Direto de Brasília

PT fecha questão contra Temer, mas oposição ainda não sabe qual estratégia usar

Publicado em 01/08/2017, às 20h51   Luiz Fernando Lima


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A bancada do PT na Câmara dos Deputados fechou questão sobre votar contra o presidente Michel Temer (PMDB). Até o final do dia não havia, no entanto, consenso sobre qual a melhor tática durante a sessão de votação, que ocorre nesta quarta-feira (2). Os partidos de oposição, como o Psol e o PCdoB, defendem que não seja dado quórum e que a tropa de Michel Temer se vire para conseguir as 342 presenças necessárias para que seja iniciado o processo de votação.

Até o fechamento desta matéria, não havia decisão tomada e as reuniões continuavam com a promessa de terminar na alta madrugada.

Um movimento intrigante para muitos petistas e aliados do partido foi adotado pela base do governador da Bahia, Rui Costa (PT). Ao retirar Davidson Magalhães (PCdoB) e Robinson Almeida (PT) das cadeiras e trazer de volta os titulares Fernando Torres (PSD) e Josias Gomes (PT), Rui deixou claro que prefere Temer sangrando a Rodrigo Maia com a caneta cheia de tinta.

O cenário ideal para o PT baiano e nacional seria com as massas nas ruas e a aprovação da proposta de emenda à constituição que convocasse eleições diretas antecipadas. Como esta possibilidade não é provável, Rui não quer deixar um dos mais próximos aliados do prefeito ACM Neto (DEM) assumir a presidência da República.

Na Bahia, os governistas se deparam com um cenário constatado em pesquisas para consumo interno na qual a gestão de Rui é muito bem avaliada. Por outro lado, o prefeito da capital baiana tem um desempenho de intenção de votos que chega ao dobro na maior parte do estado e em alguns rincões o triplo.

Com este contexto, apoiar Rodrigo Maia indiretamente – é esta a resultante do afastamento de Temer – poderia ser um tiro saindo pela culatra. Dar ainda mais capacidade para Neto negociar em nome da Bahia pode iniciar um processo irreversível de derrocada do projeto petista no estado.

A já desgastada expressão popular de “se correr o bicho pega e se ficar o bicho come” é luva no momento atual. Para ficar nos jargões – mal empregados – é inevitável citar o “trocar seis por meia dúzia” usualmente empregado por figuras como Jaques Wagner e o próprio Rui Costa nos últimos dias, mas entre um Temer desgastado e um Maia do DEM há diferenças sentidas, expressadas e arriscadas para a turma que habita o Palácio de Ondina há 11 anos.

A oposição a Temer que espera ter fatos novos durante o recesso não foi contemplada. Não houve mudança radical de cenário desfavorecendo o presidente denunciado. Não houve tempo ou articulações necessárias para construir uma narrativa alternativa e – voltando aos jargões – a sinuca de bico permaneceu.

Rui Costa opta pelo pragmatismo político. Deixa aliados de primeira hora no campo da esquerda boquiabertos, mas conta com a aliança dos partidos de centro que são os mais fortes em voto de espectro político. O PSD de Otto Alencar e o PP de João Leão estão com Temer e não se constrangem com as circunstâncias adversas dos petistas.

Ao contrário, estes grupos colocam um sorriso discreto ao verem petistas tendo que se expor em busca de manter o protagonismo político. As bases do PT, acostumadas a vaiar quadros destes partidos da aliança em eventos públicos, terão que digerir a decisão cética que a política do dia a dia impõe.

Nesta quarta-feira (2), há grandes chances de o processo ser votado na Câmara. É proporcional à possibilidade de petistas da Bahia marcarem presença para votar contra Temer  ou se abster. Para o peemedebista tanto faz, pois a oposição não terá, nesta primeira denúncia, 342 votos.

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