Justiça

Como assim? Chefe do Exército foi comunicado previamente de participação de Pazuello em ato com Bolsonaro

Fernando Frazão/Agência Brasil
Pazuello participou de uma motociata ao lado de Bolsonaro no Rio de Janeiro  |   Bnews - Divulgação Fernando Frazão/Agência Brasil

Publicado em 24/02/2023, às 20h19   Cadastrado por Lorena Abreu


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A participação do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello em um ato com o então presidente Jair Bolsonaro, em maio de 2021, foi previamente comunicada ao comandante da Força da época, general Paulo Sérgio Nogueira. Pazuello é alvo de processo disciplinar por infringir as regras do Exército. A informação consta no procedimento interno aberto pelo Exército, que havia ganhado sigilo de 100 anos na administração Bolsonaro, mas foi divulgado nesta sexta-feria por determinação da Controladoria-Geral da União (CGU).

Na ocasião, o ex-ministro participou de uma motociata ao lado de Bolsonaro no Rio de Janeiro. Depois, os dois discursaram em cima de um carro de som. Na época, Pazuello era general da ativa do Exército. O processo disciplinar foi aberto porque militares da ativa não podem se manifestar politicamente. O ex-ministro, contudo, não recebeu qualquer punição e, no ano passado, foi eleito deputado federal com a segunda maior votação no estado.

De acordo com O Globo, em sua defesa no processo, só agora revelado, Pazuello afirma que informou "por telefone no sábado que iria ao passeio no domingo, a convite do presidente". O general disse ainda ter aceitado participar do evento devido aos "laços de respeito e camaradagem" que tem com Bolsonaro.

A participação em motociatas com apoiadores se tornou uma marca da campanha eleitoral de Bolsonaro, que não conseguiu se reeleger ao Palácio do Planalto, mas ajudou o PL, seu partido, a eleger a maior bancada da Câmara neste ano, incluindo Pazuello.

No documento, o então comandante do Exército confirma ter recebido a comunicação prévia, embora não cite se houve ou não uma autorização formal para a participação do ex-ministro no ato. "Insta saliente, inicialmente, que o oficial-general em tela efetivamente comunicou a este comandante que se deslocaria à cidade do Rio de Janeiro, a fim de participar do passeio motociclístico, a convite do senhor Presidente da República", escreveu.

Nogueira afirmou ainda considerar que a participação de Pazuello no ato de Bolsonaro não teve "viés político-partidário", porque ele falou de "forma improvisada" e apenas "cumprimentou os presentes e enalteceu o passeio" realizado, ao justificar o arquivamento do processo. Pouco tempo depois, Nogueira deixou o comando do Exército para ser ministro da Defesa de Bolsonaro.

"Da análise acurada dos fatos, bem como das alegações do referido oficial-general, depreende-se, de forma peremptória, não haver viés político-partidiário nas palavras proferidas, repisa-se, de improviso, pelo arrolado, naquele momento", afirmou Nogueira na manifestação que arquivou o processo.

Na defesa apresentada, Pazuello afirmou que não tinha conhecimento de que haveria um carro de som no local e que também foi "surpreendido" pelo pedido de Bolsonaro para que ele discursasse.

"Cabe ressaltar que não tinha conhecimento prévio que haveria carro de som para os agradecimentos do presidente da República, tampouco tinha a intenção de me pronunciar no evento. Acrescento que fui surpreendido quando o presidente me chamou para ficar ao seu lado na lateral do caminhão. Fiquei mais surpreso, ainda, quando o presidente passou às minhas mãos o microfone para que me dirigisse ao público", escreveu.

Em relato da sua presença no local do passeio de moto, o ex-ministro tenta minimizar sua participação e afirma que optou por não ficar ao lado da comitiva de Bolsonaro e que, ao fim do trajeto, estacionou sua moto "afastada da multidão".

Pazuello conta, no entanto, que "em questão de minutos" foi reconhecido pelos presentes, apesar de estar utilizando máscara. "Fui assediado por dezenas de pessoas, o que causou alvoroço e empurra-empurra". Por isso, segundo ele, "o melhor lugar para ficar", com o "menor risco" para ele e as pessoas, "seria a área reservada onde estava a comitiva".

De novo, segundo ele, foi reconhecido "por um grande número de pessoas que também estavam na área reservada". Neste momento, ele foi convidado pelo ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, "por orientação do presidente", para subir no caminhão.

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