Justiça

Conversas mostram que Dallagnol estava preocupado com acordo de leniência bilionário da J&F

Lula Marques/ Agência Brasil
“Concordo que a leniência tem que ser alta, mas não dá para fechar valores antes dos EUA, sob pena de passar vergonha histórica"  |   Bnews - Divulgação Lula Marques/ Agência Brasil

Publicado em 29/03/2024, às 15h52   Cadastrada por Letícia Rastelly


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O ex-procurador e ex-deputado Deltan Dallagnol teria sugerido à J&F fazer o acordo de leniência, que posteriormente acabou sendo firmado junto ao Ministério Público Federal (MPF). Na época, Dallagnol era coordenador da força-tarefa da Lava-Jato.

A informação, divulgada pela coluna de Bela Megale, em O Globo, seria proveniente de conversas encontradas em um grupo de Telegram, duas semanas antes do acordo ser fechado. Os trechos foram obtidos a partir de um ataque hacker e consta nos autos da Operação Greenfield.

Ainda segundo a coluna, foi quando a colaboração premiada de Joesley Batista veio à tona, que o então procurador do MPF se mostrou preocupado com a J&F negociar acordo de leniência simultaneamente com o Brasil e os Estados Unidos.

“Concordo que a leniência tem que ser alta, mas não dá para fechar valores antes dos EUA, sob pena de passar vergonha histórica. Porque fecha aqui por 6 e depois os EUA fecham em 60 e ficamos com cara de trouxa”, disse Dallagnol. Quem concordou com ele foi o procurador Andrey Borges Mendonça, que prestava auxílio à Operação Greenfield: “Eu também achei arriscado. Mas só pensei nisso agora (risos)”.

A análise de Dallagnol ocorreu após Mendonça afirmar que seria importante impor condições à J&F: “Estão desesperados. Se não fecharem o acordo, acho que quebram. O tempo está contra eles”. A partir daí, o acordo passou a ter uma cláusula que vetava a empresa de “pactuar multas e ressarcimentos em valores superiores ao mencionado no caput desta cláusula sob pena de rescisão do presente Acordo, ou de seu necessário aditamento”.

Desse modo, a J&F passou a dever US$ 128 milhões de multa aos americanos, sendo que no Brasil o valor foi de R$ 10,3 bilhões. Entretanto, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli suspendeu temporariamente a multa brasileira, afirmando que “há no mínimo dúvida razoável sobre o requisito da voluntariedade da requerente ao firmar o acordo de leniência com o Ministério Público que lhe impôs obrigações patrimoniais, o que justifica, por ora, a paralisação dos pagamentos”.

O jornal procurou Mendonça, que disse que “não se recorda das mensagens nem do contexto desse diálogo e, portanto, não se pronunciará”. Já Dallagnol, afirmou que “nunca reconheceu e não reconhece a autenticidade das mensagens obtidas criminosamente por hackers”.

No entanto, se for verdade, o ex-procurador afirma que “não retrata nenhum crime ou ilegalidade, mas sim uma preocupação legítima dos procuradores de que a empresa J&F não celebrasse um acordo nos Estados Unidos maior do que o que seria celebrado aqui no Brasil, o que demonstra que os procuradores buscavam garantir que a sociedade brasileira fosse a maior beneficiada pela devolução de valores pela empresa, que confessou ter corrompido centenas de agentes públicos e pago subornos em troca de benefícios ilegais”.

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