Denúncia

Oposição denuncia abandono da sede de Mata de São João

Imagem Oposição denuncia abandono da sede de Mata de São João
PMDB da cidade mostrou em Bocão News contrastes entre orla exuberante e sede carente de estrutura e serviços  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 04/06/2013, às 09h20   Lucas Esteves (Twitter: @lucasesteves)


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Muitos baianos, brasileiros e estrangeiros escolhem os paradisíacos destinos do Litoral Norte para passar seus períodos de descanso. Entre eles, Praia do Forte, Imbassahy e o Complexo de Sauípe são alguns dos mais procurados e, coincidentemente, estão localizados no município e Mata de São João. A suntuosidade e frequência destes balneários, entretanto, contrasta com a situação vivida pela sede da cidade.
Em uma visita de dois dias a Mata de São João, o Bocão News pôde constatar que, ao contrário da orla da cidade, a sede tem grandes problemas estruturais . Por conta destas falhas, os cidadãos matenses têm sofrido, excluídos pela política dos dois últimos mandatos da prefeitura da cidade e da atual administração. Ao escolher privilegiar os investimentos na orla, a gestão municipal obrigou a sede a pagar um preço que se revela bastante caro.
A denúncia de abandono da região foi feita pelo núcleo oposicionista na Câmara de Vereadores da cidade. Entre os 13 edis, apenas Élcio Ramayana e Paulo Bolinha, ambos do PMDB, fazem frente ao prefeito Marcelo Oliveira (PP), sucessor de João Gualberto (PSDB), atualmente pré-candidato ao Governo do Estado dos tucanos. De acordo com os vereadores, a propaganda que a prefeitura faz não mostra a realidade da cidade e que o povo pede ajuda para mudar a história da sede.
Ramayana alega que há tantas irregularidades na cidade, em especial na gestão municipal, que em breve o Ministério Público Estadual será inundado de denúncias documentadas e com base em testemunhos de moradores e visitas in loco. Segundo ele, o prazo para tal deverá ser o final deste mês. O peemedebista, que e filho de dois ex-prefeitos de Mata de São João (Ramayana Tapioca e Márcia Dias), afirma que os colegas na Câmara de Vereadores já estão se movimentando para barrar as denúncias, uma vez que até mesmo eles estão envolvidos nas irregularidades.
“Aqui em Mata é como se a Câmara fosse uma secretaria da Prefeitura. Qualquer projeto que é enviado para votação passa direto, sem nenhuma discussão. Isso pode prejudicar a população, porque ninguém nem lê os projetos e não sabe o que tem dentro dele. Por isso, quando anunciei que faria as denúncias, os vereadores ficaram em polvorosa e com certeza vão fazer de tudo para derrubar requerimentos. Mas não vou desistir”, analisou.
A situação pode ser facilmente constatada usando como exemplo as ruas de acesso ao Centro da sede de Mata de São João. Asfalto regular apenas nas principais vias, que ligam bairros e a região da Prefeitura e Câmara. Basta, porém, iniciar exploração nas ruas adjacentes para que acessos destruídos, lamaçais profundos e grandes crateras surjam. Em muitos momentos, há ruas do Centro que se assemelham a acessos típicos dos distritos mais pobres nas mais carentes cidades da Região Metropolitana.
“Na campanha, lá no ano passado, o prefeito prometeu que, se fosse eleito, asfaltaria toda a rua Heitor Vicente Viana e as adjacentes. Mas até hoje, nada, como nem ele nem o ex-prefeito fizeram”, reclama o caseiro Manuel Paulino de Souza, morador do distrito de Amado Bahia, e conhecido como “Baixinho”. O caseiro revela uma reclamação recorrente na população da cidade, que é obrigada a fazer um verdadeiro caminho de Indiana Jones para chegar em casa em toda sede do município. Quem vai de carro corre o risco de destruir o veículo.
A dificuldade de acesso acontece tanto em relação a bairros antigos como também em aglomerados de casas financiados pelo Governo Federal no programa Minha Casa, Minha Vida. Entre as casas, o lamaçal é frequente e crianças ficam à mercê de doenças convivendo no local com cachorros, bois, vacas e cavalos, que pastam e defecam ao ar livre sem nenhum controle. A quantidade de animais soltos na cidade é tanta que até mesmo em frente à prefeitura há exemplo. Em um dos dias da visita, cavalos pastavam em um canteiro em frente ao local.
Devido à dificuldade generalizada de locomoção, ônibus escolares e ambulâncias não entram em na maioria das localidades da sede e dos distritos próximos. Na Rua do Cotovelo, em Amado Bahia, os moradores já estão acostumados a andar bastante até alcançarem a via principal do povoado. “O prefeito prometeu na campanha trazer asfalto até aqui. Não trouxe até agora. Não acredito mais que traga. Ninguém trouxe, por que ele traria?”, lamentou o pedreiro Raimundo dos Santos, mais um que seguia a pé no local.
Saneamento – O mau capeamento da cidade – a maioria da sede está coberta de paralelepípedos, inteiros ou ausentes – ajuda também a revelar um problema recente. Na última gestão, o então prefeito João Gualberto fez uma grande obra de saneamento básico que comprometeu parte das ruas e não teve a restauração adequada, mas apenas cobrindo os grandes buracos deixados pela construção. Entretanto, a intervenção não teve o resultado esperado.
De acordo com a Embasa, as manilhas utilizadas nas obras não eram as corretas e, por causa disso, grande parte da rede está inútil porque não tem condições técnicas de funcionar. Para que o problema seja consertado, a empresa de saneamento argumentou que teria de ser gasto mais dinheiro do que o que já foi dispendido na obra original. Enquanto isto, boa parte do distrito não tem esgotamento sanitário.
Já quem tem não teve todo o problema resolvido. Na região do Centro, a prefeitura construiu uma estação de tratamento que foi batizada pela população de “penicão”. Motivo: nos dias de maior despejo de dejetos, não há possibilidade de tratamento total e o cheiro se torna insuportável. A estação está localizada a mais ou menos 100 metros de uma grande quantidade de casas na Rua da Paz. 
Os trabalhadores e moradores que circulam pelo local garantem que não há nenhuma espécie de tratamento do esgoto no local e que periodicamente os dejetos são despejados no Rio Jacuípe exatamente como chegaram. Assim, ocorre a liberação de um líquido fétido de cor esverdeada diretamente nas águas e contribuindo com a poluição do ecossistema. “Até agora nunca vi tratamento nenhum. A não ser que resolvam começar de amanhã em diante”, disse um vigia que não se identificou.
Procurado pela reportagem durante a visita e posteriormente por contato telefônico, o prefeito de Mata de São João, Marcelo Oliveira (PP), não foi localizado para falar sobre as denúncias da oposição na cidade.
Na próxima matéria sobre a dificuldade de viver na sede de Mata de São João, o Bocão News mostrará os problemas de quem precisa da saúde pública e, eventualmente, dos serviços funerários municipais. Atualmente, tem sido difícil até mesmo morrer na sede da cidade.

Nota originalmente postada às 16h do dia 3

Classificação Indicativa: Livre

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