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Sucesso nas rede sociais, Cãomunicando ensina técnicas de adestramento positivo para pets

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Iniciativa tem o objetivo de passar conhecimento sobre os cachorros e sobre adestramento positivo, que é a educação por meio da recompensa  |   Bnews - Divulgação Arquivo pessoal

Publicado em 13/07/2021, às 13h40   Laiz Menezes


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Muitas pessoas acreditam que o adestramento canino está restrito às ordens de “senta, deita ou rola”. Também é comum pensarmos que o cachorro só precisa ser adestrado quando surgir algum tipo de problema comportamental. Mas a verdade é que o adestramento pode melhorar muito a comunicação entre o animal e o tutor para que ambos vivam em harmonia.  

Por isso que a bióloga Luana Marques, residente em Salvador, criou o Cãomunicando em fevereiro de 2019. Hoje, a conta faz sucesso nas redes sociais. O perfil tem o objetivo de passar conhecimento sobre os cachorros e, principalmente, sobre adestramento positivo, que é a educação por meio da recompensa. 

O perfil começou como um hobby para Luana, mas a coisa foi ficando mais séria quando ela percebeu que suas dicas estavam ajudando muitos seguidores que não sabiam como educar seus cachorros. Muitas pessoas que não sabem como colocar uma focinheira no seu pet, ou fazer com que ele pare de comer chinelos e roubar comida, encontram respostas na conta Cãomunicando. 

“Acumulei conteúdo e informações que mudaram a forma como eu enxergo e me relaciono com os cães e o Cãomunicando surgiu como uma forma de compartilhar esse conhecimento, que foi muito útil para mim e poderia ser para outras pessoas também”, disse Luana ao BNews

A bióloga conta que ela tenta passar o conteúdo que ela encontra em artigos científicos, por exemplo, de uma forma mais “mastigada” para seus seguidores, assim, todos conseguem entender. Quando o perfil foi criado, Luana começou a postar textos que explicavam a agressividade dos cachorros e, neles, ela afirma que a melhor forma de evitar esses acidentes e ter uma convivência mais harmônica com os cães é conhecer o problema por vários ângulos. Luana escreveu nos primeiros posts que a condição na qual os cães são mantidos é um fator relevante para que eles venham a desenvolver agressividade, por exemplo. Segundo ela, cachorros acorrentados têm cerca de 2,8x mais chances de se envolverem em mordidas. E, a partir dessas publicações, a bióloga foi acumulando seguidores. 

Cada vez mais, ao decorrer das postagens, a Luana foi se adentrando ainda mais no comportamento canino. O conteúdo, de acordo com ela, se adapta para seguir o gosto do público, que é composto principalmente de profissionais da área pet, como adestradores, passeadores,  donos ou funcionários de creches e hotéis, além, claro, dos tutores de cães.

“Já recebi algumas mensagens bem legais de pessoas agradecendo pelos conteúdos, dizendo como ajudou com seus próprios cães. No fundo esse é justamente o objetivo do perfil e por isso fico feliz em saber que ele tenha sido atingido”, declarou.

Questionada sobre publicar conteúdos para gatos, a profissional explica que conhece pouco sobre os felinos para falar com autoridade sobre eles. "Futuramente, quem sabe, eu planejo estudar mais e fazer alguns cursos voltados para esse público”, disse. 

Adestramento positivo

Luana trabalha no seu perfil e na sua vida profissional com adestramento positivo, que tem como premissa principal o não uso de maneira intencional de aversivos no treinamento de animais. “Podemos considerar como aversivo qualquer coisa que cause potencialmente dor e desconforto para os pets, principalmente porque temos pesquisas científicas que vêm apontando o quanto o uso dessas ferramentas e estratégias pode gerar medo, estresse e agressividade nos cães”, afirmou. 

Segundo a profissional, essas ferramentas aversivas, além de não serem necessárias para o processo de ensino, podem ser danosas para o bem-estar dos animais, não só para os cães. De acordo com Luana, esses aversivos podem ser um colar de choque ou de pinos, uma borrifada de água ou até mesmo um grito muito alto. Mas o próprio animal vai “dizer” se a técnica faz mal ou não para ele a partir do efeito que ela causa no seu comportamento. 

“Algumas dessas ferramentas foram desenvolvidas e pensadas para funcionar de maneira aversiva, então elas até poderiam, em tese, não serem usadas de forma não aversiva, mas não é propósito para qual elas foram criadas. Nosso trabalho se baseia em utilizar outras técnicas, principalmente o que chamamos de reforço positivo, que é o uso de recompensas, que podem ser diversas outras coisas além da comida. Além disso, também podemos remover a recompensa como forma de 'punição'”, explicou Luana à entrevista. 

O princípio geral do adestramento positivo é entender o comportamento dos animais de uma maneira global, entender que o bem-estar não é feito somente, por exemplo, de dar petiscos ou recompensas. Luana afirma que é preciso entender que muitas vezes o tutor ou adestrador precisa considerar a saúde e nutrição do animal, visto que esses fatores podem interferir no comportamento do pet. 

Enriquecimento ambiental
Um dos conteúdos mais trabalhados no Instagram da Luana é o Enriquecimento Ambiental, conhecido como EA, que também faz parte do adestramento. A profissional explica que o método foi criado para ser utilizado em animais de cativeiro, principalmente os que eram criados em zoológico. 

“O zoológico surgiu como forma de entretenimento para o homem e ele era composto por animais que eram trazidos de forma questionável de seus hábitats naturais para um ambiente completamente artificial, com gaiolas, grades e pisos de cimento. Esses ambientes eram, na maioria dos casos, inadequados para as necessidades desses animais e eles começavam a apresentar comportamentos programados, que é o que chamamos de comportamentos repetitivos.”

De acordo com Luana, os comportamentos repetitivos podem ser identificados quando o animal começa a andar em círculos ou a se automutilar. Outras características também são percebidas em aves, que arrancam suas penas. Os pets podem, inclusive, se lamber e se mordiscar em excesso, o que pode causar feridas. Todas essas alterações de comportamento podem ser causadas pelo estresse que é ocasionado no animal que vive em um ambiente que não foi preparado e desenvolvido para ele. 

Por isso, a ideia do enriquecimento ambiental é permitir que os animais se comportem de acordo com a sua espécie. Os elefantes, por exemplo, segundo Luana, colocam lama sobre o corpo quando estão em ambientes quentes para evitar que haja um aumento muito grande da temperatura corporal. Por isso, o EA é uma técnica que busca exatamente isso: permitir que os animais tenham comportamentos naturais como forma de agregar bem-estar e reduzir o estresse. 

“Isso envolve mudar os recintos e realizar atividades que trabalhem a cognição e permitam que os pets usem as ferramentas que eles têm como espécie para resolver problemas. Nossos cães e gatos, por mais que sejam espécies domesticadas, eles não são humanos. Eles se adaptaram para viver em nossa companhia, mas eles não deixaram de ter comportamentos e necessidades típicas de suas espécies. Os cachorros têm necessidades particulares que diferem das nossas, como cavar e rolar, muitas vezes rolar em substâncias que não possuem um cheiro muito agradável. Eles exploram muito o mundo com o faro, e possuem uma percepção auditiva diferente da nossa. Já os gatos, por exemplo, gostam de arranhar, de procurar ambientes para se entocar. Os bichanos caçam muito e por isso muitas brincadeiras dos felinos envolvem a simulação de caça”, detalhou a profissional. 

A bióloga ressalta que os tutores também precisam tentar se adaptar ao mundo dos pets para criar um ambiente saudável de convivência entre os dois. “A gente traz eles para o nosso mundo e eles se adaptam para isso, mas poucas são as vezes que nós cruzamos essa ponte e tentamos ver o mundo pelo lado deles. Eles ouvem muito mais o som e sentem muito mais o cheiro, esse é o mundo que eles vivem, não é só dar água e comida, mas dar oportunidade para eles fazerem as coisas naturais de sua espécie de uma forma segura”. 

Saiba como fazer atividades de enriquecimento ambiental dentro de casa/apartamento

Luana afirma que o tutor pode oferecer algumas das refeições de forma interativa para estimular o animal a buscar o alimento ao invés de recebê-lo em um pote. O dono do pet pode "esconder" alguns grãos de ração ou petisco por um cômodo para o cão procurar ou oferecer a ração dentro de uma garrafa pet com furinhos. É importante ressaltar, no entanto, que no uso de brinquedos caseiros ou comerciais, é essencial supervisionar para garantir que o item é seguro para o cão.

Além disso, o tutor pode permitir que o cachorro explore o  ambiente durante os passeios. “Deixar o cão cheirar, já que ele vê o mundo especialmente através do olfato. Quando possível, por que não deixar o cão escolher que caminho quer seguir?”, questiona Luana. Também é importante oferecer oportunidades para o cachorrinho roer itens adequados, como brinquedos nylon específicos para cães ou itens naturais, como cascos e chifres de boi. 

Já para os felinos, é interessante fazer, segundo a bióloga, atividades envolvendo o catnip e o matatabi, plantas para gatos que são vendidas em pet shops, para estimular o olfato. O tutor pode oferecer também locais como prateleiras ou arranhadores altos para os bichanos. Os gatos também adoram "tocas" ou caixas para servirem como esconderijo. 

Vale ressaltar que todas as atividades de enriquecimento ambiental podem promover o gasto de energia física e mental do pet e uma conexão maior com os seus instintos. Além disso, o pet fica menos agressivo, menos estressado e adquire mais confiança no meio ambiente e na sua família. Por isso que, acompanhado do adestramento, o animal que pratica atividades de EA viverá uma vida muito mais saudável e tranquila. 

Serviço 
Luana faz atendimentos presenciais e online que podem ser feitos uma vez na semana, mas também podem variar de acordo com a disponibilidade do tutor. As sessões duram em média uma hora.  

Classificação Indicativa: Livre

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