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“A problemática do descarte e tratamento de resíduos está longe de ser resolvido”, diz especialista

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Os resíduos de Salvador são descartados em um aterro sanitário que está saturado  |   Bnews - Divulgação Leitor/ BNews
Bernardo Rego

por Bernardo Rego

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Publicado em 21/04/2023, às 05h40


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O lixo produzido pela sociedade é uma questão permanente no debate das políticas públicas. O ser humano consome e descarta todos os dias alimentos, objetos, roupas, etc. A grande dificuldade enfrentada é o que fazer com esse lixo e de que forma ele pode beneficiar os cidadãos.
Na cidade do Salvador, por exemplo, sabe-se que há um aterro sanitário localizado na rodovia Cia-Aeroporto, onde é recebido o lixo da capital e de cidades da Região Metropolitana. Contudo, o referido aterro encontra-se saturado e, por enquanto, não há uma solução para solucionar o impasse.
Segundo dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, a Bahia possui 82,2% de cobertura de coleta domiciliar de resíduos sólidos.  
Ainda de acordo com os dados, a Bahia gerou 4,21 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos em 2021. Desse total, 46,8% foi disposto em aterros sanitários; 40,6% em lixão; e 12,6% em aterros controlados. O Estado possui 14 aterros sanitários; 31 aterros controlados; e 224 lixões.
O presidente da Empresa de Limpeza Urbana (Limpurb), Omar Godilho, contou que um dos grandes desafios encontrados em Salvador é a operação de coleta devido ao relevo irregular e o descarte irregular feito pela população.
“A coleta em uma cidade como Salvador já dispõe de alguns desafios geográficos. Salvador é uma cidade de relevo irregular, e com áreas com difícil acesso para o trânsito de veículos coletores. Por isso, a Limpurb dispõe de diversos equipamentos para o serviço, mas mesmo assim ainda se depara com outras dificuldades como o descarte irregular de resíduos de construção civil, poda, inservíveis e volumosos em calçadas e vias públicas, que ocasionalmente inviabilizam a entrada de veículos maiores, e o estacionamento irregular de veículos”, afirmou.
“Além desses desafios logísticos, existe uma dificuldade comportamental: a dificuldade da população de fazer o seu descarte próximo ao horário de coleta. Desta forma, o cidadão evita a poluição do solo, a vinda de roedores e insetos peçonhentos, a transmissão de doenças, odor e acidentes, e contribui para uma cidade mais limpa”, acrescentou.
Godilho destacou que a empresa possui uma preocupação em relação ao meio ambiente. “A empresa criou o Ponto Verde: um espaço público com mudas e caqueiras feitas de pneus montados a partir da extinção de um ponto de descarte irregular. Juntamente com a implantação do ponto, a equipe conversa com a população do entorno explicando como contribuir, e instala placas instrutivas e proibitivas de descarte”, explicou.
A reportagem também procurou um especialista com o objetivo de entender melhor como essa questão pode ser solucionada e quais os aspectos essenciais para que o lixo deixe de ser um vilão e se torne um aliado.
O engenheiro sanitarista e ambiental, João Pedro Rocha, destacou que um dos problemas é o saneamento básico, mas já há uma proposta de melhoria nesse sentido. “O saneamento básico é um grande problema nacional e os resíduos sólidos que fazem parte do saneamento estão passando por grandes mudanças na gestão nos últimos 10 anos. Com a criação da Lei 12.305 (Política Nacional de Resíduos Sólidos), muitas situações melhoraram, protocolos e procedimentos foram implantados, mas ainda temos muito o que melhorar pois a problemática de tratamento e descarte dos resíduos ainda está bem longe de ser resolvido”, salientou.
“Possuímos mais da metade dos municípios brasileiros descartando seus resíduos em lixões a céu aberto. No âmbito nacional e estadual estão sendo criados consórcios entre prefeituras para criação de aterros sanitários para receber resíduos de várias cidades ao mesmo tempo em um único local, ambientalmente correto”, acrescentou.
O sanitarista aproveitou para enfatizar que a coleta seletiva é, de fato, uma medida positiva para a melhoria do aproveitamento do lixo. “A coleta seletiva é uma ferramenta importante na gestão de resíduos, pois conseguimos reciclar e reutilizar muitos resíduos em uma nova linha produtiva e aumentamos a vida útil dos aterros sanitários, já que será descarregado apenas os resíduos que não possuem mais nenhum valor agregado ou que tenham alguma função. Logo, o aumento da aplicação de coleta seletiva no nosso país e no nosso estado é de suma importância para melhorar a gestão de resíduos sólidos”, pontuou.
A secretária de desenvolvimento urbano da Bahia, Jusmari Oliveira, em conversa com o BNews, frisou que o objetivo da Bahia é ser um estado onde não exista mais lixões e que o lixo possa ser utilizado como recurso. Ela acrescentou que há um projeto de criação de um programa único onde possam ser envolvidos todos os municípios.
“O lixo é um grande desafio para o poder público e nós queremos ser o estado com lixão zero, por isso há um projeto para criar um programa unificado que englobe todos os municípios a fim de que o lixo possa ser utilizado como matéria prima para produzir novos produtos. É preciso que as três esferas do poder público se juntem para encontrar uma solução”, disse Oliveira. 

Classificação Indicativa: Livre

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