima de insuficiência respiratória e falência múltipla dos órgãos, deixando a Bahia de luto. Numa última homenagem, seu corpo passou pelas ruas do centro de Salvador, em cima de um carro do Corpo de Bombeiros acompanhado pelo trio elétrico Tripodão, ao som de vários sucessos de “Dodô e Osmar”, sob os aplausos da multidão. O enterro foi cemitério Jardim da Saudade, no bairro de Brotas. Na Praça Castro Alves onde eles comandaram por diversos anos o encontro de trios elétricos que fechava o carnaval de Salvador, foi assentado um busto dos dois pais do trio elétrico e da guitarra baiana.

O trio elétrico segue comandado pelos filhos e netos. Segundo Armando da Costa Macedo mais conhecido como Armandinho, filho de Osmar que é instrumentista, cantor e compositor brasileiro, a homenagem a dupla é justíssima. “Faz total sentido que os circuitos carreguem os nomes de Dodô e Osmar, afinal eles representam a história musical da Bahia. Graças ao trio elétrico de Dodô e Osmar é que temos esse Carnaval maravilhoso passando por tantas transformações e permanecendo tão vivo até hoje”, frisa.

Arquivo Pessoal/Armandinho
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Como filho de Osmar, Armandinho se intitula um discípulo da música. “Sigo fazendo a história dele. Carrego os ensinamentos do meu velho Osmar que esse ano completaria 100 anos. Ele é minha inspiração. Nunca deixaremos morrer o nome dessas figuras tão expressivas e tão importantes para a história do Carnaval”, assinalou Armandinho. O circuito Osmar conta com 4 quilômetros de trajeto, proporcionando aos foliões uma média de 5 horas de curtição passando por importantes locais históricos de Salvador como a Avenida 7, a praça Castro Alves e a Avenida Carlos Gomes.

Quem foi Dodô - Já o Adolfo Antônio Nascimento, conhecido como Dodô, foi técnico em eletrônica, artesão, instrumentista e um dos inventores do trio elétrico. Dodô, que nasceu em 10 de novembro de 1920, morreu em 15 de junho de 1978, aos 57 anos, deixando só seu parceiro Osmar. Artesão por excelência, Dodô fabricou a maioria das guitarras baianas existentes na Bahia até o final dos anos 70. Sua habilidade era de intensa criatividade. Quando Osmar teve necessidade de tocar vilão tenor e guitarra baiana, ele confeccionou, em 1948, um instrumento de dois braços. A pedido de Armandinho, ele, também, construiu uma guitarra-cavaquinho a qual foi dada o nome de Dodô e Osmar por ser o instrumento da dupla. 

Dodô era expert em eletrônica e trabalhava construindo instrumentos de som e tocava violão estridente enquanto Osmar tocava cavaquinho, bandolim e guitarra. Ele gostava de adaptar arranjos de músicas clássicas e populares ao ritmo quente da folia. Em 1933 Dodô entra no conjunto musical criado por Dorival Caymmi, que animava algumas festas e reuniões de fim de semana. O Grupo 3 1/2, cujos integrantes eram Dorival Caymmi, Zezinho Rodrigues, Alberto Costa e Dodô, começava a fazer sucesso na Bahia e se apresentar nas rádios. 

Em 1943 Dodô junto com Osmar inventa o “Pau Elétrico”, instrumento musical de som estridente, criado num pedaço de cepo maciço. Adaptaram o captador em baixo das cordas, obtendo assim, um som alto e sem o efeito de microfonia. Ficaram com isso, popularmente conhecidos como a "Dupla Elétrica. “Dodô era calado, músico introspectivo, ao contrário de Osmar”, lembra o radialista Cristóvão Rodrigues.

Em 1950, Dodô e Osmar desfilaram pela primeira vez na Fobica, um Ford T 1929. O Ford foi equipado com caixas de som e pintado com confetes e serpentinas coloridas, sendo assim, a primeira réplica do Trio Elétrico que tirou o carnaval dos abafados salões de baile para as ruas. No ano seguinte, eles convidaram o amigo e músico Temístocles Aragão para tocar um terceiro instrumento eletrizado. A Fobica foi substituída por um veículo maior equipado com alto-falantes, geradores e lâmpadas fluorescentes.

Os três músicos se apresentavam em cima da carroceria de uma pick-up Chrysler, modelo Fargo, com quatro cornetas de som (alto-falantes) e um gerador à gasolina. Assim, estava formado o trio musical, o trio Elétrico. Osmar tocava o “cavaquinho-pau-elétrico" de som agudo, Dodô com "violão-pau-elétrico" de som grave e Temístocles com o triolim som médio (conhecido o violão tenor).

O Presidente do Conselho Municipal do Carnaval (Comcar), Joaquim Nery, afirma que Dodô não teve uma vida tão longa. “Deixou sua marca no Carnaval, por isso, tão importante eternizá-lo dando nome a um dos circuitos”, diz. Neri lembra ainda de Temístocles Aragão. “Essa foi uma terceira figura que logo depois se retirou do grupo”, explica. Sobre os circuitos carregarem os nomes de Dodô, Osmar e Batatinha, Neri considera extremamente legítimo.

“Homenagem justa, correta, que mantém viva na memória desses músicos excelentes que são a raiz da nossa festa de rua”, considerou.  O circuito Dodô (Barra/Ondina) possui quatro quilômetros saindo do Farol da Barra até a praia de Ondina, onde grandes estrelas da música desfilam e arrastam multidões. O percurso do circuito dura cerca de seis horas.

Batatinha – Oscar da Penha, nascido em 5 de agosto de 1924, morreu em 3 de janeiro de 1997. Mais conhecido como Batatinha, foi um compositor e cantor brasileiro, considerado um dos maiores nomes do samba da Bahia. Começou a trabalhar cedo, aos 10 anos, como marceneiro em Salvador, sua cidade. O sambista que intitula o Carnaval do Pelourinho foi um linotipista dos Diários dos Associados. Batatinha era quem juntava as letras de ferro para que o jornal fosse impresso.

Arquivo
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O sambista deixou clássicos do ritmo eternizados em muitas vozes famosas da Música Popular Brasileira (MPB). A cantora Maria Betânia gravou muitos dos seus sucessos. “Ele não era uma figura carnavalesca, era mais do samba, era um homem tranquilo, quieto, talvez por isso, tenha dado o nome aquele circuito que é mais calmo”, explica o historiador e radialista Cristóvão Rodrigues.

O Presidente do Conselho Municipal do Carnaval (Comcar), Joaquim Nery, explica que foi o Conselho que resolveu fazer a homenagem a Batatinha. “Um sambista que liderou o Movimento do Samba na Bahia por muito tempo, autor de grandes clássicos do gênero. Era um entusiasta e inventor do Dia do Samba, em 2 de dezembro. Depois da morte dele, o Comcar resolveu fazer essa homenagem a ele que foi morador do centro Histórico”, explica Neri.

Se você busca um programa mais tranquilo, para levar a família, o Circuito Batatinha é a opção mais indicada. No lugar de trios elétricos, estão as fanfarras e bandas de percussão e sopro, que se concentram em praças e percorrem as ruas de paralelepípedo do centro de Salvador, tocando marchinhas. Também conta com atrações de samba, pagode, reggae e hip hop, além de concentrar os blocos de afoxé, que buscam resgatar as raízes da cultura afro.

Classificação Indicativa: Livre

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