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De lenda à realidade: moradores de Cel. João Sá relatam que não acreditavam em rompimento de barragem

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O fato que até então era tido como uma lenda para os pouco mais de 20 mil habitantes que residem no local  |   Bnews - Divulgação Vagner Souza/BNews

Publicado em 12/07/2019, às 22h06   Diego Vieira



Amontoados de móveis molhados espalhados nas ruas, casas deterioradas, centenas de pessoas desabrigadas e o sentimento de apreensão. Esse é o atual cenário da pacata cidade de Coronel João Sá, situada na região nordeste da Bahia. O município foi o mais afetado pelo rompimento da barragem do Quati, localizada na cidade vizinha, Pedro Alexandre.

O fato que até então era tido como uma lenda para os pouco mais de 20 mil habitantes que residem no local se concretizou na tarde desta quinta-feira (11). Em uma rápida conversa com os moradores, o que mais se ouve é que o medo de um possível rompimento da barragem sempre existiu, mas devido a diversos alarmes falsos ninguém acreditava que isso um dia fosse acontecer.

"Na hora eu estava na cozinha quando a água começou a entrar. Mas eu não sair de casa porque eu não estava acreditando naquilo. As pessoas passaram gritando 'corre que a água tá subindo', mas eu disse: não vou correr não porque tenho fé em Deus. Até que a água subiu muito e não consegui mais sair até a chegada dos bombeiros", relatou a aposentada Maria Trindade em meio aos destroços de uma das paredes de sua casa que caiu após a inundação. "Só tive tempo de salvar os meus documentos e o cartão do banco, mas o que importa mesmo é a minha vida", completou.

Quem também não acreditava no rompimento da barragem é o comerciante Claudevan Santana. Abrigado em uma escola ao lado da esposa, ele conta que permaneceu em casa mesmo após os alertas da ruptura da estrutura.

"O povo chegou lá dizendo que a barragem tinha estourado, mas continuei em casa. Porque sempre rolava esses boatos aqui. Então fiquei em casa vendo o movimento pra ver se os vizinhos iriam tirar as coisas de dentro de casa. Sinceramente não acreditei que a água vinha tão forte. Há uns dois meses teve uma enchente aqui que chegou a alagar a cozinha lá de casa e na época o pessoal disse que a barragem tinha estourado, mas nada aconteceu aí dessa vez ninguém acreditou", relatou o comerciante em uma das salas de aula da unidade escolar que desde a noite de quinta se transformou em seu quarto.

Além dele e da esposa, 20 famílias também foram abrigadas na Escola Municipal Rui Barbosa, localizada na parte alta do município. Lá, elas foram acolhidas por voluntárias que se sensibilizaram com a situação. É o caso de Maria das Dores que trabalha como auxiliar de serviços gerais da escola.

"Eu me comovi com a história dessas pessoas. A minha família não foi afetada, mas meus amigos perderam tudo. Aqui estamos fazendo o acolhimento dessas pessoas, fazemos café da manhã, almoço e janta pra tentar diminuir um pouco do sofrimento delas". 

De acordo com o prefeito de Coronel João Sá, Carlinos Sobral, 328 famílias foram afetadas diretamente pelo rompimento.  "Isso não quer dizer que todas elas tiveram problemas de inundação de água", pontuou, após se reunir com o governador do estado, Rui Costa (PT), na noite desta sexta (12).

Já o governador, afirmou que medidas de preventivas foram adotadas para que outras famílias não sejam afetadas pelo ocorrido. "São [tomadas] várias medidas preventivas, mas o mais urgente é evitar que pessoas sejam acidentadas. Então, todas as medidas para prevenir qualquer tipo de acidente com as pessoas. Depois a gente vê reparos e danos nas casas".

De imediato, até a chuva parar, a nossa preocupação não pode ser outra senão preservar vidas humanas. Todas as outras questões vamos ver depois de a chuva parar, aí sim vamos ver o que vamos fazer de estradas, recuperação de casas, pessoas desabrigadas e tentar ajudar as pessoas a comprar o seu mobiliário", enfatizou o governador.

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