Economia & Mercado
O faturamento do setor de viagens corporativas atingiu R$ 982,2 milhões no último mês de janeiro. Esse número supera o de 2019, período pré-pandemia, o que mostra uma tendência positiva para o setor, que é movimentado a partir da realização de feiras e congressos por todo o Brasil.
Trata-se do melhor resultado em cinco anos: um aumento de 17% frente a janeiro de 2019 (R$ 835 milhões), conforme dados da Associação Brasileira de Agências de Viagens Corporativas (Abracorp).
Ainda segundo a entidade, esse número deve-se ao ótimo desempenho do segmento de passagens aéreas, que faturou R$ 632 milhões, quase 60% de todo o volume dos onze setores analisados.
Gervasio Tanabe, presidente executivo da Abracorp, falou à editoria BNews Economia & Mercado sobre a recuperação e explicou de que forma a economia interfere no setor.
“De fato, a recuperação se iniciou em 2022. Viagens corporativas são intrinsecamente ligadas ao cenário econômico. Tivemos em 2022 uma recuperação econômica e, como consequência, as empresas viajaram mais. A cadeia produtiva de viagens depende diretamente das viagens corporativas, pois não é só movimentação de passagens aéreas, hotelaria e locação. Uma centena de setores é afetada diretamente com as viagens corporativas, de táxis a restaurantes. O turismo propriamente dito ocorre como consequência de uma estabilidade econômica. As pessoas se divertem mais, porque tem mais recursos para gastar”, explicou.
“Embora o aéreo doméstico tenha apresentado queda de 22% no número de tíquetes corporativos, houve um aumento no valor na passagem de 27,8%. Por outro lado, há uma diferença muito grande entre tarifa corporativa e lazer, o que nos preocupa. As tarifas altas fazem com que as empresas revisem suas programações de viagens e o mercado corporativo é fundamental no mix de viajantes”, afirma Tanabe.
Dentro desse contexto, as viagens de negócios estão subsidiando as de lazer. Tanabe exemplifica que para uma reserva São Paulo-Rio-São Paulo, a chamada “ponte aérea”, com viagem marcada para junho, o custo seria de cerca de R$ 350,00. Se uma empresa fizer a mesma reserva para a próxima semana, o custo da passagem será entre cinco e seis vezes maior (numa pesquisa feita em 27 de março): “O corporativo está subsidiando o lazer. Isso faz algum sentido, mas a diferença assusta o viajante. Esse viajante enquanto pessoa jurídica, que se desloca para trabalhos, é o mesmo viajante pessoa física nas férias”, diz.
Os setores aéreo e de hospedagem tiveram bastante destaque em relação à recuperação da economia e foram fortemente beneficiados pelo alavancamento das viagens corporativas. Para se ter uma ideia, em janeiro deste ano o setor hoteleiro faturou R$ 248 milhões, 25% acima do registrado no mesmo período de 2019, com R$ 197 milhões. Nos serviços aéreos, o faturamento em janeiro desse ano ficou em pouco mais de R$ 632 milhões, superior aos R$ 522 milhões registrados no mesmo mês de 2019.
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“São os principais setores que se beneficiam do segmento corporativo, pois de segunda a quinta a movimentação nesses 2 setores é basicamente oriundo do viajante corporativo, especialmente entre as capitais do País”, explicou o presidente executivo.
Gervasio Tanabe, presidente executivo da Abracorp
RECUPERAÇÃO
No ano passado, as viagens corporativas já mostravam uma tendência de recuperação. Em 2022, o faturamento foi de R$ 11,204 bilhões, queda de apenas 1,62% quando comparado ao desempenho de 2019, com R$ 11,389 bilhões, antes da pandemia da Covid-19.
Em entrevista ao BNews, Gervasio Tanabe ventilou a perspectiva de que 2023 supere o ano passado, mas alertou para o fato de que muitas empresas estão pagando agora os recursos de empréstimos tomados durante a pandemia.
“Os números até agora indicam que teremos um 2023 melhor, em faturamento, do que 2022. Importante lembrar que o setor depende de mecanismos como o PERSE, uma iniciativa ocorrida durante a pandemia e que permitiu às empresas reduzirem seus impostos, o que contribuiu decisivamente para muitas empresas não fecharem suas portas. O ponto que todos se esquecem é que muitas empresas buscaram recursos de capital externo para poderem manter seus negócios operantes e agora a conta está vindo para todos eles, já que o crédito veio com um período de isenções e boa parte desses custos está entrando agora em 2023 para as empresas, pelo menos no caso das agências de viagens”, salientou.
No consolidado de 2022, conforme tendência apresentada no início de 2022, os maiores destaques em comparação com 2019 foram Locação de Veículos, que faturou 83% mais; e Rodoviário, receita 117% superior. “A expectativa é que em 2023 possamos repetir o desempenho do ano passado. A certeza é que esses itens manterão sua relevância no painel de viagens corporativas”, diz Tanabe.
SALVADOR X CENTRO DE CONVENÇÕES
Questionado sobre a participação da capital baiana nesse processo de recuperação do setor de viagens corporativas, Tanabe explicou que há uma boa perspectiva para 2023: “a rota Congonhas/Salvador teve um incremento, em fevereiro de 2023, de mais de 50% na movimentação de viajantes corporativos, de acordo com o BI Abracorp, se comparado a fevereiro de 2019, período pré-pandemia. Não é uma tendência, mas mostra que podemos ter uma boa expectativa. Dependemos muito da conectividade aérea. Isso é um dado relevante para o crescimento do destino como mercado corporativo”.
Gervasio Tanabe também falou sobre a importância de empreendimentos como o Centro de Convenções de Salvador para o desenvolvimento do setor de turismo e viagens corporativas.
“Isso é fundamental, defendemos a descentralização dos grandes eventos e a existência de equipamentos como um novo Centro de Convenções em Salvador é fator crítico de sucesso. Essa descentralização traz melhor distribuição de renda, além de forçar com que os preços reduzam um pouco diante da maior concorrência. Equipamentos em São Paulo, por exemplo, estão altamente demandados nesse retorno às atividades dos grandes eventos corporativos como feiras e convenções”, destacou em entrevista ao BNews.
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