Economia & Mercado

Ações de Petrobras, bancos e Vale perdem investidores pessoas físicas

Imagem Ações de Petrobras, bancos e Vale perdem investidores pessoas físicas
Pelas estatísticas da CVM, três companhias de telefonia lideram em número de investidores  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 12/11/2012, às 08h19   Redação Bocão News (Twitter: @bocaonews)


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Passados três anos de crise na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), empresas como Petrobras, Vale e bancos seguem com a maior base de pequenos investidores do país, com mais de 100 mil pessoas físicas com dinheiro aplicado em suas ações. Levantamento do GLOBO com base nas 100 empresas mais negociadas na Bolsa mostra, no entanto, que essas gigantes do mercado — as chamadas blue chips — estão perdendo lentamente seu espaço para companhias de menor porte, de setores com maior potencial de crescimento ou que remuneram melhor seus acionistas em tempo de queda de juros, as chamadas boas pagadoras de dividendos (lucros distribuídos aos acionistas). Num ambiente de aversão ao risco e baixa rentabilidade das ações, 13 das 20 empresas que têm a maior quantidade de pessoas físicas no país perderam milhares de pequenos investidores nos últimos três anos.
O administrador Leandro Vichy foi um dos que repensaram suas ações. Quando começou a investir em 2010, antes da crise, ele montou uma carteira com ações da Petrobras e companhias siderúrgicas.
— Entrei na Petrobras porque era a maior empresa do Brasil. Eram quase diárias nos jornais as novidades sobre o pré-sal, que seria um salto para a empresa. Mas a situação foi ficando nebulosa. Os investimentos no pré-sal são altos. Teve o prejuízo neste ano. E eu preferi ficar de fora — explica o investidor.
Como ele, mais seis mil pequenos investidores se desfizeram de ações da Petrobras no período. O universo de pessoas físicas caiu para 320.057 em 2012, segundo dados arquivados pela empresa na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e que não consideram cotistas de fundos de investimentos. Essa queda só não foi maior porque a empresa realizou sua megacapitalização — a maior da História — em outubro de 2010 e atraiu 104 mil pessoas físicas.

Leandro vendeu ações da estatal de petróleo e das siderúrgicas para buscar alternativas em empresas que considera mais sólidas, como a fabricante de cigarros Souza Cruz e de carrocerias Marcopolo. Outros investidores fizeram movimento semelhante. A Souza Cruz viu sua base de pessoas físicas crescer 23% desde 2010, para 1,2 mil investidores neste ano. E Marcopolo em 30%, para 6,6 mil pessoas físicas.
— Eu costumo mudar a carteira uma vez por mês ou a cada três meses. Espero os balanços saírem, a reação do mercado. Mas na minha família tem gente que tirou dinheiro e que diz que o momento não é de Bolsa — acrescenta.
Plano de expansão distorce telefônicas
Pelas estatísticas da CVM, três companhias de telefonia lideram em número de investidores pessoas físicas: Telefônica Brasil (1,8 milhão), Oi (1,7 milhão) e TIM (1,3 milhão). Os números, porém, são distorcidos pelos planos de expansão do setor, pelo qual as pessoas recebiam, de 1975 e 1995, ações das empresas ao comprar uma linha telefônica. Muitos sequer sabem que são donos dos papéis ou estão cadastrados na Bolsa. Prova disso é que existem atualmente 572 mil CPFs cadastrados na Bolsa.
Segundo especialistas, as empresas com o maior número de pessoas físicas, são, portanto Banco do Brasil (355 mil), Petrobras (320 mil) Bradesco (287 mil), Santander Brasil (178 mil) e Vale (154 mil). Todas, contudo, apresentando saldo negativo entre entradas e saídas de pequenos investidores de sua base desde 2010.
O empresário Hércules Almeida, por exemplo, passou a aplicar em renda variável há seis meses, insatisfeito com o retorno da renda fixa. E ingressou na Bolsa com escolhas diferentes do que outros investidores fizeram no passado.
— Eu até tenho Petrobras e Vale, mas elas têm o menor peso na minha carteira de ações. Petrobras está até muito barata, mas não adianta ter uma ação barata que não se valoriza — diz Hercules, que é aluno da Trader Brasil Escola de Investidores e aposta agora no setor de construção. — É um setor que o governo brasileiro tem buscado incentivar. E os preços dos imóveis continuam se valorizando bastante.
Empresas de construção estão entre as que mais receberam investidores pessoas físicas nos últimos anos. Na PDG Realty, o incremento foi de 1.711 em 2010 para 17.809 em 2012, número influenciado pela série de fusões e aquisições que formaram a companhia. Gafisa também viu sua base de pessoas físicas crescer de 15.770 investidores para 21.030 no mesmo período.
Segundo Fábio Gallo, professor da Fundação Getulio Vargas, como tem enfrentando muita instabilidade no mercado de ações, o investidor fica perdido. Em meio ao turbilhão, afirma, ninguém sabe para onde correr.
— Depois da desvalorização de 18% da Bolsa em 2011, o investidor, ainda sem entender o que aconteceu, chega em 2012 ouvindo que, com a queda dos juros, tem que aplicar em renda variável para melhorar seus ganhos. Então ele tenta diversificar para reduzir riscos, mas será que diversifica com qualidade? — questiona.
Após mais de dois anos em queda, Gallo encontra na memória da população a explicação para Petrobras ainda estar tão bem no ranking de empresas com mais investidores pessoas físicas.
— A marca Petrobras ainda vem forte na memória da massa de investidores, que não vê ameaça na interferência do governo na gestão da empresa — afirma.
Flávio Lemos, diretor da Trader Brasil Escola de Investidores, porém, tem visão oposta. Para ele, as empresas que têm uma parte do controle nas mãos do setor público e sofreram intervenções foram as que mais perderam acionistas.
— Os números mostram que o investidor não foi bobo de ficar com as ações de empresas usadas para política pública de controle de inflação como, por exemplo, a Petrobras e Eletrobras — explicou o diretor da Trader Brasil.
Para Alvaro Bandeira, da Órama Investimentos, as estatísticas não mostram um padrão de comportamento. Ele vê razões específicas de cada empresa para a atração dos investidores:
— O que é possível perceber são razões específicas de cada empresa ter perdido mais ou menos investidores. Há empresas que apresentaram bons resultados na operação, como Lojas Renner. Outras ficaram baratas e investidores entraram —avalia.
Fonte: O Globo

Classificação Indicativa: Livre

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