Justiça

Ex-secretário do governo Wagner já recebeu condenação da Justiça; PCdoB reage

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Emilson Piau, ex-secretário de Relações Institucionais do governo Wagner, foi exonerado na semana passada de um cargo na Fundac  |   Bnews - Divulgação Reprodução/Blog do Anderson

Publicado em 03/03/2023, às 08h58 - Atualizado em 17/03/2023, às 17h17   Yuri Abreu


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Exonerado na semana passada do cargo de Assessor Especial que ocupava na Fundação da Criança e do Adolescente (Fundac), Emilson Piau - cotado para assumir um posto na Superintendência dos Desportos do Estado da Bahia (Sudesb) - já foi condenado pela Justiça por cometer um grave crime há alguns anos.

Ele, que já atuou como secretário estadual de Relações Institucionais no governo Jaques Wagner (PT), teria cometido crime de racismo, no ano de 2015, contra a servidora do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), Maisa Flores, além de outros quatro membros do órgão estadual.

Em entrevista ao BNews, Maisa informou que conheceu Emilson Piau em 20 de janeiro daquele ano, quando estava em reunião da Coordenação dos Conselhos Gestores de Unidades de Conservação.

"Ele estava passando pelo corredor em frente a sala da Diretoria Geral do Inema. Ele me avistou, caminhou e entrou na sala. Eu o cumprimentei e apresentei ele à equipe dizendo que ele era um colega da Serin. Eu perguntei onde ele estava lotado e ele respondeu na Coordenação de Políticas para Povos Indígenas da Secretaria de Justiça. Em seguida, fez a mesma pergunta para mim. Eu respondi que estava na Coordenação de Interação Social", relatou Maisa.

Após a resposta dela, Emilson Piau teria mudado de comportamento. "Ele mudou o tom de voz e disse, grosseiramente, que Interação Social do Meio Ambiente não é para negros e sim para brancos", teria dito o então titular da Serin, que prosseguiu: "É isto mesmo Interação Social do Meio Ambiente não é para negros. Na Europa é tudo de concreto com avenidas e prédios. Aqui vocês querem natas e árvores". Em seguida, ele saiu da sala.

Em choque, Maisa recebeu a sugestão, por parte de um colega, para fazer um Boletim de Ocorrência contra Emilson, o que foi feito no dia seguinte. Antes, um fato chamou a atenção dela: em uma reunião na Secretaria do Meio Ambiente, foi solicitado que a servidora deixasse o cargo que ocupava e fizesse a transição, durante duas semanas, para o novo ocupante. O fato foi relatado por ela à equipe de trabalho.

"No outro dia, nós fizemos  denúncia na Ouvidoria do Inema, na Ouvidoria Geral do Estado. A chefia de gabinete chamou a equipe toda perguntando se Piau praticou crime de racismo (...) Aproveitei a oportunidade para avisar que eu estava exoneração e nem devia estar trabalhando. Mas, os membros da minha equipe não trabalhariam no outro dia porque iríamos tomar as providências necessárias. Fomos ainda no Centro de Referência Nelson Mandela da Sepromi [Secretaria De Promoção Da Igualdade], na Polinter, na 12ª Delegacia para registrar o crime de racismo, no MPE [no Ministério Público da Bahia] e na DPE [Defensoria Pública da Bahia]", afirmou Maisa.

Após a denúncia ser acatada na Justiça, a sentença só foi sair apenas no dia 28 de junho de 2021. Na oportunidade, o juiz Antônio Silva Pereira, condenou Piau a 1 ano e 4 meses de detenção em regime aberto, além de multa. A prisão, entretanto, não teria ocorrido, pois o mesmo magistrado acabou substituindo a pena por outra restritiva de direitos. Contudo, Maisa só foi ter ciência da decisão no último dia 27 de fevereiro, segunda-feira de Carnaval.

"Eu estou desempregada até  hoje. O que mais nos preocupa é que o Juiz condenou Piau por injúria racial, quando o crime cometido foi de racismo. A Justiça desconsiderou a Constituição. Emilson Piau deveria estar preso pagando  pelo crime que cometeu. Saber que ele estava há 8 anos na Fundac, trabalhando com menores infratores que necessitam de apoio para  recuperação, é ainda mais absurdo", desabafa.

"Pior é ser chefe de gabinete na Sudesb depois de quase 2 anos de condenação. A sentença saiu em junho de 2021 e a Justiça só nos informou na segunda-feira de carnaval, em fevereiro de 2023", acrescentou Maisa Flores, que fez um apelo ao governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT).

"Agora temos um governador que se autodeclara indígena. Ele vai permitir que um condenado de injúria racial seja cargo de confiança no governo dele?", questiona.

Procurado, o PCdoB - partido o qual Emilson Piau é filiado - se manifestou, através do seu presidente estadual, Davidson Magalhães, que é secretário estadual de Trabalho, Emprego e Renda do governo Jerônimo Rodrigues. O dirigente saiu em defesa do correligionário, afirmando que ele não tem histórico de posição racista e conhece Piau há mais de 30 anos, ainda na época da militância. Ele disse que ainda que o ex-Serin tem um histórico marcado pelo comprometimento pela luta contra a discriminação, sendo um militante antigo e destacado.

"Não tínhamos informação sobre esse episódio [do racismo]. Não vou entrar no mérito do episódio.  Tem muitas versões e há uma decisão judicial. Ele pagou por esse episódio. Podemos cometer um erro e pagar por ele", afirmou o comunista.

Davidson ainda estranhou o fato de a ação ter vindo à tona há tão pouco tempo. "É muita coincidência. Ele não tem uma trajetória e histórico de posição racista. Sempre foi combatente quando tínhamos mais dificuldades, da época da ditadura para cá. Existem interesses oportunistas, Levantados agora. Na política não tem coincidências", disse.

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