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BNews ESG: Empresas transformam reflorestamento em modelo de negócio promissor

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Demanda por créditos de carbono no mundo pode crescer 15 vezes ou mais até 2030, e até 100 vezes até 2050  |   Bnews - Divulgação Reprodução/Freepik

Publicado em 17/07/2023, às 19h45   Cadastrado por Rafael Abbehusen


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O grupo Votorantim, multinacional com atuação em setores como cimento, mineração, energia e muito mais, modificou uma área que detinha na Mata Atlântica, há cerca de 12 anos, transformando o local em uma reserva florestal chamada 'Legado das Águas', no Vale do Ribeira, em São Paulo. Na época, parecia ser apenas mais um custo, porém a ação compreendia a preservação de 31 mil hectares, área equivalente à de Belo Horizonte, e se tornou um bom negócio.

Integrada a outra reserva em Niquelândia, Goiás, a Legado Verdes do Cerrado permitiu a criação da empresa Reservas Votorantim, que agora estrutura um projeto-piloto de reflorestamento de 3 mil hectares para a geração de créditos de carbono.

"Nós nos preparamos para isso, sabendo que o momento chegaria. Demorou um pouquinho, mas o momento chegou", disse o diretor-executivo da Reservas Votorantim, David Canassa. "As promessas feitas no Acordo de Paris, de 2015, estão acontecendo agora. O mercado de conservação vem ganhando impulso e tem grande tendência de desenvolvimento", finalizou.

Em busca de limitar o aquecimento global, empresas do mundo inteiro tem divulgado, nos últimos anos, diversas metas a fim de zerar as emissões líquidas de carbono em suas operações. O mercado de carbono tem se tornado o carro-chefe deste desenvolvimento do reflorestamento como um negócio.

Porém, há também outras formas de explorar o potencial de receitas para manter a floresta de pé, seja provendo compensação ambiental, como forma de empresas cumprirem o Código Florestal, seja contribuindo para cadeias de negócios locais e para o turismo.

A demanda por créditos de carbono no mundo pode crescer 15 vezes ou mais até 2030, e até 100 vezes até 2050, afirma a consultoria McKinsey. Com isso, passaria de uma movimentação de US$ 1 bilhão em 2021 para US$ 50 bilhões em 2030. O Brasil concentra 15% do potencial global de captura de carbono por meios naturais, a forma mais simples e econômica de se fazer isso.

A Votorantim não é o único grande grupo do mundo empresarial brasileiro a entrar no negócio do reflorestamento. Um outro exemplo é o da startup re.green, fundada em 2021, que atraiu em sua segunda rodada de investimentos, no ano passado, capital de R$ 389 milhões. Grande parte deste recurso veio do BW, escritório de investimentos da família Moreira Salles, da Gávea Investimentos, do ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga, e das gestoras de recursos Lanx Capital e Dynamo. Neste ano, Guilherme Leal, da Natura, se juntou a eles.

Dessa forma, o seu conselho de administração é dos mais estrelados, com Arminio, João Moreira Salles e Fábio Barbosa, CEO da Natura&Co. O objetivo da empresa é restaurar 1 milhão de hectares da Mata Atlântica e da Amazônia, uma área do tamanho de Sergipe.

Para se ter ideia do tamanho do desafio, o compromisso climático feito pelo Brasil em 2015 previa reflorestar 12 milhões de hectares até 2030, como forma de cortar em 43% as emissões de gases-estufa relativas aos níveis de 2005.

Mais uma que ajuda no cumprimento das metasé a Biomas, que tem investimento de R$ 20 milhões de cada grupo associado, envolvendo Vale, Suzano, Marfrig, Rabobank, Itaú Unibanco e Santander, para reflorestar 2 milhões de hectares. E mais a Mombak, criada por um ex-diretor financeiro do Nubank, Gabriel Haddad Silva, e um ex-CEO da 99, Peter Fernandez, que estruturaram um fundo que busca levantar R$ 520 milhões para reflorestamento.

Além desses todos, o BTG Pactual garantiu US$ 230 milhões numa rodada de investimentos no ano passado para o seu tradicional fundo americano Timberland Investment Group (TIG), que tem quatro décadas de atuação e agora tem meta de US$ 1 bilhão para reflorestamento na América Latina. Em abril, a Casa Branca anunciou que trabalha na liberação de empréstimo de US$ 50 milhões para essa empreitada do TIG. Logo no mês seguinte, o BTG anunciou a compra de participação minoritária na Systemica, empresa que estrutura, desenvolve e implementa projetos de redução de emissão de gases efeito estufa, além de comercialização dos ativos ambientais gerados.

Essas são diversas boas ações que, cada vez mais, se caracterizam como negócios de alto potencial, não só de retorno monetário mas também de preservação do meio ambiente. O estudo da McKinsey, realizado em setembro do ano passado, revelou que o Brasil ainda gera menos de 1% da sua capacidade anual de créditos de carbono. E isso ainda acontece principalmente por conta de projetos de conservação e de geração de energia a partir de resíduos. Dessa forma, a atividade de reflorestamento abrirá todo um novo espaço de expansão e de geração de receita.

Cerca de 80% do potencial brasileiro está na restauração florestal, que são projetos geradores do que são considerados créditos de alta qualidade, por terem benefícios associados como de recuperação da biodiversidade e de impacto social para comunidades locais.

"Projetos que realmente são sustentáveis e positivos podem receber preços maiores para seus créditos", diz o executivo-chefe de investimento de impacto do BTG Timberland Investment Group, Mark Wishnie.

Segundo a McKinsey, das 80 principais empresas atuando no país, 77% já haviam publicado alguma meta de redução de emissões, até o ano passado. À medida que mais empresas entram em ação para cumprir as suas promessas o mercado de crédito de carbono voluntário se acelera.

"Muitos executivos têm hoje remuneração financeira por bônus atrelada a emissões de gás carbônico. Isso muda toda a motivação para eles se engajarem em combater a mudança climática", afirma o alemão Heiko Spitzeck, professor de sustentabilidade da Fundação Dom Cabral.

Com a demanda global crescente, o preço do crédito de carbono tende a aumentar bastante se a oferta não conseguir acompanhar a tendência na mesma velocidade. Segundo Spitzeck, isso pode estimular até o agronegócio a atuar com a integração entre lavoura, pecuária e floresta, já que os três negócios podem passar a trazerem rendimentos comparáveis.

Apesar de todo o potencial que o Brasil tem, o território também enfrenta grandes desafios, sendo um deles, por exemplo, a dificuldade de regularização fundiária em certas regiões, como na Amazônia. É preciso muito cuidado para garantir que a propriedade não será contestada ou que o vendedor da área assumiu a região de forma legal.

"Trabalhamos de forma muito cautelosa, sempre com a assessoria jurídica acompanhando tudo", diz a diretora de relações institucionais da re.green, Mariana Barbosa. "Pretendemos trabalhar com três modelos de acesso a imóveis, a compra, na qual avançamos muito, a parceria e outra que está surgindo, a de concessões florestais", finalizou.

A empresa já comprou área da Mata Atlântica, no Sul da Bahia, rica em biodiversidade, e outra amazônica, no Sul do Pará. "Em breve, teremos mais duas ou três áreas", afirma.

Além disso, a grande biodiversidade do Brasil, apesar de consistir num grande trunfo, também traz uma dificuldade de operação. "O Brasil é um dos países mais biodiversos do planeta. Quando se fala em construir floresta nativa, num hectare de terra, precisamos ter, às vezes, mais de 100 espécies diferentes. É muito diferente de florestas de eucalipto e pinus da Europa e EUA", diz Canassa, da Reservas Votorantim.

"Apesar disso, eu desafio a minha equipe a termos o mesmo índice de perdas de pinus e eucalipto, de menos de 1%. No Brasil, é muito comum perdas de 20% a 30%. Isso mostra a falta de protocolos de plantio e não faz sentido econômico".

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