Cultura
No Brasil e, especialmente, na Bahia, festas populares, religiosas e profanas se misturam no início do ano para celebrar as conquistas das estações passadas e marcar ritos em busca de proteção para o ano vigente. Dentre as datas mais importantes, destaca-se o 2 de Fevereiro, ou melhor, Dia de Iemanjá, considerado por baianos e turistas de todo o mundo o evento mais importante da capital baiana, depois do Carnaval e da Lavagem do Senhor do Bonfim.
O 2 de Fevereiro movimenta não somente o inconsciente populacional, em função de seu apelo profundamente religioso, mas também os mais diversos segmentos do Estado, em especial de Salvador.
O turismo, a economia, o setor de serviços, a hotelaria, gastronomia, cultural, enfim, o comércio em geral esperam, ansiosamente, por esta data ao lado de representantes de várias religiões, evidenciando o sincretismo próprio do Brasil, da Bahia, região onde tudo ganha uma dimensão maior, com profusão de sentimentos e manifestações públicas.
E quando se trata de 2 de Fevereiro , tributos, celebrações, rituais, tudo se concentra na capital baiana, no mundialmente famoso mar do bairro do Rio Vermelho, local cantado em verso e prosa por vários artistas, entre os quais se destacam o cantor e radialista baiano de Ilhéus, Osvaldo Fahel, com a criação melódica ‘Morena do Rio Vermelho’, de 1962, e também o consagrado compositor e cantor Milton Nascimento que, em 1969, lançou a música intitulada ‘ Rio Vermelho’, em homenagem singular ao ponto de encontro mais boêmio da primeira capital do Brasil. É aí que acontece a majestosa Festa de Iemanjá, que, inclusive já foi televisionada, em tempo real, para emissoras de todo o mundo ao longo dos anos.
História – Como tudo começou
A data celebra Iemanjá, entidade que leva várias alcunhas: rainha do mar, padroeira dos pescadores, mãe das águas e senhora dos oceanos. Mas como tudo começou? Veremos aqui.
Segundo o historiador Ubaldo Marques Porto Filho (in memorian), a celebração à beira mar teve início em 1924, através da idealização e organização da colônia de pescadores da praia do Rio Vermelho. Mas há controvérsias, pois outros especialistas afirmam que as homenagens começaram um ano antes, em 1923, substituindo a Festa de Sant'Ana, comemoração religiosa tradicional do início do século XIX.
Ainda sobre a celebração, no dia 2 de Fevereiro, devotos rendem homenagens com presentes lançados ao mar em barquinhos confeccionados artesanalmente e vendidos para a ocasião. Conforme explica o Santuário Nacional da Umbanda, antigamente, esses barquinhos de madeira continham perfumes, rosas, sabonetes e espelhos e quando essas oferendas tocavam a beira da praia, transformavam-se nos brinquedos favoritos dos filhos dos pescadores.
Vale ressaltar que, apesar de o bairro do Rio Vermelho ser o foco tradicional da festa, ela já alcançou uma tamanha dimensão a ponto de, nesta data, serem vistos vários devotos, em diferentes praias soteropolitanas e de outros estados, fazendo suas homenagens em forma de oferendas marítimas.
Ao longo dos anos, as ofertas jogadas para iemanjá podem ser vistas dentro não somente de barquinhos de madeira, mas também de caixas de isopor e ainda há aqueles que, preocupados coma s questões ecológicas, ambientais, preferem apenas ofertar à Rainha das águas, rosas brancas, perfume sem o frasco e champanhe sem a garrafa.
Impacto – Fé e comoção
Pedro Conceição, de 63 anos, é pescador e herdou a fé e tradição de participar ativamente da comemoração do ‘2 de Fevereiro’ de seu pai, avô e tios, também pescadores. Ele conta que, todos os anos, organiza junto com a Colônia de Pescadores do rio Vermelho como acontecerão as homenagens. É o primeiro a chegar com a família, colegas e amigos no local da celebração e só sai final do dia, com a sensação de dever cumprido e proteção renovada através das bênçãos de Iemanjá.
“A comoção, todos os anos, é grande. Eu me emociono, choro e lembro de quando acompanhava meu pai e tios, já falecidos. Esta é uma das heranças culturais que meus antepassados me deixaram e estou deixando este legado para meus filhos”, relata o pescador com voz embargada.
Pedro tem três filhos, dois homens e uma mulher, ninguém seguiu sua profissão, são todos formados, mas a festa de Iemanjá é sagrada para eles. Todos participam da celebração em família.
A professora carioca Azelina Dias, de 48 anos, é católica e vem para Salvador todos os anos comemorar a data. “Para mim, não é a mesma coisa fazer as oferendas para Iemanjá em outro mar que não seja o do Rio Vermelho, em Salvador. Por isso, eu em programo para chegar dois dias antes, pelo menos, e ir embora após a festa, depois do meu ritual, que faço há mais de 15 anos. Tenho família aqui, apesar de ter nascido e morar no Rio de Janeiro”, diz a devota fervorosa, que atribui muitos desejos alcançados aos pedidos feitos à divindade.
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