Cultura

Cordel sobre a quarentena foi a última obra divulgada pelo próprio Moraes

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Nos seus últimos dias de vida, o cantor e compositor cumpria o isolamento social "tocando e escrevendo sem parar", como ele próprio descreveu  |   Bnews - Divulgação Divulgação

Publicado em 13/04/2020, às 13h42   Léo Sousa


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Um cordel sobre a quarentena foi a última obra de Moraes Moreira publicada por ele próprio. O cantor e compositor baiano de 72 anos faleceu no início desta segunda-feira (13) enquanto dormia em sua casa, no Rio de Janeiro, onde morava há anos.

Nas semanas que antecederam a sua morte, Moraes cumpria o isolamento social por causa do coronavírus "tocando e escrevendo sem parar", entre a sua casa e o escritório, que ficam próximos, no bairro da Gávea, como ele próprio descreveu em publicação nas redes.

Na madrugada do último dia 17, "nasceu", em suas palavras, aquela que pode ter sido a sua última contribuição para a nossa cultura: um cordel intitulado "Quarentena". 

Na letra, Moraes fala do medo do coronavírus, "mas também do retrocesso, que por aí escondido", além de passar por questões sociais como machismo, misoginia e violência policial.

Leia:

Oi pessoal estou aqui na Gávea entre minha casa e escritório que ficam próximos,cumprindo minha quarentena,tocando e escrevendo sem parar. Este Cordel nasceu na madrugada do dia 17, envio para apreciação de vocês .Boa sorte Quarentena (Moraes Moreira) Eu temo o coronavirus E zelo por minha vida Mas tenho medo de tiros Também de bala perdida, A nossa fé é vacina O professor que me ensina Será minha própria lida Assombra-me a pandemia Que agora domina o mundo Mas tenho uma garantia Não sou nenhum vagabundo, Porque todo cidadão Merece mas atenção O sentimento é profundo Eu não queria essa praga Que não é mais do Egito Não quero que ela traga O mal que sempre eu evito, Os males não são eternos Pois os recursos modernos Estão aí, acredito De quem será esse lucro Ou mesmo a teoria? Detesto falar de estrupo Eu gosto é de poesia, Mas creio na consciência E digo não a todo dia Eu tenho medo do excesso Que seja em qualquer sentido Mas também do retrocesso Que por aí escondido, As vezes é o que notamos Passar o que já passamos Jamais será esquecido Até aceito a polícia Mas quando muda de letra E se transforma em milícia Odeio essa mutreta, Pra combater o que alarma Só tenho mesmo uma arma Que é a minha caneta Com tanta coisa inda cismo.... Estão na ordem do dia Eu digo não ao machismo Também a misoginia, Tem outros que eu não aceito É o tal do preconceito E as sombras da hipocrisia As coisas já forem postas Mas prevalecem os relés Queremos sim ter respostas Sobre as nossas Marielles, Em meio a um mundo efêmero Não é só questão de gênero Nem de homens ou mulheres O que vale é o ser humano E sua dignidade Vivemos num mundo insano Queremos mais liberdade, Pra que tudo isso mude Certeza, ninguém se ilude Não tem tempo,nem.idade

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