Coronavírus

13 moradores em situação de rua já testaram positivo para o coronavírus em Salvador

Ilustrativa/ Defensoria Pública da Bahia e Rede Brasil Atual
"Ficamos ainda mais invisíveis para maioria. As pessoas nem encostam. Piorou e muito e eu nem sei direito o que é o corona”, disse morador em situação de rua  |   Bnews - Divulgação Ilustrativa/ Defensoria Pública da Bahia e Rede Brasil Atual

Publicado em 21/07/2020, às 10h28   Aline Damazio


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O pouco acesso a banheiros para higiene, conviver em locais insalubres, adversidade climática desta época do ano, além da pandemia que assola o mundo somam ingredientes para uma bomba relógio: nos últimos quatro meses, a população em situação de rua de Salvador já concentra 13 positivados para Covid-19, segundo a secretaria de Promoção Social e Combate à Pobreza (Sempre).

E esse número pode ser ainda maior, pois somente parte das 1.949 pessoas que passam por uma das 21 casas de colhimento municipais foram testadas em um universo de entre 14 a 17 mil pessoas em situação de rua. São crianças, mulheres grávidas, homens, famílias inteiras que estão em vulnerabilidade social, dados revelados segundo o levantamento mais recente realizado em uma parceria do projeto Axé com a Universidade Federal da Bahia – UFBA e o Movimento Nacional da População Rua. Os dados mais recentes são de 2017.

Para as pessoas em situação em mendicância, máscaras, álcool em gel e muitas vezes água são artigos de luxo para a realidade de quem adotou as ruas de Salvador como residência, em meio a uma pandemia do novo coronavírus. Vale destacar que o nível de contágio está alto e o vírus circula em uma velocidade implacável nas ruas da capital da Bahia, que já registra 46.549 casos confirmados, segundo o mais recente  boletim epidemiológico divulgado no domingo (19) pela secretaria da Saúde.

Outro desafio das ruas são usuários de drogas que compartilham cachimbos de crack e a não infestação da doença. Para os usuários de substâncias psicoativas ainda não há alternativas para tentar barrar a proliferação da Covid-19, somente recomendações da Defensoria Pública [leia abaixo].

Lavanderias comunitárias públicas, reforço na quantidade de refeições, doações de roupa... Apesar das ações da prefeitura e de grupos de doações voluntárias são milhares de homens e mulheres nas ruas da capital baiana que recorrem a abrigos, muitas vezes acabam sujeitos a aglomeração nas filas de uma das casas de acolhimento municipal para se alimentar, situação que não é recomenda pela organização mundial de saúde (OMS) durante pandemia.

A reportagem do BNews perguntou a Washinton, morador de rua há “tanto tempo” que ele não soube estipular, se a realidade das ruas está mais durante os meses que o novo coronavírus se tornou conhecido.

Com olhar distante, ele pensou, brincou com uma máscara suja que estava no chão e respondeu:  "Ficamos ainda mais invisíveis para maioria. Agora as pessoas nem encostam, nem ligam quando pedimos umas moedas, não ouvem quando falamos 'tio, tia estamos com fome'. Alguns ajudam, tem a fila das quentinhas [centros POP], mas é pouco. Piorou e muito e eu nem sei direito o que é o corona”, revelou de forma desconcertante.

O que aconteceu com os 13 moradores em situação de rua contaminados com a Covid-19?
Segundo as Sempre, sete usuários foram para o Hospital de Campanha, os demais foram transferidos para o Aspec Roma (unidade de acolhimento responsável por assistidos sintomáticos). 

Ainda de acordo com a pasta, as equipes do Consultório na Rua também realizam monitoramento de saúde nas unidades para detectar os moradores em situação de rua com Covid-19, em Salvador.

Defensoria pública pede atenção aos moradores em situação de rua durante atual pandemia 

Em março, a Defensoria Pública da Bahia solicitou informações à secretaria da Segurança Pública da Bahia e à Polícia Militar sobre plano emergencial de proteção deste público.

Já no caso da rede de atenção psicossocial de Salvador, a Defensoria recomendou o fornecimento de material adequado para trabalho nesses locais, além da emissão, em caráter de urgência, de um protocolo de atendimento para estes profissionais que trabalham com a polução nesse perfil.

Nas recomendações o órgão, além do envio do material adequado para os profissionais da rede de atenção psicossocial municipal, foi indicada a atenção para a quantidade de usuários que deverão permanecer dentro dos serviços, além da adoção de um protocolo de higienização e de prevenção

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