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Representantes da Dow Química são ouvidos pelo MP e geólogo não descarta abertura de nova cratera em Vera Cruz

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"Ainda não se sabe a causa da abertura da cratera", aponta geólogo da Agência Nacional de Mineração (ANM)  |   Bnews - Divulgação Reprodução

Publicado em 23/01/2019, às 16h46   Caroline Gois


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Descoberta em de 30 de maio de 2018 durante um trabalho de rotina, a cratera que se abriu no município de Vera Cruz, na área de propriedade da empresa multinacional americana Dow Química, tem assustado os moradores da região. O local da erosão é Utilizado pela Dow para extração de salmoura, uma mistura de água e sal usada na fabricação de produtos químicos. 

Após oito meses do surgimento da cratera, a Dow afirmou ao BNews que segue com estudos adicionais para conhecer a causa da erosão na Vila Matarandiba, em Vera Cruz, na Ilha de Itaparica. Em setembro do ano passado, o Ministério Público do Estado da Bahia instaurou um inquérito para investigar a erosão. O inquérito pedia perícias técnicas da empresa e de órgãos como Instituto Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) e a Agência Nacional de Mineração (ANM). As inspeções serão realizadas com a presença do MP. 

Segundo a promotora de Justiça Eduvirges Ribeiro Tavares, os representantes da Dow Química foram ouvidos em 10 de dezembro de 2018 e foram entregues relatórios Técnicos I e II do Consultor da Dow, o geofísico e geólogo Marcos Botelho. Entre os relatórios estão os de Investigação com a Técnica Geofísica de Radar de Penetração (GPR) e Investigação de Geofísica do subsolo na barragem e na área do sinkhole; relatório das ações do Plano de Contingência deflagrado em Matarandiba pela Defesa Civil do Estado da Bahia em conjunto com Órgãos do Município de Vera Cruz/BA. 

O MP aguarda ainda o resultado da perícia realizada por uma empresa alemã e do último estudo do geólogo Marcos Botelho, com previsão para abril de 2019, mas já cobrados este mês de janeiro pelo MPE. "Enviamos ofício ao INEMA e ANM cobrando, respectivamente, os estudos realizados e o resultado das perícias, com prazo para resposta ainda em vigência. Encaminhamos ainda ofício ao INEMA solicitando a suspensão de licença/autorização para abertura de novos poços (requeridos pela DOW para 2019, segundo informações desta ao MPE) para extração do salgema até que sejam elucidadas as causas do surgimento da cratera. Os resultados das perícias também serão examinados pela equipe técnica do MPE", afirmou a promotora.

De acordo com a Dow Química, estudos adicionais estão sendo realizados nas proximidades da erosão e dos poços de extração de salgema desativados na década de 80, para confirmação de outras variáveis geológicas para descobrimento da causa do fenômeno. "A Vila de Matarandiba, o acesso à comunidade e a área atual de mineração da Dow estão seguros, de acordo com estudo conduzido pela consultoria independente alemã Institute for Geomechanics, referência mundial no tema. Mesma conclusão foi obtida pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM). O terreno ao redor da erosão ainda não está estabilizado, fenômeno geológico esperado em incidentes como este", afirmou a Dow, por meio de nota ao BNews. 

Segundo a empresa, isso acontece porque, atualmente, a parte inferior da erosão possui um perímetro maior do que o de suas bordas superiores. "Sob o ponto de vista técnico, a tendência é de que as bordas da erosão fiquem do mesmo tamanho que o fundo. Como medida preventiva, ainda, mesmo com a possibilidade extremamente remota de formação de um novo sinkhole (abatimento da superfície), a Dow conta hoje com tecnologias de última geração, como as medições de satélite de alta precisão e os sensores microssísmicos para monitoramento em tempo real de qualquer atividade anormal no subsolo da região. Desde o início do acompanhamento, nenhuma variação geológica foi identificada".

O geólogo e gerente regional da Agência Nacional de Mineração (ANM), Cláudio Cruz Lima, não descarta da possibilidade da abertura de uma nova cratera na região, mas tranquiliza a população. "Segundo os estudos preliminares apresentados pela Dow Química, a cratera abriu em concordância com uma falha geológica e o povoado de Matarandiba não é cortado por essa falha, porém estamos aguardando a conclusão dos estudos para descartar totalmente que não há perigo a comunidade", afirmou ao BNews. Segundo ele, ainda não se sabe a causa da abertura da cratera e "estamos aguardando os estudos conclusivos da Dow Química e da CPRM". 

Questionado sobre a interdição das atividades da Dow Química em Matarandiba, o geólogo foi taxativo: "Se for comprovada ligação da cratera com a exploração de salgema, a ANM pode determinar a interdição das atividades de mineração de salgema, mas ainda não há comprovação que existe essa relação".

A Dow afirma que o primeiro lote de resultados destas avaliações tem prazo previsto de conclusão no segundo trimestre de 2019. "Importante destacar que a comunidade de Matarandiba está segura, de acordo com os resultados do estudo geomecânico divulgado no final de novembro, conduzido pela consultoria independente alemã Institute for Geomechanics (IFG), referência mundial no tema. Mesma conclusão foi obtida pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM)", ressalta a empresa.

O geólogo explica que a área é cortada por uma série de falhas geológicas, que estão inativas a milhões de ano, portanto é geologicamente estável. "A cratera continuará crescendo até que as paredes estejam estabilizadas. Por estar em um local de mata e devido a área estar isolada, não acredito que possa haver consequências significativas". disse.

Para Cláudio Cruz, a cratera não para de crescer "provavelmente devido a erosão das “paredes” da cratera, que inicialmente eram quase verticais". O geólogo reforça que a ANM acompanha a situação desde que foi informada pela Dow Química. "Logo após ser informada, foi feita uma vistoria no local que gerou diversas notificações, dentre elas, a realização de um estudo para saber as causas do surgimento da cratera. Também foram feitas duas reuniões com a comunidade local, onde participaram diversos órgão envolvidos. Outras vistorias foram realizadas ao local, uma delas com a participação de um consultor contratado pela ANM e coordenadores lotados na sede do órgão. A ANM também solicitou a Dow Química uma apresentação dos estudos preliminares, realizada no dia 11/12/2018 na sede regional da ANM", relatou. Ainda segundo ele, estão envolvidos a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), INEMA, Defesa Civil e Prefeitura Municipal de Vera Cruz. 

Procurada, a diretora de Fiscalização e Licenciamento ambiental do município de Vera Cruz, Priscila Veloso, afirmou que a prefeitura vem acompanhando toda situação desde o início em conjunto com a Defesa Civil do Estado. "Desde, inclusive, todas as comunicações com os órgãos como INEMA, ANM, Serviço Geológico. Todos os órgãos foram comunicados através da prefeitura. Estamos acompanhando todos os trâmites, inclusive junto ao Ministério Público com diversas reuniões", afirmou.

Segundo Priscila, juntamente com a Defesa Civil, a prefeitura de Vera Cruz vem implantando um plano de contingência na localidade de Matarandiba. "Visando, em primeiro plano, a segurança da população e também querendo que as coisas fiquem claras. Identificar qual foi a causa, se há riscos em outras áreas de risco", ressaltou, alegando nunca ter havido algo parecido na região.

A diretora informa ainda que todos os laudos estão sendo recebidos pela prefeitura e "foi a prefeitura quem deu as notificações à empresa. Estamos mantendo contato direto por meio de medidas diretas e indiretas visando a segurança da população, que é o mais importante", reforçou.


Apesar do tamanho da erosão e da falta de respostas concretas sobre o que pode ter causado o buraco, a Dow Química ressalta que como medida preventiva, ainda, mesmo com os dados que mostram que a formação de um sinkhole é extremamente improvável na vila de Matarandiba, assim como na área atual de mineração de sal-gema da Dow e no acesso à ilha. A empresa afirma que instalou tecnologias de ponta que oferecem informações em tempo real dos movimentos do subsolo na área. "Desde o início do acompanhamento, nenhuma variação geológica foi identificada: Dados de satélite de alta precisão - esta tecnologia permite monitorar e recuperar a história da movimentação do solo em toda a região da ilha, com precisão milimétrica. Com este estudo é possível identificar qualquer variação no solo da região; Microssísmica - instalação de micro sensores para monitorar continuamente qualquer movimento e qualquer possibilidade de novas ocorrências. Cinco novos sensores foram importados e já foram instalados, sem mostrar variações até o momento. A capacidade de cobertura de cada equipamento atinge um raio de 4km, que abrange toda a ilha de Matarandiba", destacou.

Em nota, a empresa presente da Bahia desde a década de 60, esclarece que as autoridades e órgãos competentes estão cientes dos resultados do estudo geomecânico e das providências tomadas pela empresa, bem como a comunidade de Matarandiba. "Desde junho, reuniões periódicas têm sido realizadas com os moradores da ilha a fim de atualizá-los sobre os estudos, providências e esclarecer dúvidas, atividade que prosseguirá nos próximos meses. A linha direta de comunicação, via WhatsApp (número 71 99688-8419), segue disponível. A Dow reforça ainda o pedido para as pessoas se manterem afastadas do local da erosão, uma vez que o terreno ainda não está estabilizado. Isso acontece porque, atualmente, a parte inferior da erosão possui um perímetro maior do que o de suas bordas superiores. Sob o ponto de vista técnico, a tendência é de que as bordas da erosão fiquem do mesmo tamanho que o fundo". 

A mais recente medição mostra que a erosão conta com 89,5m de comprimento, 40,9m de largura e 36,4m de profundidade. 

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