Médico rechaça pressão de pacientes para prescrever medicações sem eficácia contra Covid-19: "Precisamos seguir a ciência"

Mesmo sem possuir eficácia comprovada para tratamento da Covid-19, o chamado 'kit Covid', que contém medicações como cloroquina e ivermectina, tem sido usado por muitos pacientes, o que tem acarretado em reações adversas como a hepatite medicamentosa. Apesar disso, de acordo com médico infectologista do Instituto Couto Maia, Tiago Lôbo, existe uma pressão muito grande de familiares de infectados que cobram a prescrição para uso dos remédios. Em entrevista ao apresentador José Eduardo, na rádio Metrópole, nesta quinta-feira (25), o profissional chamou a atenção para o aumento do número de pessoas que têm buscado por atendimento devido aos danos causados pela utilização dos medicamentos.

“Ontem atendi uma paciente que está com hepatite medicamentosa pelo uso da ivermectina. Estão usando doses muito altas, fora do uso habitual e com isso estamos vendo um processo de piora nos quadros relacionado aos casos de uso dessa medicação pelo efeito adverso dela. Assim como também já vi intoxicação pelo uso de vitamina D e arritmias por conta da cloroquina. A gente tem que seguir a ciência que diz que nesse momento não temos respaldo para uso de ivermectina, cloroquina ou nenhum outro remédio para tratar o vírus", disse. 

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O uso das medicações sem eficácia comprovada é publicamente defendido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como uma alternativa de “tratamento precoce” da Covid-19, o que segundo o médico, contribui para o crescimento de pacientes que fazem o uso incorreto delas.

“Existe uma pressão muito grande para que se prescreva alguma coisa. E a gente ainda tem o presidente que coloca que cloroquina serve que ivermectina serve [...], porém ele não é cientista, não é da área de saúde, não é médico [...] A gente tem que ouvir quem entende e quem trabalha com isso de perto [...] Eu converso com o paciente. Explico que não tem benefício, que não vou colocá-lo diante de uma situação que pode prejudicar e ser maléfico pra ele. Esse tem sido o dia a dia da classe médica, afirmou.

Nesta quarta (24), o professor da USP e diretor da Divisão de Pneumologia do InCor (Instituto do Coração), o dr. Carlos Roberto Ribeiro de Carvalho, foi escolhido pelo novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, para coordenar  um grupo sobre protocolos de combate à Covid-19. 

Carlos Carvalho é um dos maiores críticos do uso da cloroquina no tratamento de pacientes com Covid-19. Em abril de 2020, Carvalho chegou a comparar a eficácia da cloroquina no tratamento de Covid-19 à da Novalgina, ou seja, nenhuma.