Justiça

Falta de estrutura atrasa sentenças nos Juizados Especiais

Imagem Falta de estrutura atrasa sentenças nos Juizados Especiais
Unidades do judiciário baiano foram criados para julgar processos em até 75 dias, mas espera pode chegar a 12 anos  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 20/04/2012, às 11h05   A Tarde



Criados em 1995 com o objetivo de facilitar o acesso à justiça pelo cidadão, os Juizados Especiais Cíveis e Criminais – antigos tribunais de Pequenas Causas – podem ser considerados hoje as tartarugas do judiciário baiano. Na teoria, deveriam julgar processos de pequenas complexidades em um prazo médio de 75 dias entre conciliação, a audiência de instrução e o julgamento. No entanto, a realidade é outra. Em Salvador e no interior do Estado os cidadãos podem esperar mais de dez anos para a sentença de um processo.

Diversos fatores corroboram com o atraso no andamento dos casos, como a quantidade aquém do necessário de juízes e servidores, poucos juízes e o aumento surpreendente de processos. De 2008 e 2011, o número de ações – que deram entrada nestes juizados aumentou 1.376%, passando de 11.551 para 170,596, conforme dados do Tribunal de Justiça da Bahia. Somente este ano, até o dia 17 deste mês, já foram 62.684 mil processos abertos, número maior do que o registrado em todo o ano de 2009. Apesar dos números, não houve melhorias para acompanhar a demanda.



A capital baiana, por exemplo, conta apenas com 26 juízes para atuar nos 13 juizados – três criminais e 10 cíveis. No interior a situação não é diferente: há 69 juizados (43 cíveis e 26 criminais), com cerca de um juiz por turno. Em entrevista ao A Tarde, o presidente  da Comissão de Defesa do Consumidor da OAB-BA, Rodrigo Martins explica que a criação de novos juizados estagnou. “Temos um número de juizados que é praticamente o mesmo de 10 anos atrás. As pessoas tomaram mais consciência dos seus direitos, passaram a buscar mais justiça, e a estrutura não mudou”.

Depois de 12 anos de idas e vindas a um juizado, a secretária-executiva aposentada Eliane Oliveira venceu uma ação na justiça, em fevereiro deste ano, contra um colégio já extinto em Salvador. Eu devia umas mensalidades, e dei cheques para o ano inteiro de um parente como garantia. Assim que pude, dei notas promissórias e pedi os cheques de volta, mas já era tarde. O colégio os utilizou para negociar com funcionários. Acabei ficando endividada duas vezes, disse ao A Tarde. Eliana pensou em desistir do processo nos primeiros anos. “Mudei várias vezes de advogado. Eles me diziam que não tinha mais o que fazer. Este ano, eles (os réus) me ofereceram R$ 10 mil, muito menos do que deveria receber. Mas aceitei para não perder mais tempo”, conta.

Para o presidente da Associação dos Magistrados do Estado da Bahia (Amab), Nartir Dantas Weber, é necessário a imediata realização de concurso para servidores dos juizados. A falta de servidores é absurda. A criação de cargos dentro de suas lotações originais. Isso criou um grande problema para o magistratura”, afirma.

A assessoria de comunicação do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) informa que ainda não há projetos que visem aumentar o número de juizados, juízes e servidores que atuam nesses órgãos por causa do orçamento estourado. O TJ reconhece o déficit no quadro de funcionários, mas lembra que na capital baiana existe, para colaborar, a central de queixas e cinco SAJs (Serviço de Atendimento Judiciário). No estado são 14.

Ainda conforme o Tj, 84% dos processos abertos dos juizados são resolvidos em tempo hábil. A informação vai contra a de especialistas da área, que afirmam que entre 20% e 40% são resolvidos anualmente no tempo regular.


Informações: A Tarde

Foto: Gilberto Júnior // Bocão News

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