Cultura

Crítica: ‘Se Eu Fosse Luísa Sonza” expõe vaidade e saúde mental da cantora ao estilo Clarice Lispector

Divulgação/Netflix
Documentário sobre Luísa Sonza estreou na Netflix nesta quarta-feira (13)  |   Bnews - Divulgação Divulgação/Netflix

Publicado em 13/12/2023, às 17h23   Marco Dias


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“Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro”. A frase, de Clarice Lispector, representa bem a carreira de Luísa Sonza, contada sob a ótica da artista no documentário “Se Eu Fosse Luísa Sonza”, lançado nesta quarta-feira (13) na Netflix

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Alternando entre passado e presente, o documentário em três episódios expõe a vida pessoal de Luísa Sonza, registrando momentos do relacionamento com Whindersson Nunes e o início da carreira solo da cantora. 

Em um trecho, a artista aparece como Clarice Lispector, em uma cena do seu lyric vídeo para a música “Penhasco”, parte do álbum “Doce 22”, inspirada na última entrevista concedida pela escritora antes de sua morte. 

A referência à Clarice representa uma tentativa de vender a imagem de pessoa “durona”, que transforma a dor da vida pessoal em inspiração para a arte. O tom é de sofrimento, mas até que ponto devemos ter piedade? 

É fato que a cantora sofreu após o término do seu relacionamento com Whindersson Nunes, bastante explorado pela série. Foi chamada de interesseira ao se juntar com o humorista e, após se separar, virou “puta”, supostamente aproveitando dos holofotes para alavancar a carreira. Sofreu ameaças, teve que sair do país e viu sua família ser vítima de ofensas nas redes sociais. 

Mas o documentário mostra que Luísa Sonza tem voz. Nos primeiros minutos do primeiro episódio do documentário, a cantora pergunta se “está bonita”e pede para se ver nas câmeras. Ela transforma a própria imagem em algo relevante e, apesar das críticas, bate de frente com os ‘haters’, ainda que isso custe a sua saúde mental. 

“Porque, quando deposito na música, o sofrimento não é em vão, vira uma letra”, diz a cantora, que transformou as mensagens ofensivas em versos da música “Interesseira”. As semelhanças com Clarice, porém, param por aqui. 

O documentário não mostra as decisões da carreira, do ponto de vista criativo, em depoimentos da cantora, mas sim de membros de sua equipe, expondo uma Luísa Sonza passiva, como se fosse coadjuvante de sua própria vida. 

Os episódios tentam abordar todos os assuntos relacionados à vida pessoal da artista. No primeiro, vemos o início de sua carreira e seu relacionamento com Whindersson Nunes que, de acordo com ambos, acabou por falta de amor - e de influências externas.

“Se o povo não tivesse infernizado tanto a nossa vida, a gente estaria junto até hoje. Mas entendo que foi importante a gente seguir caminhos diferentes. A gente estava em momentos de carreira e pensamento muito diferentes”, revela Sonza. 

No segundo episódio, o documentário pincela momentos do relacionamento da cantora com Vitão, o início de sua carreira solo, a parceria com Marília Mendonça, a produção do disco “Doce 22” e mostra um breve depoimento sobre o caso de racismo que enfrentou em 2018.

O terceiro episódio mostra os bastidores do lançamento de seu novo álbum, “Escândalo Íntimo” e, ainda que rapidamente, menciona o relacionamento com Chico Moedas. Na verdade, tudo no documentário é rápido, afinal de contas, Luísa só tem 25 anos. 

Em meio ao Rivotril e energéticos, de um relacionamento pra outro, com a constante exposição na mídia, Luísa tem palco para responder e se posicionar, mas o documentário da Netflix torna a história da cantora uma sucessão de superficialidades. Tudo é muito rápido, igual a um tweet. 

Se o intuito era provocar a piedade do público, a sensação que fica é que conhecemos uma artista feita para a mídia. 

Se Eu Fosse Luísa Sonza peca em dar voz à própria protagonista, que mais parece uma coadjuvante da própria vida, sendo vítima das consequências da exposição midiática que procurou, como um verdadeiro ouroboro. 

Ficha Técnica 

Se Eu Fosse Luísa Sonza 

Série Documental em 3 episódios

Distribuição: Netflix 

Ano de lançamento: 2023

Direção: Isabel Nascimento Silva 

Classificação Indicativa: Livre

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