Coronavírus

Governadores não seguem comitês científicos e optam por ações brandas

Laura Molinari USP
No Nordeste, o neurocientista Miguel Nicolelis deixou a coordenação do comitê científico do Consórcio da região nesta semana  |   Bnews - Divulgação Laura Molinari USP

Publicado em 25/02/2021, às 12h26   Redação BNews



No começo da pandemia do novo coronavírus, em 2020, governadores do Sul ao Norte criaram comitês formados por médicos e cientistas para orientar as ações de combate à pandemia. Num contraponto ao discurso anticiência do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), os governadores sempre citaram os conselhos desses especialistas como exemplo de que eles se pautavam pela ciência.

Ocorre que agora, no início do segundo ano em pandemia, a impopularidade das medidas restritivas e o aprofundamento da crise econômica começaram a pesar mais na hora de os governadores tomarem as decisões. Os comitês científicos, por sua vez, passaram a recomendar ações mais severas para impedir a proliferação do vírus num momento em que o número de óbitos, infecções e internações hospitalares chegam ao mesmo patamar da fase crítica do ano passado em alguns lugares do país.

Restrições

Nesta quarta-feira (24), o governador  João Doria anunciou o que chamou de “toque de restrição” para vetar aglomerações de “grande porte” das 23 às 5 horas da manhã no estado – ele frisou que não se trata de “lockdown” nem de “toque de recolher”. Na prática, a medida não muda muita coisa, pois o Plano São Paulo já prevê a restrição de funcionamento de bares e restaurantes a partir das 22 horas – segundo o discurso oficial, o foco é combater mais reuniões clandestinas com dezenas de pessoas. O anúncio foi uma forma de dar alguma satisfação às demandas do comitê formado no Palácio dos Bandeirantes para o combate da Covid-19. Alguns membros desse grupo, especialmente médicos e cientistas, eram a favor de medidas mais radicais de circulação de pessoas, mas foram votos vencidos nos debates que antecederam a nova determinação.

As divergências internas também ocorreram em outros estados. No Rio Grande do Sul, o comitê científico recomendou ao governador Eduardo Leite (PSDB) que suspendesse o sistema de cogestão, que permite que os prefeitos não sigam o sistema de bandeiras definido pelo estado. Exemplo: uma cidade enquadrada na bandeira preta (a mais restritiva) poderia adotar as medidas mais brandas previstas na bandeira vermelha. Pressionado pelos prefeitos e setores do comércio e serviços, Leite não seguiu essa orientação do comitê. Em contrapartida, ele anunciou, na última segunda-feira, 22, a restrição de circulação de pessoas e atividades a partir das 20 horas.

Coordenação do comitê científico

No Nordeste, o neurocientista Miguel Nicolelis deixou a coordenação do comitê científico do Consórcio da região nesta semana, conforme informações publicadas pelo jornal Folha de S. Paulo. Ele teria ficado contrariado pelo fato de os governos estaduais terem ignorado a recomendação de necessidade de lockdown em algumas localidades. Nas redes sociais, o médico se mostra um ferrenho defensor de medidas mais severas para conter a proliferação do vírus. “A equação brasileira é a seguinte: Ou o país entra num lockdown nacional imediatamente, ou não daremos conta de enterrar os nossos mortos em 2021”, escreveu ele em postagens feitas em janeiro e fevereiro.

Leia mais em:

Miguel Nicolelis deixa comitê científico do Nordeste após insatisfação com governos

Classificação Indicativa: Livre

FacebookTwitterWhatsApp