Rodoviária nega usar pega-tudo para matar pombos

Publicado em 23/03/2013, às 08h01 Terena Cardoso (Twitter: @terena_cardoso)

Uma denúncia no mínimo cruel assombra a empresa Sociedade Nacional de Apoio Rodoviário e

Turístico(Sinart), que administra a rodoviária de Salvador. Por email, o denunciante que preferiu não se identificar, diz que a empresa estaria utilizando pega-tudo para matar os pombos que ficam na região. Para quem não sabe, pega-tudo é um adesivo com cola potente utilizado para pegar ratos.

A reportagem entrou em contato com a Sinart na manhã desta sexta-feira (22) e o gerente operacional, Adevaldo Santos, garantiu que a denúncia não é verdadeira. “Isso é muito estranho. Estamos pagando uma empresa chamada Hawk Service para espantar esses animais. É um serviço de falcoaria onde o próprio predador ‘pega’ os pombos. Gastamos quase R$ 30 mil com essa empresa e não tem porque fazer esse tipo de coisa”, diz o gerente, que alega ter documentos comprobatórios do serviço. “Tenho relatório fotográfico que a empresa passa pra gente, tenho o contrato aqui... Essa denúncia é estranha. Fizemos o contrato com essa empresa no dia 14 de novembro de 2012 e atualmente a população de pombos aqui é bem inferior. Posso lhe garantir que esse tipo de atitude não acontece aqui”, assegura.

Ainda que não haja qualquer evidência de maus tratos a esses animais na rodoviária, o assunto traz à tona um problema real da capital baiana no que diz respeito a população de pombos que são transmissores de doenças como a Criptococose, que pode até matar. Incusive, o assunto já vem sendo discutido na Câmara de Salvador.

Pombos domésticos

A vereadora Ana Rita Tavares (PV), que levantou a bandeira de proteção ao animal durante sua campanha em 2012, atenta para os motivos que levam ao crescimento do número desses animais “A população gosta das aves e alimenta elas, são pombos domésticos. Mas há uma informação técnica que conhecemos através de um especialista de Salvador, que existe uma grande quantidade de locais onde tem comida e restos de alimentos que os pombos comem. Isso faz com que eles se reproduzam em quantidade maior”, afirma.
Vale lembrar, que essas aves têm quatro gestações por ano e em cada uma até duas crias podem nascer. “A quantidade é muito grande, mas há como controlar dando a eles rações com anticoncepcionais, não precisa matar. Usar pega-tudo é crime previsto no artigo 32 da Lei 9.605, de crimes ambientais”, revela a vereadora, lembrando a denúncia envolvendo a Sinart.

Ana Rita, que é da Comissão de Educação e Saúde da Câmara municipal prometeu levar a denúncia para a pauta e deve investigar o caso. “Se eles estiverem mesmo fazendo isso, então, é um crime. Eu vou apurar e formalizar uma representação junto ao Ministério Púbico, na Promotoria do Meio Ambiente, porque não pode haver esse tipo de crime, principalmente partindo de uma empresa”, diz a vereadora que também pensa em uma campanha educativa para a população “Agora, existe uma parte educativa que é necessário senão você pune e a pessoa continua fazendo? Não processa a consciência. Além de fazer ações nas escolas, temos que deflagrar a campanha. Já tem algum tempo que estamos amadurecendo essa questão de educar a população com relação aos pombos na cidade”, conta.

Outro vereador que abraça a causa é Marcell Moraes, também do PV. Através de sua assessoria de imprensa, o ambientalista diz que essa não é a primeira vez que recebe denúncias envolvendo crimes contra pombos e que considera isso uma denúncia gravíssima. “Ele já acionou a equipe do gabinete para apurar e investigar minuciosamente esse caso e uma grupo de ambientalistas e veterinários vão ao local para checar a situação. O vereador considera que ninguém tem o livre arbítrio de praticar esse tipo de crime, por mais que essas pessoas aleguem transtornos para o ambiente. Elas devem antes acionar o Centro de Zoonoses que tem um núcleo específico para dar conta dessas aves”. A assessoria diz ainda que a Ong Grupo Ecológico Amigos da Onça (GEAMO), presidida por Marcell Moraes, também está a disposição para a apuração da denúncia.

Adoção

O veterinário Pedro Lima, especialista em aves silvestres, tem um projeto o qual ele considera a solução

para reduzir a população de pombos em Salvador: adoção. “Tem gente que gosta de criar esses animais, como cria galinha, porco etc. A ideia é pegar esses pombos e doar para quem gosta desses animais e diminuir a população deles em Salvador. Não tem que sacrificar”, explica.

Para Pedro, o projeto pode ser executado da mesma forma que acontece com cães e gatos de rua. “Deve ser feita uma campanha de doações de pombos para quem gosta de criá-los. Eles devem ser medicados, vermifugados e depois controlados. Porque quanto mais a população põe comida para eles, mais eles vão se reproduzir”, diz.

Assim como a vereadora Ana Rita Tavares, o vereador cita também as rações com anticoncepcionais, que podem controlar a natalidade dos bichos, mas não resolve o problema com rapidez. “Na Europa o pessoal faz muito isso, mas esse é um projeto de longo prazo. Temos uma quantidade muito grande de pombos, principalmente no centro da cidade. Temos muita comida e muito abrigo para a reprodução deles. Então, capturar e doar os pombos seria ideal”, acredita.

O veterinário ainda não protocolou o projeto em nenhum órgão e diz que precisa amadurecer detalhes para levá-lo adiante.

Nota originalmente postada às 12h do dia 22

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