Brasil

Com onda de violência, moradores do ES pedem volta do policiamento

Publicado em 08/02/2017, às 06h18   Folhapress


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Cinco dias após a onda de violência que resultou em dezenas de mortes, saques e mudanças no cotidiano dos moradores da Grande Vitória, um contramovimento ganhou força nesta terça (7) exigindo a volta dos policiais às ruas das cidades capixabas.
Em frente ao quartel do Comando-Geral da Polícia Militar em Vitória, moradores que pediam a volta do policiamento discutiram com familiares dos policiais, na tarde desta terça. Conflito semelhante foi registrado em Guarapari, no litoral do ES.
Houve tentativa de diálogo entre mulheres de ambos os lados, mas a tensão cresceu quando os manifestantes contrários à paralisação atearam fogo em pneus, bloqueando uma avenida, o que levou o Exército a agir.
Por volta das 17h30, centenas de pessoas se aglomeravam dos dois lados. Para conter o tumulto, os militares usaram gás lacrimogêneo.
"Polícia, cadê você, vim aqui só pra te ver", entoavam os manifestantes. Do outro lado, familiares e policiais à paisana respondiam: "Cadê o governador?". A tensão continuava no início da noite.
Nesta terça, segundo o governo do Estado, havia 80 homens da Força Nacional nas ruas e outros 120 chegariam à noite para atuar na contenção da onda de violência que deixou 75 mortos desde sexta (3), segundo o Sindicato dos Policiais Civis. O Estado não confirma o total de mortes.
Outros 500 policiais estavam nas ruas, ante um efetivo normal de 2.000 homens. A previsão da PM é que o número cresça nesta quarta (8).
"Duas lojas da rede em que trabalho foram saqueadas, além de lojas de amigos que foram roubadas. Concordo com o aumento do salário, mas não com a forma [paralisação], que prejudica a população", disse Geane Lopes da Silva, gerente de loja.
VIOLÊNCIA NO ES
Funcionária de uma lanchonete na capital, Valença Valfre disse que acumula prejuízos desde domingo (5). "Fechou porque teve um arrastão e não abriu mais."
Apesar da presença da Força Nacional e do Exército, o Estado teve mais um dia violento. Um tiro atingiu um ônibus, houve um tiroteio no bairro Santa Rita, em Vila Velha, e em Serra, um condomínio de prédios foi invadido.
Desde sexta, familiares de policiais fazem manifestações em frente aos batalhões da corporação. Como os PMs são proibidos de realizar greves pela Constituição, seus familiares fazem a frente do movimento que bloqueia os batalhões e reivindica reajuste salarial de 65% até 2020.
As famílias reclamam que o secretário de Segurança, André Garcia, só aceita conversar se o policiamento for normalizado. "Se o movimento acabar, ele não vai procurar a gente", diz uma das mulheres, que não quis se identificar. O secretário, por sua vez, diz que tenta o diálogo. "Intransigente" é uma palavra ouvida de ambos os lados.
À tarde, o comandante-geral da PM, Nylton Rodrigues, recebeu representantes das famílias para discutir o fim do movimento e agendar uma reunião com o governo do Estado para a próxima sexta (10).
Ele se comprometeu a não punir os policiais, desde que as unidades fossem liberadas nesta terça. As mulheres do movimento decidiram continuar as manifestações.
CHORO
Durante a manhã desta terça, dezenas de familiares de vítimas de homicídios lotavam o DML (Departamento de Medicina Legal) em Vitória. Uma mãe chorava pelo filho de 19 anos, que havia saído da prisão há oito meses.
"Passaram duas pessoas de moto atirando contra ele durante o dia. Estou sem comer e sem dormir."
Já Fernando Cândido buscava um primo que não sabia se estava vivo após ter sido linchado –ele teria roubado um celular. "Ficamos sabendo por um vídeo no WhatsApp. Quando vimos, reconhecemos que quem estava apanhando era ele."
Policiais civis do departamento de homicídios relataram que a maioria dos mortos tinha sinais de execução, com tiros na cabeça, no peito e nas costas.
Apesar de aulas e atendimento em postos de saúde permanecerem suspensos, alguns comerciantes abriram as portas nesta terça e uma frota reduzida de ônibus circulou em Vitória.
O secretário da Segurança, André Garcia, disse que "gatos pingados" não deixam que os soldados saiam dos batalhões. Segundo ele, o governo enfrenta um caso "claro" de chantagem que começou a ser revertido com a chegada da Força Nacional e do Exército. 

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