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Em três anos, dívida de companhias aéreas mais que dobra e bate R$ 45 bi

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Antes da pandemia, as companhias aéreas Gol e Azul tinham um patrimônio líquido negativo de R $10,6 bilhões  |   Bnews - Divulgação Reprodução / Facebook Azul Linhas Aéreas

Publicado em 28/03/2023, às 15h49   Cadastrado por Mariana De Siervi


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Uma das maiores crises sanitárias da história, a pandemia de covid-19, fez 95% das demandas aéreas desaparecerem, resultando em momentos críticos para as companhias. Mesmo com a normalização do segmento, o impacto da pandemia nessas empresas gerou um patrimônio líquido negativo quatro vezes maior, chegando a 40 bilhões de reais, segundo pesquisa do Valor Data.

As companhias aéreas Gol e Azul, em 2019 antes da pandemia do Covid-19 , tinham um patrimônio líquido negativo de R $10,6 bilhões. Já a dívida financeira líquida, na mesma época, era de R $19,7 bilhões, para R $45,4 bilhões. A Latam, vive uma situação diferente de suas concorrentes, tendo um patrimônio líquido positivo de US$ 30 milhões em dezembro de 2022, reduzindo sua dívida , após enfrentar uma recuperação judicial. Azul e Gol estão renegociando seus compromissos agora com os credores.

De curto prazo, o cenário é desfavorável para o setor, com dólar caro e petróleo bastante inconstante. O dado positivo é a demanda, que continua reagindo.

O  professor de finanças e coordenador de cursos da Fundação Instituto de Administração (FIA), falou ao Valor Econômico sobre o patrimônio líquido dessas empresas. “O patrimônio líquido das empresas é calculado pelo total de ativos menos os passivos circulante e não circulante. Em caso de o valor ficar negativo, significa que os bens e direitos da empresa não são suficientes para cobrir as obrigações da companhia", ressaltou. 

Para o setor, o cenário é desfavorável com a inconstância do dólar e petróleo, porém, a demanda de voos vem reagindo.  Além disso, o professor relatou que  a contabilização do patrimônio líquido mudou a partir de janeiro de 2019, devido a vigoração da  nova regra contábil IFRS 16. ““Basicamente houve a entrada dos contratos de arrendamento, que passaram a fazer parte dos ativos como direito de uso e nos passivos como obrigações relacionadas a direito de uso”, explicou. Antes, o pagamento do aluguel dos aviões era considerado uma despesa, como o salário de funcionários.

Essa nova regra trouxe uma distorção no patrimônio líquido das empresas brasileiras, por causa do aumento do dólar. “Muitas pessoas falam que [as oscilações] não têm efeito caixa. Sim, isso é verdade. Mas a dívida se tornou mais cara e em algum momento a empresa vai ter de pagar [caso o câmbio não mude de direção novamente]”, diz Piellusch.

Na situação da Gol, os auditores chamam atenção para a nota explicativa da própria empresa, apontando o patrimônio líquido negativo de R $21,4 bilhões e o ativo circulante superior ao passivo.

 A EY observa que “esses eventos ou condições, junto com outros assuntos descritos na nota explicativa 1.3, indicam a existência de incerteza relevante que pode levantar dúvida significativa quanto à capacidade de continuidade operacional da companhia”. A EY encerra o comentário dizendo que “nossa opinião não contém ressalvas relacionadas a esse assunto.”

A Gol divulgou para o mercado no dia 8 de março, números do quarto trimestre e do ano de 2022 sem o parecer da auditoria. Já no dia 21 enviou à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) o documento completo.

No caso da Azul, a EY também destacou o patrimônio negativo da empresa na casa de R$ 19 bilhões no parecer divulgado com os demonstrativos de resultados no início do mês. No dia 6 de março, a aérea informou que chegou a um acordo com credores que representam mais de 90% do seu passivo de arrendamento de aeronaves e 80% da sua dívida bruta, os termos e valores da negociação. Entretanto, ainda não foram divulgados. 

A Gol fechou um acordo no dia 3 de março, de investimento de R $1,4 bilhão bancado pela holding Abra (criada pelos acionistas da Gol e Avianca) e alongando os pagamentos para 2028.

Diferente do que aconteceu nos EUA e nos países europeus, o governo do Brasil não entregou auxílio financeiro ao setor aéreo durante a pandemia, que precisou buscar recursos no mercado. Mais endividadas, as aéreas tiveram que abrir conversas com os credores e renegociar suas pendências.

A Latam, mesmo com sede no Chile, tem sua maior operação no Brasil, reestruturou suas dívidas por meio de recuperação judicial- o processo durou de maio de 2020 a novembro do ano passado. 

O grupo fechou 2022 com um patrimônio líquido positivo de US$ 31 milhões. E informou que reduziu sua dívida bruta em 37,5%. “Dessa forma, foi possível adaptar seus negócios à nova realidade e liderar por dois anos consecutivos (2021 e 2022) o mercado aéreo brasileiro, segundo a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil)”, detalhou a empresa.

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