Cultura

Revista revela 'segredos' de Jorge Amado

Imagem Revista revela 'segredos' de Jorge Amado
Reportagem inclui romance abandonado na página 80 e alfinetada em Carlos Drummond de Andrade  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 08/12/2013, às 12h30   Redação Bocão News (Twitter: @bocaonews)


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A revista Época publicou hoje uma reportagem com o que chama de 'segredos de Jorge Amado'. A reportagem traz relatos da época em que o escritor era um militante comunista, na década de 40, e trechos de textos inéditos.

Num desses relatos, a revista conta que no final de 1947, Jorge Amado chegou em casa depois de um dia de trabalho, desabotoou o paletó, afrouxou a gravata, retirou um revólver da cintura e colocou-o em cima da mesa. Ele era deputado federal pelo Partido Comunista, e sua mulher, Zélia Gattai, tomou um susto ao ver a arma. Jorge, que sempre fora um pacifista, disse que as discussões estavam quentes na Câmara, e o Comitê Central determinara que todos os deputados do partido andassem armados para se proteger.

Jorge obedeceu – mas carregava seu revólver sem balas. O caso revela a disciplina com que ele seguia as diretrizes do Partido Comunista, comportamento que interferiu em sua ficção durante 25 anos de militância.



Preso três vezes desempenhando funções importantes na cúpula do partido, Jorge escreveu livros de pura propaganda ideológica. Já maduro, ele não gostava de falar do assunto. Se afastou  do partido, não permitiu a reedição de livros da época e fez o que pôde para que esse período de sua trajetória fosse esquecido.

A revista também fala de uma 'alfinetada que o escritor teria dado no poeta Carlos Drummond de Andrade. No poema “Epigrama do poeta modernista”, Drummond é caracterizado como o poeta que “anda de graça no auto do ministério”, enquanto o povo passa fome na rua.

Drummond não é citado nominalmente, mas era o único poeta da época que andava em carro oficial. Ele era na ocasião chefe de gabinete do ministro da Educação e Saúde do governo Vargas, Gustavo Capanema. O poema surpreende porque Jorge não costumava criticar abertamente os escritores que de alguma forma estavam envolvidos com o Estado Novo. 
Colocando todos os poetas nacionais num mesmo pacote, afirmava que esses “fazedores de versos”, descrentes do povo, “se caparam, engordaram e, bonitinhos e efeminados, traem toda a grande tradição da poesia brasileira”.

Em um romance inédito, militante demais para aquele momento mais amistoso com o governo, narra a história de um grupo de jovens comunistas às vésperas de um levante. Eles se reúnem num sítio, e a trajetória de cada personagem é contada em perspectiva, mostrando suas paixões e questionamentos diante de uma possível morte na luta armada. Embora a ação central seja um golpe comunista, a narrativa se concentra principalmente no drama afetivo dos militantes, sem tratá-los como heróis. Um deles tem um romance com a mulher de um companheiro preso, outro quer apenas que seu nome saia nos jornais, um terceiro se acovarda e prefere ficar na cama na hora da luta. O romance foi abandonado com 80 páginas e um enredo já bastante consolidado.

Classificação Indicativa: Livre

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