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Operação na Rocinha tem sete mortos pela polícia

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O Batalhão de Choque afirma que foram apreendidos um fuzil, seis pistolas e duas granadas  |   Bnews - Divulgação Folhapress

Publicado em 24/03/2018, às 17h10   Folhapress


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Ao menos sete pessoas foram mortas na manhã deste sábado (24) pela Polícia Militar na Rocinha, favela da zona sul do Rio.

A PM afirma que sete pessoas armadas foram baleadas em confronto com agentes do Batalhão de Choque, socorridas e levadas para o Hospital Miguel Couto, onde já chegaram mortas.

Moradores relataram à Folha que policiais atiraram contra um grupo que estava na saída de um baile funk na localidade chamada Roupa Suja. Eles afirmam que os agentes atiraram a esmo, embora reconheçam que havia alguns criminosos entre eles.

Esta é a ação policial que resultou no maior número de mortes por policiais desde o início da intervenção federal na segurança pública do estado.

O Batalhão de Choque afirma que foram apreendidos na ação um fuzil, sete pistolas e duas granadas.

Familiares de Matheus da Silva Duarte Oliveira, 19, que não quiseram se identificar, negaram que o rapaz fosse envolvido com a quadrilha da região. Eles mostraram uma foto do jovem com uma perfuração de bala nas costas, indicando como prova de que ele fugia quando foi baleado.

A mãe do rapaz, que pediu para não ter o nome divulgado, disse que Oliveira fazia parte de um grupo de valsa na Rocinha. Ele participou de uma festa na noite de sexta-feira (24), foi para o baile funk, e se mudaria para casa da mãe, na favela de Antares (zona oeste), por um período –ele vivia com a avó.

"Estava vindo  levar ele para minha casa para esperar essa poeira da Rocinha passar. Não deu tempo", disse ela, que saiu da Rocinha há quatro anos após ser indenizada pelo Estado pela remoção causada pelas obras inacabadas do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

O Centro de Operações da Prefeitura orientou atenção aos motoristas que passarem pela estrada Lagoa-Barra. A via não chegou a ser fechada.

INTERVENÇÃO FEDERAL
As mortes na Rocinha ocorrem pouco mais de um mês após o início da intervenção federal na segurança pública do estado. A intervenção, inédita, foi anunciada pelo presidente Michel Temer (MDB) em 16 de fevereiro, com o apoio do governador Luiz Fernando Pezão, também do MDB.

Temer nomeou como interventor o general do Exército Walter Braga Netto. Ele, na prática, é o chefe dos forças de segurança do Estado, como se acumulasse a Secretaria da Segurança Pública e a de Administração Penitenciária, com PM, Civil, bombeiros e agentes carcerários sob o seu comando.

O Rio de Janeiro passa por uma grave crise política e econômica, com reflexos diretos na segurança pública. Desde junho de 2016, o Estado está em situação de calamidade pública e conta com o auxílio das Forças Armadas desde setembro do ano passado. 

Não há recursos para pagar servidores e para contratar PMs aprovados em concurso. Policiais trabalham com armamento obsoleto e sem combustível para o carro das corporações. Faltam equipamentos como coletes e munição.

A falta de estrutura atinge em cheio a moral da tropa policial e torna os agentes vítimas da criminalidade. Somente no ano passado 134 policiais militares foram assassinados no estado —neste ano já são 31.

Policiais, porém, também estão matando mais. Após uma queda de 2007 a 2013, o número de homicídios decorrentes de oposição à intervenção policial está de volta a patamares anteriores à gestão de José Mariano Beltrame na Secretaria de Segurança (2007-2016).

Em 2017, 1.124 pessoas foram mortas pela polícia. Em meio à crise, a política de Unidades de Polícia Pacificadora ruiu —estudo da PM cita 13 confrontos em áreas com UPP em 2011, contra 1.555 em 2016. Nesse vácuo, o número de confrontos entre grupos criminosos aumentou.

Apesar da escalada de violência no Rio, que atingiu uma taxa de mortes violentas de 40 por 100 mil habitantes no ano passado, há outros Estados com patamares ainda piores. No Atlas da Violência 2017, com dados até 2015, Rio tinha taxa de 30,6 homicídios para cada 100 mil habitantes, contra 58,1 de Sergipe, 52,3 de Alagoas e 46,7 do Ceará, por exemplo.

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