Cultura

Entenda a importância cultural e a resistência que as tranças representam em Salvador

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Trancistas falam sobre a importância cultural das tranças para Salvador  |   Bnews - Divulgação Reprodução / Instagram @emy.sillva / Instagram @clari_asabi
Natane Ramos

por Natane Ramos

Publicado em 08/05/2023, às 05h30


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As tranças são representações artísticas da cultura de um povo. Em Salvador, as tranças representam o marco de lutas e resistência para pessoas pretas, que sofriam e sofrem injúria racial devido às texturas e formatos de seus cabelos.

O professor, historiador, e ex-coordenador do turismo cultural religioso e histórico da Bahia, Rafael Dantas, reforça essas questões de luta enfrentadas por pessoas pretas devido aos seus cabelos e trançados.

“Esses trançados, esses desenhos típicos em cada um desses penteados, é uma forma de perpetuar as heranças culturais entre diversos povos africanos, na Bahia especialmente. É uma resistência, ainda mais quando a gente lembra que durante muito tempo os padrões de beleza tentaram, e ainda tentam, impor aquilo que é considerado como aceito e não aceito nos padrões. E quando a gente lembra que muitas dessas tranças refletem essas heranças culturais que formaram a sociedade brasileira, a gente tem um traço de resistência muito forte que tem que ser ressaltado”, refletiu Rafael.

Em entrevista ao BNews, as trancistas Emilly Silva e Clarisse Nascimento, proprietárias da Isé Ori, - empresa voltada à autoestima através da ancestralidade presente nas tranças - compartilharam a presença das tranças como manifestação cultural em Salvador.

“As tranças hoje em dia estão ainda mais fortes nas nossas vidas, principalmente, aqui em Salvador, vejo muitos empreendedores trabalhando com tranças e elevando ainda mais a nossa cultura e mostrando a nossa beleza e importância que é as tranças, no geral. É uma forma de reafirmação e empoderamento e não deixar perecer a riqueza deixada por nossos ancestrais”, destacaram as trancistas.

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As trancistas debatem como as tranças representam não somente um penteado, mas um movimento de resistência de um povo que há muito tempo foi oprimido, e um resgate da ancestralidade. “Cada trança ou dreads que fazemos já é um ato de resistência, quando os clientes saem do nosso ateliê e é visto pelo público já é uma forma de protesto. As tranças são revolucionárias”, declararam.

Segundo Emilly e Clarisse, o ato de trançar representa não somente uma fonte de renda, mas também uma forma de transmitir o legado de pessoas pretas. “É uma forma que nós pessoas pretas temos de reconhecer o legado que nos foi passado e o ato de trançar é uma forma de fazer com que essa riqueza passe de geração por geração”, informaram.

Falando sobre a desvalorização presente no mercado de economia criativa voltada para o ato de trançar, Emily e Clarisse destacam como o racismo estrutural acaba contribuindo para isso.

“Existe a desvalorização por conta do racismo estrutural, onde fizeram lavagem cerebral na gente, fazendo a gente esquecer de valorizar nossa riqueza cultural e ancestral. As pessoas não dão valor, e dessa forma as pessoas pretas passaram a acreditar que a nossa cultura em geral não era importante”, comentaram.

Elas dizem ainda, as tranças são uma forma de atingir um público com um discurso de visibilidade, luta e autoestima de pessoas pretas, mostrando como o trançar está enraizado na cultura de Salvador, a qual é a cidade mais negra fora da África.

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