Cidades

Futebol solidário vira jogo político em Porto Seguro

Publicado em 20/10/2015, às 19h40   Leo Barsan (Twitter @leobarsan)


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Aos 45 minutos da realização do Futebol Solidário – evento de cunho beneficente – no próximo sábado (24), em Porto Seguro, Extremo Sul baiano, uma escalação de 11 condicionantes para a liberação do estádio municipal tem gerado uma disputa entre o propositor do evento, o deputado federal Uldurico Pinto (PTC), e a prefeita Claudia Oliveira (PSD).

Em resposta à solicitação de uso do equipamento, a secretaria municipal de Esporte e Lazer enviou um ofício estabelecendo as condições para que a bola rolasse em campo com a presença de 15 deputados federais, entre eles Tiririca (PR), e do senador Romário (PSB). Entre as regras está a confecção de ingressos, que ficaria sob responsabilidade da prefeitura. O documento foi o pontapé para que ficasse evidenciada a rivalidade entre Uldurico, pré-candidato a prefeito de Porto Seguro, e Claudia, candidata à reeleição.

Em entrevista à rádio local 88 FM, nesta terça-feira (20), o deputado federal afirmou que a prefeita estaria preocupada com a vinda do senador, que é presidente da CPI do Futebol. O estádio teve a primeira etapa da reforma entregue três dias antes do início da Copa do Mundo 2014 e funcionou como centro de treinamento da Suíça. Um ano e quatro meses após o evento internacional, a reforma, que recebeu recursos de R$ 4,2 milhões dos governos federal e estadual, ainda não foi concluída.

“Querem controlar quem entra e quem sai do estádio seja pelo motivo de as obras não terem sido concluídas ou por inveja, um sentimento que não representa o evento. Isso (a não conclusão da reforma) pode despertar a atenção de Romário, com certeza. Se ela for pensar politicamente, é ruim para ela. Espero que a prefeita volte atrás”, disse Uldurico, em contato com a rádio.

“Tentei de todas as maneiras possíveis fazer um evento que fosse em consenso com a prefeitura, que é um órgão que deve ser respeitado e tem que ter representação no evento. Não faria briga política de forma alguma. Mas o entendimento do secretário de Esportes e da prefeita não foi esse. Triste saber que a prefeita não viabilizou”, complementou o deputado federal.

Acusações

O ex-prefeito de Porto Seguro, Ubaldino Pinto, foi ainda mais enfático e supôs, em vídeo que circula nas redes sociais, que a prefeita desviou recursos da reforma do estádio. “Ou não quer que Romário esteja no estádio em que ela é acusada de desviar mais da metade dos recursos para a reforma, ou está com dor de cotovelo. Quer assumir como se fosse dela uma ação na qual não tem nenhum envolvimento”, disparou.

Por meio da assessoria de comunicação, a prefeita Claudia Oliveira informou que não se recusou em liberar o estádio para o evento beneficente, mas propôs o controle do acesso “para resguardar a segurança do público”. “A medida é para que não ocorra tumulto em frente ao estádio no dia do jogo. Estão fazendo politicagem em cima da festa”, disse, em resposta oficial.

Além disso, a gestora afirmou ter contribuído com estruturas da prefeitura para a realização do evento. “Cedemos equipe médica, logística de trânsito e até a guarda municipal, se for necessário. Não há porque alegar que estamos negando. É mentira e não existe inveja. Queremos que o evento seja realizado. Enquanto fazem politicagem, a prefeitura faz gestão”, avisou Claudia.

Reforma

O secretário de Esporte e Lazer, Enildo Rodrigues, reiterou ao Bocão News, que não há resistência da prefeitura em ceder o estádio. “A capacidade máxima é de 1,5 mil pessoas. Ninguém está dificultando nada, apenas nos preocupamos com a segurança do povo. Por isso, propomos que confeccionaríamos ingressos que seriam trocados por alimentos não perecíveis”, alegou.

De acordo com Rodrigues, a prefeitura não recebeu recursos para a reforma do equipamento. A obra, segundo ele, ainda está pendente de reparos estruturantes como a ampliação da arquibancada, construção da cabine de imprensa, instalação do alambrado, elevação do muro e conclusão de parte do vestiário. “Apesar disso, a segurança do público não está em risco. Não veio recurso para a prefeitura e não temos nada a temer”, disse, em referência à presença do senador Romário.

Apesar de não ter executado a reforma, a prefeitura gerencia a realização de eventos no estádio. Questionado sobre o cronograma para a conclusão da reforma após mais de um ano da Copa, o secretário municipal de Obras, Marlus Brasileiro, jogou a responsabilidade para o governo estadual. “A minha pasta se mantinha como órgão fiscalizador. Com a extinção da Secopa, quem monitora os recursos é o Governo da Bahia. Vou procurar no Estado quem está responsável”, garantiu.

A reportagem procurou o secretário estadual do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte, Álvaro Gomes, para comentar o assunto. Segundo ele, as atribuições da Secopa foram redirecionadas para Setre. “Sobre esse processo, especificamente, tenho que verificar em que situação se encontra para fornecer informações mais precisas”, pediu. A Companhia de Desenvolvimento Urbano da Bahia (Conder) também está verificando se a conclusão da obra está sob responsabilidade da empresa.

Jogo

O Bocão News também procurou o senador Romário, mas até o fechamento da reportagem a assessoria do parlamentar ainda não havia respondido. De acordo com Uldurico Pinto, o prefeito de Eunápolis, Neto Guerrieri (PRTB), cedeu o Estádio Itamarzão para a realização do Futebol Solidário. “Estamos em contato com ele. É lamentável que tenhamos que mudar o local. Os deputados e o senador Romário não acreditaram que está ocorrendo este impasse. Estamos na luta para que seja em Porto Seguro. É um evento apartidário”, assegurou.

O local do jogo deve ser definido nesta quarta-feira, a três dias do evento. Os alimentos arrecadados serão doados a entidades que tratam de pacientes com câncer e dependentes químicos.

Classificação Indicativa: Livre

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