Economia & Mercado

Novembro Negro: De 48,8 milhões de mulheres pretas, apenas 51,5% estão inseridas no mercado de trabalho

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O BNews conversou com mulheres negras que contrariam as estatísticas e fazem a diferença no exercício das suas funções  |   Bnews - Divulgação Divulgação/Redes Sociais

Publicado em 09/11/2022, às 05h50 - Atualizado às 05h50   Camila Vieira


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Mulher preta, Paloma Zahir, 32 anos, é cria do Curuzu, mãe de Duda e Cauê, candomblecista, Egbomi de Igbalé, produtora de eventos sociais e corporativos, cozinheira, pesquisadora e bacharelanda de sociologia. A paixão por empreender começou ao ver sua mãe, Eliene Lima, uma quituteira de mãos cheias, sair para comercializar suas iguarias pelas ruas do bairro onde nasceu. Com a venda dos produtos, Eliene conseguia manter a casa e custear os estudos de Paloma. Graças aos esforços da genitora, hoje, Paloma é Ìyálòdè da Zahir Produções e do Kissanga Restaurante, onde é afro-chef, ativista das cozinhas afro-brasileiras, além de fomentar o black money. A conquista desse espaço não foi nada fácil. Paloma vai na contramão das estatísticas.

Atualmente, das 48,8 milhões de mulheres pretas brasileiras em idade para trabalhar, apenas um pouco mais da metade, 51,5%, está no mercado de trabalho, seja buscando emprego ou ocupada. Os microdados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Anual (PNADC/IBGE).

“Como mulher preta e cozinheira sempre enfrentei o desafio de fazer com que as pessoas enxergassem valor no trabalho da cozinha e poder precificá-los da maneira merecida. Não foi fácil chegar até aqui e também não é fácil me manter onde conseguir chegar”, diz. Como uma negra bem-sucedida, ela diz acreditar que as pessoas pretas merecem estar em lugares de liderança, fazendo o caminho contrário da subalternidade. “Por conta disso, é importante que pessoas pretas que já estão nesses lugares, usem estratégias de aquilombamento comercial, criando oportunidades e investindo no conhecimento dos seus colaboradores. Através da minha atuação como afro-empreendedora e propagadora da cultura afro-brasileira e, especialmente, das pretas de ganho consegui espaços para trabalhar com grandes empresas e instituições”, afirma.

Os obstáculos por conta da cor da pele também sempre se fizeram presentes na vida da geofísica, empreendedora e mestranda em negócios sociais e empreendedorismo, Klicia Oliveira Wilson, 31 anos. Formada em geofísica pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), ela conta que seu maior desafio sempre foi atuar na iniciativa privada. “Ninguém na minha família tinha experiência com o trabalho no meio corporativo. Estudantes negros têm menos acesso a essas opções uma vez que eles têm menos pessoas em sua rede com experiência em cursos superiores, cargos corporativos e de liderança”, ressalta.

Geofísica, empreendedora e mestranda em negócios sociais e empreendedorismo, Klicia Oliveira Wilson

Depois de muito esforço e dedicação, Klícia conta que conseguiu encontrar a vaga que buscava como geofísica em uma multinacional. “Venci as estatísticas dos jovens negros recém-formados e consegui me formar e encontrar uma vaga adequada e equivalente ao meu curso de graduação devido à orientação de carreira que recebi formal e informalmente. Atuei por cinco anos como geofísica em multinacional no Brasil, Estados Unidos e Londres”, relata. Atualmente, desenvolve um trabalho como empreendedora social para reduzir a quantidade de jovens desempregados ou em subemprego oferecendo capital social e orientação de carreira para que consigam maximizar e atingir seu potencial no mercado de trabalho.

Para o ativista corporativo e executor de ações para empoderamento, valorização e reconhecimento de pessoas pretas, indígenas e LGBTQIA+, Gustavo Narciso, a importância de inserir em igualdade as mulheres negras vai para além de cumprir um papel de responsabilidade social. “É também um diferencial competitivo. Uma vez que uma empresa opera no Brasil, oferecendo serviços e produtos para este mercado consumidor que é majoritariamente negro e feminino, não ter pessoas com essas características é estar distante da capacidade de dialogar com proximidade com uma parcela significativa de pessoas que movem a economia do país”, afirma.

Ativista corporativo Gustavo Narciso

Tristes diferenças - Em 2019, a taxa de participação das mulheres com 15 anos ou mais de idade foi de 54,5%, enquanto entre os homens esta medida chegou a 73,7%, uma diferença de 19,2 pontos percentuais. O patamar elevado de desigualdade se manteve ao longo da série histórica e se manifestou tanto entre mulheres e homens brancos, quanto entre mulheres e homens pretos ou pardos. Em 2020, na análise combinada de sexo e cor ou raça, foram as mulheres pretas ou pardas que apresentaram maiores incidências de pobreza (31,9%) e extrema pobreza (7,5%), no Brasil.

As desigualdades históricas nos rendimentos de trabalho (desigualdades salariais) por cor ou raça e por sexo se combinam para desfavorecer em dobro as mulheres negras. Em 2018, no Brasil, o rendimento médio de trabalho delas equivalia a 44,4% do que recebiam os homens brancos (menos da metade), a 58,6% do que recebiam as mulheres brancas e a 79,1% do que recebiam em média os homens negros. O diferencial por cor ou raça é explicado por fatores como segregação ocupacional, menores oportunidades educacionais e recebimento de remunerações inferiores em ocupações semelhantes.

Classificação Indicativa: Livre

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